domingo, 27 de julho de 2008

PROGRAMAÇÃO


---------Psicanálise Vai ao Cinema



Felicidade
Happiness - 1998EUA / 134 min / Comédia / Legendado
Direção: Todd Solondz.
Elenco: Jane Adams, Jon Lovitz, Philip Seymour Hoffman, Dylan Baker.
No centro de uma família tipicamente americana, três irmãs de comportamentos distintos põem à prova valores familiares, o conceito de felicidade e discutem a sua sexualidade.

Sexta-feira (1/8) às 19h.


Cheiro do Ralo
- 2007 -Site OficialBrasil/ 16 anos / 112 min / Comédia
Direção: Heitor Dhalia
Elenco: Selton Mello, Paula Braun, Lourenço Mutarelli e Flávio Bauraqui
Lourenço é o dono de uma loja que compra objetos usados. Aos poucos ele desenvolve um jogo com seus clientes em que passa a ver as pessoas como se estivessem à venda. Incomodado com o permanente e fedorento cheiro do ralo que existe em sua loja, Lourenço vê seu mundo ruir quando é obrigado a se relacionar com uma das pessoas que julgava controlar.

O longa ganhou o Prêmio especial no júri e o de melhor ator no Festival do Rio.Haverá um debate com a participação da psicóloga e associada do CEPSC Mabel Franco Pinto.

Quinta-feira (14/8) às 18h30.
Programação Rumos Itaú Cultural – Cinema e Vídeo


Histórias de Morar e Demolições
- 2008 São Paulo / 54 min / Documentário
Direção: André Costa
Quatro famílias paulistanas estão de mudança.
Suas casas foram vendidas para um incorporador imobiliário e serão demolidas. Para fixar as histórias guardadas sob esses tetos, os moradores resolvem registrar objetos, cômodos e recantos preferidos, iniciando videografias domésticas ou contratando uma pequena empresa de vídeo.

Terça-feira (19/8) às 19h.


Eu Vou de Volta
- 2008.Pernambuco / 54 min / Documentário
Direção: Camilo Cavalcante e Cláudio Assis.
Duas viagens são realizadas simultaneamente em ônibus clandestinos: a ida de Caruaru (a maior cidade do agreste pernambucano) até São Paulo e a volta de São Paulo a Caruaru. Os fluxos e refluxos desses passageiros migrantes refletem, em suma, as movimentações da vida, as pequenas vitórias e derrotas de cada um, além da vontade de que algo aconteça e mude o que está estagnado.

Quarta-feira (20/8) às 19h.


Procura-se Janaína
- 2007. São Paulo / 54 min / Documentário
Direção: Miriam Chnaiderman.
Há crianças sem lugar no mundo. São crianças entregues a instituições e que não se desenvolvem nos padrões esperados: não são portadoras de deficiências, mas também não têm um desenvolvimento dito normal. Assim era Janaína, negra, pobre e institucionalizada na Febem dos anos 1980. Ela se debatia no berço e se machucava, ficava com a mão espalmada, não falava e não se relacionava com outras crianças. Hoje, duas décadas depois, onde estará Janaína?

Quinta-feira (21/8) às 19h.


Diário de Sintra
- 2007Rio de Janeiro / 54 min / Documentário
Direção: Paula Gaitán.
Filme composto de registros do presente e do passado, como fragmentos de filmes Super-8 e fotos realizadas em 1981, época em que Glauber Rocha se encontrava em exílio voluntário, em companhia da família, em Sintra, Portugal. A artista visual e cineasta Paula Gaitán, mulher do diretor, reúne esse material, por ela produzido, e retorna à cidade portuguesa, onde cria imagens em movimento, percepções, fluxos mentais. Sobreposição de tempos, imagens, memória afetiva. Camadas ficcionais, documentais fundidas; camadas da memória superpostas.

Sexta-feira (22/8) às 19h.


