quarta-feira, 24 de novembro de 2010

"Psicólogos Transgênicos" no orkut

Quando surgiu nos EUA, em 2004, a rede de relacionamentos ORKUT, tornou-se a maior “febre” principalmente entre brasileiros. O site em questão viabiliza encontro de pessoas com interesses em comum, reencontro de antigos amigos, fóruns e comunidades focadas nas mais diversificadas temáticas e categorias,


sejam grupos musicais, arte e cultura, profissões, ideologias, gostos pessoais. O pior dos profissionais da área da psicologia também estão presentes no orkut divulgando serviços dos quais os mesmos não estão habilitados.

Para o desespero do GreenPeace, surgiram os grãos geneticamente modificados, conhecido como transgênicos (...mas essa não é minha área de conforto). Em relação à Classe dos Psicólogos brasileiros surge a nova praga virtual na área Científica: os “Psicólogos Transgênicos”.

Quem são os “psicólogos transgênicos virtuais”?
São uma espécie de recém-formados (e desinformados) com suas práticas psicológicas pra lá de duvidosas alterando e burlando qualquer Regulamento, Legislação imposta pelo Conselho Federal e Regional de Psicologia, sem um mínimo de responsabilidade ética e social. Geralmente montam páginas eletrônicas na Internet do dia pra noite, como por exemplo, blogs, hospedam seus sites em provedores gratuitos e/ou pagos e fazem sua divulgação e autopromoção pessoal em diversos fóruns do orkut, conhecido como o spam (mensagens publicitárias não solicitadas). É isso que esses “profissionais psicólogos transgênicos virtuais” estão fazendo sem a mínima noção de ética e bom senso. Afrontam Regimentos, Resoluções e o Código de Ética do Profissional Psicólogo. A grande parte deles são acadêmicos, recém-formados em Psicologia interessados na autopromoção pessoal.

“Psicólogos Transgênicos” costumam abrir, moderar e abrir tópicos em dezenas de comunidades, criam perfil FALSO no ORKUT promovendo seus blogs, sites pessoais e/ou serviços não qualificados prestados por eles. Os mesmos se cadastram em diversos fóruns, principalmente comunidades relacionados à problemas comportamentais, aonde é possível encontrar clientes em potencial, ou seja, esses “psicólogos” se aproveitam da fragilidade dos internautas participantes dos fórum para atendê-los online. Aliás, esses “profissionais” recebem sugestões de amigos e idéias aonde os mesmos possam divulgar seus blogs e sites pessoais sobre as orientações psicológicas online em fóruns sobre problemas amorosos, depressão, transtornos alimentares, principalmente fóruns de preconceitos religiosos e sociais. Isso é praxe!

É mais fácil identificarmos um “Psicólogo Transgênico” do que um grão geneticamente modificado escondido em sacas e toneladas de cargas... diga-se de passagem... as duas coisas fazem mal à sua saúde. Identificar um profissional de credibilidade do outro que é uma fraude, basta aprendermos separar o grão saudável do intragável.

Vamos aos fatos: essa terminologia “Psicólogos Transgênicos Virtuais” (ou “Psicólogos Piratas”) foi adotada para ajudar aos orkuteiros de plantão (freqüentadores do ORKUT) dos quais são as maiores vítimas desses “psicólogos”. Primeiramente nós psicólogos NÃO FAZEMOS PUBLICIDADE NO ORKUT, QUANTO MAIS SPAMS EM DIVERSOS FÓRUNS REFERENTES À PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS DE ORIENTAÇÃO PSICOLÓGICA ONLINE OU PRESENCIAL, MUITO MENOS MODERAMOS FÓRUNS VINCULADOS ÀS ORIENTAÇÕES PSICOLÓGIAS ONLINE.

Não é difícil achar “psicólogos” e aventureiros praticando orientações psicológicas online, orientação vocacional e terapias sexuais no orkut sem devida habilitação e Selo eletrônico de Credenciamento do Conselho Federal de Psicologia, seja dentro ou fora do ORKUT.

Alguns “psicólogos transgênicos” se intitulam “Doutores” para dar mais crédito à sua prestação de serviço do qual só possui título de graduação ou nem mesmo a conclusão da faculdade de psicologia exigida pelo MEC para exercer a Profissão de Psicólogo. Outros nem mesmo fazeram faculdade de psicologia e estão se beneficiando (e muito) da prática ilegal.