*Local: MIS - Museu da Imagem e do Som de Santa Catarina - Av. Irineu Bornhausen, 5600 - Centro Integrado de Cultura - CIC Valor: gratuito. Informações: (48) 3953-2301 ou 3247-5409.

sábado, 26 de julho de 2008


FELIZ ANIVERSÁRIO PARA A GABI, ROSA E ALLISON!!!!
PARABÉNS, MUITA SAÚDE E MUITO SUCESSO!!!!



Escolhas de uma vida
A certa altura do filme Crimes e Pecados, o personagem interpretado por Woody Allen diz: "Nós somos a soma das nossas decisões".Essa frase acomodou-se na minha massa cinzenta e de lá nunca mais saiu. Compartilho do ceticismo de Allen: a gente é o que a gente escolhe ser, o destino pouco tem a ver com isso.Desde pequenos aprendemos que, ao fazer uma opção,estamos descartando outra, e de opção em opção vamos tecendo essa teia que se convencionou chamar "minha vida". Não é tarefa fácil. No momento em que se escolhe ser médico, se está abrindo mão de ser piloto de avião. Ao optar pela vida de atriz, será quase impossível conciliar com a arquitetura. No amor, a mesma coisa: namora-se um, outro, e mais outro, num excitante vaivém de romances. Até que chega um momento em que é preciso decidir entre passar o resto da vida sem compromisso formal com alguém, apenas vivenciando amores e deixando-os ir embora quando se findam, ou casar, e através do casamento fundar uma microempresa, com direito a casa própria, orçamento doméstico e responsabilidades.As duas opções têm seus prós e contras: viver sem laços e viver com laços...Escolha: beber até cair ou virar vegetariano e budista? Todas as alternativas são válidas, mas há um preço a pagar por elas.Quem dera pudéssemos ser uma pessoa diferente a cada 6 meses, ser casados de segunda a sexta e solteiros nos finais de semana, ter filhos quando se está bem-disposto e não tê-los quando se está cansado. Por isso é tão importante o auto conhecimento. Por isso é necessário ler muito, ouvir os outros, estagiar em várias tribos, prestar atenção ao que acontece em volta e não cultivar preconceitos. Nossas escolhas não podem ser apenas intuitivas, elas têm que refletir o que a gente é. Lógico que se deve reavaliar decisões e trocar de caminho: Ninguém é o mesmo para sempre.Mas que essas mudanças de rota venham para acrescentar, e não para anular a vivência do caminho anteriormente percorrido. A estrada é longa e o tempo é curto.Não deixe de fazer nada que queira, mas tenha responsabilidade e maturidade para arcar com as conseqüências destas ações.Lembrem-se: suas escolhas têm 50% de chance de darem certo, mas também 50% de chance de darem errado. A escolha é sua...!



sexta-feira, 18 de julho de 2008

Amores silenciosos - Contardo Calligaris

26 de Junho de 2008

A gente se declara apaixonado porque está apaixonado ou pelo prazer de se apaixonar? CONTARDO CALLIGARIS na Folha