Devido a impunidade dos sites que prestam tais serviços ilegais de psicologia, a tendência dos serviços de orientação online já é banalizado devido a falta de fiscalização e demora no processo para punição desses “Psico-Transgênicos”. Existem diversos blogs e sites de procedência duvidosa que fazem suas autopromoções pessoais e publicidades ilegais no ORKUT, deturpando a profissão Psicologia. Psicólogo não faz autopromoção e não presta serviços por meios de scraps no ORKUT, muito menos abrem comunidades na rede de relacionamentos. ORKUT é entretenimento. Não é ambiente de trabalho muito menos setting terapêutico.

Quero frisar que não é ilegal a participação de psicólogos em comunidades, nem a aquisição de perfil na rede de relacionamentos do Orkut. A falta de ética está na autopromoção pessoal por meio de spam em comunidades, bem como a habilitação de perfis falsos.

Com tantos “psicólogos transgênicos” espalhados no orkut, logo teremos clientes reais (embora virtuais) desacreditados na qualidade da prestação de serviços de psicologia no Brasil, e o pior: ao invés de obtermos melhoras na qualidade de vida da população inseridos na cibercultura, vamos obter “melhoras e resultados terapêuticos transgênicos”. Essas pragas de “psicólogos transgênicos” plantadas nos hectares cibernéticos são (e serão) uma epidemia nas veias da Rede Mundial de Computadores unidos na depredação da qualidade dos serviços de orientações psicológicas online realizados por profissionais competentes a título nacional e por que não dizer a título mundial? Já que estamos falando de um mundo sem fronteiras.

Se algum “psicólogo” divulgar serviços de orientação psicológica online no orkut, em fóruns e comunidade com a prática de spam, desconfie... ou melhor... denuncie!

Uma coisa é certa: quem planta vento, colherá tempestade e no mínimo um processo ético.

Autor: Márcio Roberto Regis (CRP 08/10156)
Editor-Chefe do Portal de Psicologia Atlaspsico
Bacharel e Psicólogo formado pela Universidade Tuiuti do Paraná
Email: atlaspsico@atlaspsico.com.br – cel.: 41.9917.4556

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Marco Aurélio Ferraz: "Rompendo Silêncios: alunos especiais narram suas histórias"


(...)
Costurado pela analogia ao mar e seus mistérios, navego no
movimento de idas e vindas, sem um porto estável onde aportar.
A Nau dos Insensatos que inspirou a introdução do referido projeto, é descrita por Michel Foucault em “A História da Loucura” (1961) e tem o mesmo sentido que as Naus dos loucos ou insensatos da Idade Média, “navios que carregavam insanos em
busca da razão”, um estranho barco que deslizava pelos rios e mares, levando uma carga insana, partia sem um rumo definido. Os tripulantes embarcavam em uma viagem sem fim, flutuando num mar sem fim, sem bordas, sem ancoragem.

Os alunos das escolas especiais, diferente dos loucos da Idade Média, foram nomeados Portadores de Necessidades Educativas Especiais e estão sendo “convidados” a embarcarem em uma Nau, em sentido metafórico, para um lugar pré-determinado, a escola regular, e, como os insensatos do início da modernidade, não escolheram partir nesta viagem, o convite para essa travessia foi feito por estranhos.

Ao chegar neste novo lugar, a escola regular, talvez sejam recebidos como estrangeiros, pois seu jeito de comunicar- se e aprender, são distintos. Alguns deles com seus corpos marcados são mais diferentes que os diferentes daquele lugar.

Com os estudos, tenho observado que o movimento dos alunos com deficiência mental, entre os fenômenos da inclusão e exclusão na escola regular e/ou na escola especial, tem tido visibilidade. É notório o aumento da clientela. Observando dados da vida escolar dos alunos, percebo que sua vida escolar é repleta de momentos onde os fracassos aparecem em destaque, obscurecendo de alguma forma as pequenas conquistas.

Por fazer parte como professor deste universo, considero fundamental explicitar as trajetórias pelas quais tem passado a Educação Especial e destacar suas crises na perspectiva de compreender as especificidades com as quais nos
deparamos no ato de educar como na atual conjuntura em que os educadores especiais mobilizam-se para discutir o futuro da escola especial, diante da concretização de algumas ações do Ministério da Educação através da Secretaria de Educação Especial.