FAZER E RECEBER declarações de amor é quase sempre prazeroso. O mesmo vale, aliás, para todos os sentimentos: mesmo quando dizemos a alguém, olho no olho, "Eu te odeio", o medo da brutalidade de nossas palavras não exclui uma forma selvagem de prazer.
De fato, há um prazer na própria intensidade dos sentimentos; por isso, desconfio um pouco das palavras com as quais os manifestamos. Tomando o exemplo do amor, nunca sei se a gente se declara apaixonado porque, de fato, ama ou, então, diz que está apaixonado pelo prazer de se apaixonar.
Simplificando, há duas grandes categorias de expressões: constatativas e performativas.Se digo "Está chovendo", a frase pode ser verdadeira se estamos num dia de chuva ou falsa se faz sol; de qualquer forma, mentindo ou não, é uma frase que descreve, constata um fato que não depende dela.
Se digo "Eu declaro a guerra", minha declaração será legítima se eu for imperador ou será um capricho da imaginação se eu for simples cidadão; de qualquer forma, capricho ou não, é uma frase que não constata, mas produz (ou quer produzir) um fato. Se eu tiver a autoridade necessária, a guerra estará declarada porque eu disse que declarei a guerra. Minha "performance" discursiva é o próprio acontecimento do qual se trata (a declaração de guerra).Pois bem, nunca sei se as declarações de amor são constatativas ("Digo que amo porque constato que amo") ou performativas ("Acabo amando à força de dizer que amo"). E isso se aplica à maioria dos sentimentos.
Recentemente, uma jovem, por quem tenho estima e carinho, confiava-me sua dor pela separação que ela estava vivendo. Ao escutá-la, eu pensava que expressar seus sentimentos devia ser, para ela, um alívio, mas que, de uma certa forma, seria melhor se ela não falasse. Por quê?
Justamente, era como se a falta do namorado (de quem ela tinha se separado por várias e boas razões), a sensação de perda etc. fossem intensificadas por suas palavras, e talvez mais que intensificadas: produzidas.
É uma experiência comum: externamos nossos sentimentos para vivê-los mais intensamente -para encontrar as lágrimas que, sem isso, não jorrariam ou a alegria que talvez, sem isso, fosse menor. Nada contra: sou a favor da intensidade das experiências, mesmo das dolorosas. Mas há dois problemas.
O primeiro é que o entusiasmo com o qual expressamos nossos sentimentos pode simplificá-los. Ao declarar meu amor, por exemplo, esqueço conflitos e nuances. No entusiasmo do "te amo", deixo de lado complementos incômodos ("Te amo, assim como amo outras e outros" ou "Te amo, aqui, agora, só sob este céu") e adversativas que atrapalhariam a declaração com o peso do passado ou a urgência de sonhos nos quais o amor que declaro não se enquadra.
O segundo problema é que nossa verborragia amorosa atropela o outro. A complexidade de seus sentimentos se perde na simplificação dos nossos, e sua resposta ("Também te amo"), de repente, não vale mais nada ("Eu disse primeiro").
Por isso, no fundo, meu ideal de relação amorosa é silencioso, contido, pudico.Para contrabalançar os romances e filmes em que o amor triunfa ao ser dito e redito, como um performativo que inventa e força o sentimento, sugiro dois extraordinários romances breves, de Alessandro Baricco, o escritor italiano que estará na Festa Literária Internacional de Parati, na próxima semana: "Seda" e "Sem Sangue" (ambos Companhia das Letras).
Nos dois, a intensidade do amor se impõe com uma extrema economia de palavras ("Sem Sangue") ou sem palavra nenhuma ("Seda"). Nos dois, o silêncio permite que o amor vingue -apesar de ele não poder ser dito ou talvez por isso mesmo.
No caso de "Seda": te amo em silêncio porque te encontro ao limite extremo de uma viagem ao fim do mundo, indissociavelmente ligada a um outro, e nem sei falar tua língua.Você me ama em silêncio porque sou outro: uma aparição efêmera, uma ave migrante.No caso de "Sem Sangue": te amo, e não há como falar disso porque te dei e te tirei a vida. E você me ama pelas mesmas razões pelas quais poderia e deveria querer me matar (os leitores entenderão).
Nos dois romances, a ausência da fala amorosa acaba sendo um presente que os amantes se fazem reciprocamente, uma forma extrema (e freqüentemente perdida) de respeito pela complexidade de nossos sentimentos e dos sentimentos do outro que amamos.

terça-feira, 15 de julho de 2008

Meu câncer é meu vizinho

"Quando meu pai Jean-Jacques Servan-Schreiber, foi diagnosticado com Alzheimer, ele se tornou, por incrível que pareça, uma pessoa mais suave e tranqüila" David Servan-Schreiber

VEJA
Exclusivo on-line•

O psiquiatra francês David Servan-Schreiber, professor da Universidade de Pittsburgh, nos Estados Unidos, ficou conhecido mundialmente em 2004, ao lançar o best-seller Curar. Aos 47 anos, ele decidiu falar publicamente do câncer no cérebro que teve aos 31. Foi durante uma experiência neurológica, em que se ofereceu como cobaia, que David descobriu, por acaso, que era portador de um tumor do tamanho de uma noz. Submetido a uma cirurgia e a sessões de quimioterapia, o médico venceu a doença, mas não abandonou os maus hábitos – continuou a comer mal, a não se exercitar e a se deixar levar pelo stress. Com a recidiva do câncer, ele mudou radicalmente a forma de encarar e combater a doença. Essa virada é o tema de seu livro Anticâncer – Prevenir e Vencer Usando Nossas Defesas Naturais (Editora Fontanar). David é o primeiro dos quatro filhos de Jean-Jacques Servan-Schreiber, jornalista, ensaísta e político francês. Fundador da revista L’Express, em 1953, que tinha entre seus colaboradores os escritores Albert Camus e Jean-Paul Sartre, Servan-Schreiber, morto em 2006 de complicações advindas da doença de Alzheimer, era um homem brilhante, bonito e charmoso – tanto que era chamado de "Kennedy francês". No livro, David conta que uma de suas maiores aflições foi dar a notícia da própria doença ao pai: "Escutando a voz dele, meu coração se apertou. Tinha o sentimento de que ia apunhalá-lo... Ele nunca se negara a entrar em nenhum combate, mesmo nas circunstâncias mais difíceis. Mas, nesse caso, não haveria combate. Nenhuma ação militar. Nenhum artigo incisivo a escrever". De Paris, ele deu a seguinte entrevista à repórter Anna Paula Buchalla:
A DESCOBERTA DO CÂNCER – Diagnosticado com a doença pela primeira vez há dezesseis anos, fui tratado pelos métodos convencionais. Nove anos depois, no entanto, tive uma recaída. Decidi, então, pesquisar tudo o que era possível fazer naturalmente, sem recorrer a remédios, para ajudar meu corpo a se defender do câncer. Municiei-me de todo tipo de informação sobre a doença. Hoje, acho que todos os pacientes deveriam fazer o mesmo. Esse é, sem dúvida, o melhor caminho para que médicos e pacientes se tornem parceiros na condução de um tratamento. Infelizmente, ainda não me sinto curado. Em geral, meu tipo de câncer não desaparece. Mas, se eu mantiver o "terreno" saudável, eu e minhas células cancerosas continuaremos a conviver como bons vizinhos por um tempo – talvez um longo tempo.
A EXPERIÊNCIA COMO PACIENTE – Foi difícil aceitar que eu era simplesmente um paciente. Eu me agarrava como podia ao status de médico e ia às consultas de jaleco e crachá. Mas consegui perceber exatamente como se sente um doente. Muitas vezes tinha a sensação de que ninguém se interessava por quem eu era, como se todos só quisessem saber o resultado da minha última tomografia. Eu sempre me considerei o tipo de médico gentil e atencioso com meus pacientes, mas a doença me fez ver que meu comportamento estava muito longe do ideal. Depois disso, mudei radicalmente o modo de praticar a medicina.
O ENFRENTAMENTO DA MORTE – Se há algo de bom em ficar cara a cara com a morte é que se compreende quanto a vida é preciosa. Esse enfrentamento mostra que não se deve desperdiçar a chance de contribuir de alguma forma para a existência dos outros – é isso que fica depois que você vai embora. Apesar de conviver permanentemente com a ameaça de o tumor voltar, eu consigo levar uma vida normal. Na verdade, sinto-me muito mais saudável fisicamente e mais "normal" emocionalmente do que antes de saber que tinha câncer. O que eu fiz para mudar a minha vida me tornou uma pessoa mais equilibrada em todos os sentidos.