Considero um momento importante para expor o trabalho que venho desenvolvendo em três escolas: uma escola especial, uma escola regular com um processo de discussão quanto a inclusão de alunos com Necessidades Educativas Especiais, bastante avançado e com um número considerável de alunos já incluídos e uma escola onde funciona uma Sala de Integração e Recursos.

Não pretendo apresentar novas verdades, pois acredito que elas não existam, mas refletir sobre novas perspectivas que os Estudos Culturais permitem para tratar um tema tão importante como é a inclusão, vista neste projeto sob a ótica dos próprios alunos.

Inspirado pelas idéias de Michel Foucault, permito-me identificar esses alunos com os chamados anormais, considerando a busca insistente de colocá-los em uma determinada norma que os capture, que lhes normatize, para com isso conduzi-los à
normalidade.
Pronunciado no Collége de France, de janeiro a março de 1975, o curso sobre “Os Anormais” dá continuidade às análises que Michel Foucault consagrou a partir de 1970, aprofundando questões como saber, poder, normalização e biopoder. É a partir
de múltiplas fontes, jurídicas e médicas, entre outras, que Foucault aborda o problema desses indivíduos “perigosos” que no século XIX eram chamados de “anormais”, destacando a formação de um saber e de um poder de normalização. A partir dessa
discussão poderia dizer que esses eram os indivíduos que de uma forma ou outra escapavam a uma norma, porém, eram capturados por outras, considerando que ninguém escapa a norma. Segundo o mesmo autor são três as figuras principais de caracterização dos anormais: os monstros, os incorrigíveis e os onanistas.

Sendo assim o indivíduo considerado anormal é aquele que segundo o referido autor deriva-se ao mesmo tempo da exceção jurídico-natural do monstro das multidões, dos incorrigíveis, detidos pelos aparelhos de adestramento, e do universal secreto das sexualidades infantis.

Na lógica de uma reflexão atual sobre a sociedade e o princípio de exclusão, ainda percebendo o quanto os discursos dos alunos da Escola Especial, estão envoltos nestas lógicas, reporto-me a época da alta Idade Média, na oposição razão e loucura. “O louco é aquele cujo discurso não pode circular como o dos outros”. Hoje os alunos com necessidades educativas especiais, poderiam ser facilmente comparados aos loucos da Idade Média, pois o olhar a eles lançado ainda é de estranheza, ainda é preciso romper as barreiras do silêncio, das palavras ingênuas, para que os mesmos possam ter na expressão desses discursos, as suas idéias compreendidas.

Pode ocorrer que sua palavra seja considerada nula e não seja acolhida, não tendo verdade nem importância, não podendo testemunhar na justiça, não podendo autenticar um ato ou um contrato, não podendo nem mesmo no sacrifício da missa, permitir a transubstanciação e fazer do pão um corpo; pode ocorrer também, em contrapartida, que se lhe atribua, por oposição a todas as outras, estranhos poderes, o de dizer uma verdade escondida, o de pronunciar o futuro, o de enxergar com toda ingenuidade aquilo que a sabedoria dos outros não pode perceber. (Focault.1970. p.11)

Apesar de considerar que o conceito de loucura aproxima-se muito mais da Doença Mental do que da Deficiência Mental, este termo é utilizado no texto como elemento de costura no resgate histórico das posições tomadas, em nome da normalidade, o que de fato aproximaria os indivíduos aqui estudados das duas
vertentes.

Em “A História da loucura” por exemplo, Foucault revela a trajetória dos muitos séculos, durante os quais a palavra do louco não era ouvida e se ouvida, o era com ouvido que a filtrava como dotada de uma razão ingênua ou astuciosa. O primeiro passo no estudo independência da condição da deficiência e doença mental ocorreu noinício do Século XIX, quando se estabeleceu a diferenciação entre idiotia e a loucura. Existe uma tendência mundial de estar reconhecendo o termo Doença Mental como transtorno Mental e Deficiência Mental como deficiência intelectual como um discurso diferente, do lugar de quem poderia exercer uma razão mais razoável do que a das pessoas razoáveis. Por volta do século XVIII a palavra dos loucos passa aser o mecanismo pelo qual era reconhecida sua própria loucura, então o que era dito é observado como e por que era dito, essa palavra passa a fazer a diferença.