O PESO DO ESTILO DE VIDA – Durante muito tempo, acreditou-se que o câncer era, sobretudo, uma questão de genética – e um mal inevitável para quem está propenso a ele. O crescimento no número de casos da doença mostra que a influência dos fatores externos, como os hábitos de vida e o ambiente, é mais impactante na manifestação do câncer do que os genes. A genética é responsável por apenas 10% a 15% dos casos. Defendo a teoria de que todos temos um câncer dormindo dentro de nós. É nosso estilo de vida que vai ou não determinar seu desenvolvimento – seja nutrindo as células cancerosas, seja alimentando os mecanismos de defesa do organismo que impedem a formação de um tumor. O diagnóstico de câncer, porém, não deve jamais criar um sentimento de culpa no paciente. Eu não me sinto culpado nem por um segundo por ter desenvolvido câncer. Eu não fazia a menor idéia de que estava exposto a tantos fatores pró-câncer na minha vida. E talvez eu nunca saiba quais deles foram os mais críticos. Mas conhecer os mecanismos biológicos anticâncer no meu organismo me dá força para enfrentar a doença.
A IMPORTÂNCIA DA DIETA – A alimentação é um elemento-chave na luta contra o câncer – o mais essencial deles, na minha opinião. Pode-se atribuir à dieta a razão principal para a expansão da doença. Nos últimos cinqüenta anos, houve três mudanças muito significativas em nossa alimentação: o aumento do consumo de açúcar refinado, a utilização de produtos químicos na fabricação dos alimentos, como corantes e conservantes, e a mudança do padrão alimentar de animais como vacas e frangos. O consumo de açúcar refinado, que em 1830 era de 5 quilos por pessoa, no ano 2000 chegou a inacreditáveis 70 quilos per capita. Atualmente, os ovos têm vinte vezes mais ômega-6 do que nos anos 70. Em excesso, esse tipo de gordura, usado na ração das aves, facilita o acúmulo exagerado de células adiposas.
AS FERIDAS PSÍQUICAS – Nós estamos apenas começando a entender como os fatores psicológicos influenciam o surgimento de um câncer. Muitos pacientes com quem conversei se lembram de um stress emocional muito forte nos meses ou anos que precederam o diagnóstico de câncer. Certos acontecimentos são tão dolorosos que destroem a imagem que fazemos de nós mesmos ou minam a confiança que tínhamos em alguém. É o caso de alguns rompimentos amorosos. Algumas feridas psíquicas não cicatrizam sozinhas. É preciso encontrar formas de lidar com elas, pois essas feridas repercutem em todo o organismo.
MEDICINA TRADICIONAL X MÉTODOS ALTERNATIVOS – Eu diria que o tratamento convencional salvou a minha vida, mas não me ajudou a prevenir a recorrência do câncer. A relação entre estilo de vida e câncer é tão estreita e evidente quanto a associação entre os hábitos cotidianos e as doenças cardiovasculares. O que me surpreendeu ao constatar isso foi o fato de que ninguém nunca havia me falado sobre tais evidências – nem meus professores na faculdade de medicina nem meus próprios oncologistas. Opções de vida mais saudáveis, como meditação e alimentação equilibrada, foram e são cruciais para o fortalecimento de meu organismo contra a doença. Em minha opinião, tanto os recursos da medicina convencional como os métodos alternativos são indispensáveis e complementares.
O PAI – Quando eu e meus irmãos éramos pequenos, meu pai fazia questão de jantar com os filhos. Por causa de sua vida pública, havia quase sempre convidados em casa e ele insistia para que nós, as crianças, nos sentássemos à mesa. Éramos estimulados a fazer perguntas e participar das discussões. Tenho certeza de que isso me ajudou quando chegou a minha hora de questionar as posições da medicina tradicional. Quando meu pai foi diagnosticado com Alzheimer, ele se tornou, por incrível que pareça, uma pessoa mais suave e tranqüila. Era terrível vê-lo roubado de suas capacidades intelectuais, mas havia também algo de belo quando ele, com um sorriso, dizia: "Finalmente, eu posso simplesmente ser quem eu sou".

O custo a pagar

Betty Milan
Descobri sua coluna como quem descobre um tesouro. Trata-se de uma aula poética. Sou psicólogo e acredito que, na clínica, o fato de ser humano conta mais do que a técnica. Mas estou enfrentando problemas graves. Tenho poucos pacientes e isso me desespera. Porque não consigo me sustentar e muitas vezes recorro aos meus pais. Também me frustra saber que o trabalho não está dando certo. Para dizer a verdade, fico com inveja de profissionais que conseguem arranjar pacientes facilmente.
Nunca parei de estudar, tenho pós-graduação em Psicanálise e fiz três anos de análise. Sei que deveria fazer mais, porém não tenho como pagar. Mal pago as contas no fim do mês. Às vezes, me parece que profissionais de sucesso, na área da Psicanálise, sempre foram ricos. Você, por exemplo. Só alguém com dinheiro pode ter uma formação tão boa e completa como a sua.
Minha namorada não é de fazer pressão. Sinto, no entanto, que seria bom para ela eu estar melhor estabelecido. Os rapazes da minha idade (tenho 29) já têm casa, carro... e eu, sempre esperando. Me pergunto se é possível ser psicanalista sem ter dinheiro.
O bom clínico é aquele que sabe escutar. Que se exercitou suficientemente nesta arte para receber a mensagem do analisando e para devolvê-la com um sentido novo. Isso implica ter se escutado a ponto de se tornar verdadeiramente disponível, ou seja, poder fazer abstração de si mesmo. O que sustenta a prática analítica é a escuta competente, que provoca a transferência e traz "os pacientes", ou melhor, os analisandos.
Ninguém tem clínica porque cursou Psicologia ou fez um curso de mestrado em Psicanálise. Para tanto é preciso ter se analisado até poder se autorizar como analista. Isso significa dar prioridade à análise e pagar consigo próprio - pagar o custo que for necessário para decifrar o inconsciente e se livrar dos valores da representação.
Por outro lado, o analista não deve depender do consultório para o seu sustento básico. Simplesmente porque fica dependente do analisando e corre o risco de fazer concessões, aceitando um mau uso do tempo da sessão. Lacan recomendava aos alunos que tivessem um trabalho institucional para se sustentar. Com todos os diplomas que você tem, não deve ser difícil encontrar um emprego.
Quanto à questão do sucesso, ela é de somenos para a Psicanálise, que se interessa sobretudo pela razão do fracasso. A questão não é de ser ou não ser rico, mas de ser ou não capaz de trilhar o caminho, que nunca é fácil e pode ser árduo. O melhor livro que você pode ler sobre isso é O Dia em que Lacan me Adotou, de Gerard Haddad, editado no Brasil pela Companhia de Freud.
Haddad cursou Agronomia e se exercia com sucesso na profissão, trabalhando na África para resolver a questão da fome. Em 1969, começou uma análise cotidiana e custosa com o mestre. Custosa do ponto de vista subjetivo e objetivo. Paralelamente, abandonou a Agronomia para cursar Medicina e enfrentou dificuldades econômicas sérias. No livro, ele expõe isso e conta, de forma muito clara, a metamorfose decorrente da análise. Vale a pena ler.
Terça-feira, 08 de Julho de 2008

Betty Milan é colunista da Veja

Psicanalista e escritora


sexta-feira, 11 de julho de 2008

05 COISAS QUE APRENDI COM O LÁPIS...

1° qualidade: Você pode fazer grandes coisas, mas não deve esquecer nunca que existe uma Mão que guia seus passos. Esta mão nós chamamos de Deus, e Ele deve sempre conduzi-lo em direção à Sua vontade.

2° qualidade: De vez em quando eu preciso parar o que estou escrevendo, e usar o apontador. Isso faz com que o lápis sofra um pouco, masno final, ele está mais afiado. Portanto, saiba suportar algumas dores,porque elas o farão ser uma pessoa melhor.

3° qualidade: O lápis sempre permite que usemos uma borracha paraapagar aquilo que estava errado. Entenda que corrigir uma coisa que fizemosnão é necessariamente algo mau, mas algo importante para nos manter nocaminho da justiça.

4° qualidade: O que realmente importa no lápis não é a madeira ou suaforma exterior, mas o grafite que está dentro. Portanto, sempre cuidedaquilo que acontece dentro de você.

E Finalmente a 5° qualidade: O Lápis sempre deixa uma marca. Da mesma maneira, saiba que tudo que vc fizer na vida, irá deixar traços..

(Paulo Coelho)

terça-feira, 8 de julho de 2008

Mais um textinho da Martha Medeiros

E o que é que ela vê nele? Nossos amigos se interrogam sobre nossas escolhas, e nós fazemos o mesmo em relação às escolhas deles. O que é, caramba, que aquele Fulano tem de especial? E qual será o encanto secreto da Beltrana?

Vou contar o que ela vê nele: ela vê tudo o que não conseguiu ver no próprio pai, ela vê uma serenidade rara e isso é mais importante do que o Porsche que ele não tem, ela vê que ele se emociona com pequenos gestos e se revolta com injustiças, ela vê uma pinta no ombro esquerdo que estranhamente ninguém repara, ela vê que ele faz tudo para que ela fique contente, ela vê que os olhos dele franzem na hora de ler um livro e mesmo assim o teimoso não procura um oftalmologista, ela vê que ele erra, mas quando acerta, acerta em cheio, que ele parece um lorde numa mesa de restaurante mas é desajeitado pra se vestir, ela vê que ele não dá a mínima para comportamentos padrões, ela vê que ele é um sonhador incorrigível, ela o vê chorando, ela o vê nu, ela o vê no que ele tem de invisível para todos os outros.

Agora vou contar o que ele vê nela: ele vê, sim, que o corpo dela não é nem de longe parecido com o da Daniella Cicarelli, mas vê que ela tem uma coxa roliça e uma boca que sorri mais para um lado do que para o outro, e vê que ela, do jeito que é, preenche todas as suas carências do passado, e vê que ela precisa dele e isso o faz sentir importante, e vê que ela até hoje não aprendeu a fazer um rabo-de-cavalo decente, mas faz um cafuné que deveria ser patenteado, e vê que ela boceja só de pensar na palavra bocejo e que faz parecer que é sempre primavera, de tanto que gosta de flores em casa, e ele vê que ela é tão insegura quanto ele e é humana como todos, vê que ela é livre e poderia estar com qualquer outra pessoa, mas é ao seu lado que está, e vê que ela se preocupa quando ele chega tarde e não se preocupa se ele não diz que a ama de 10 em 10 minutos, e por isso ele a ama mesmo que ninguém entenda.

Martha Medeiros

Alguém comentou sobre o que tal pessoa vê na outra e coisa e tals hoje na aula... dae lembrei deste textinho... =p
e postei... hehe

Se eu postei você também pode!!!
Ache um texto, uma imagem... qualquer coisa que você ache interessante e compartilhe com a gente!! Vamos agitar esse nosso blog.

Um abraço,
Teta

segunda-feira, 7 de julho de 2008

PEDAÇOS DE MIM


Eu sou feito de
Sonhos interrompidos
detalhes despercebidos
amores mal resolvidos

Sou feito de
Choros sem ter razão
pessoas no coração
atos por impulsão

Sinto falta de
Lugares que não conheci
experiências que não vivi
momentos que já esqueci

Eu sou
Amor e carinho constante
distraída até o bastante
não paro por instante


Tive noites mal dormidas
perdi pessoas muito queridas
cumpri coisas não-prometidas

Muitas vezes eu
Desisti sem mesmo tentar
pensei em fugir,para não enfrentar
sorri para não chorar

Eu sinto pelas
Coisas que não mudei
amizades que não cultivei
aqueles que eu julguei
coisas que eu falei

Tenho saudade
De pessoas que fui conhecendo
lembranças que fui esquecendo
amigos que acabei perdendo
Mas continuo vivendo e aprendendo.

Martha Medeiros