A escolha de pesquisar alunos com deficiência mental é fruto da minha experiência na Escola Municipal Especial, onde a ênfase de atendimento se dá para este tipo de aluno. Essa escolha também se deve por verificar que os campos de pesquisa na educação inclusiva, tanto para alunos cegos quanto para surdos ou superdotados, tem se dado em um outro patamar de discussão devido se estar, na maioria das vezes, lidando com situações onde as constituições cognitivas estão preservadas, o que de certa forma não é o caso dos alunos com deficiência mental.

A pesquisa está fundamentada no princípio de que a partir de situações em que mais do que ouvir as vozes dos alunos, será necessário permitir o aparecimento da pluralidade dos discursos e do conjunto de enunciados que poderão ser evidenciados,
trazendo consigo um certo número de efeitos de poder Apesar de ser uma discussão importante quanto ao processo de inclusão, na
dissertação não aponto o interesse da busca de um lugar para os incluídos, mas um espaço de autoria. No desenvolvimento da pesquisa os alunos envolvidos entram como co-autores, pois me emprestam relatos de suas histórias de escolaridade, e é a partir
delas que estou compondo um conjunto de textos que analisados dentro de metodologias que consideram os diversos discursos que lhes dão sentido, posso apresentar algumas certezas, mas muito distantes de serem consideradas verdades, por dois motivos: um por que toda verdade pode ser relativizada quando atravessada pela cultura, principalmente em nossa linha de pesquisa em Estudos Culturais e outro por que as certezas que apresento, são indicadores de possibilidade para pesquisa que desenvolvo.
Nas observações realizadas, no trabalho com alunos da escola especial, tenho percebido que a comunicação, é um processo importante nas relações escolares.

Verifiquei que nas diversas situações, que envolvem os alunos, sempre esses tiveram algo para ser dito, seja em gestos, pequenas vocalizações, através de desenhos ou com a própria fala.
As situações cotidianas levam-me a perceber melhor que processos de comunicação incompreendidos, desencadeiam problemas e conflitos entre os alunos, professores, funcionários e famílias. Na maioria das vezes esclarecidas através de um
desenho, gestos ou falas. Questões que exigem a armação de cenas de escuta, através das quais realizamos importantes aprendizagens. O exercício da constituição de espaços
de fala na escola, fizeram-me refletir sobre a necessidade de ouvir os alunos no processo de inclusão.

A inclusão tem sido foco de discussão em diversos fóruns, com a participação de educadores, legisladores, famílias e outras tantas pessoas interessadas pelo assunto. No entanto passei a observar que faltava nestes fóruns a fala dos alunos. Tal situação
começou a fazer parte de minhas inquietações, perguntava-me: por que os alunos não são chamados a falar?. Será pela crença de que por serem deficientes mentais suas opiniões seriam teoricamente desprovidas de certa racionalidade, o que tornaria de
imediato sua fala sem sentido? Por essa fala não estar inscrita, em um padrão de normalidade, estaria em uma outra ordem do discurso, que não a esperada por quem faz as leis? Se considerarmos que há então um discurso capaz de contribuir para a qualificação do processo de inclusão, como dar visibilidade a este discurso? Alguns pontos de convergência me levam a estruturar minhas abordagens levando em consideração a importância e imergir no interior das relações escolarizadas
dos envolvidos na pesquisa, vivenciar o cotidiano de suas relações com a escola e com o processo de inclusão, para através da escuta dos discursos e enunciados, retornar a minha perspectiva de pesquisador, utilizando para isto a possibilidade de registro a
partir das histórias da vida escolar e principalmente dos discursos dos alunos. Refiro-me aos relatos que já tenho recolhido durante o processo de escrita, onde desenhos dos alunos são como subsídios. Para aqueles que já tiveram experiências no Ensino regular, é proposto que desenhem a escola de onde vieram e a escola especial, fazendo comentários sobre os desenhos, falas muito significativas têm acompanhado esses desenhos o que tem definido, de certa forma a necessidade de anexá-los ao projeto e
conseqüentemente justifica usá-los como ilustração no pôster a ser apresentado.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Coquetel de vitamina B pode 'retardar' Alzheimer, diz estudo

Estudo mostra que pacientes com indicativos de demência se beneficiaram de composto vitamínico.

Da BBC

imprimir Um novo estudo publicado na revista especializada "Public Library of Science One" sugere que altas doses de vitaminas B podem reduzir pela metade o ritmo do encolhimento do cérebro em pessoas com alguns sinais de Alzheimer.

O encolhimento do cérebro é um dos sintomas da debilidade cognitiva leve que pode ser um dos indicadores iniciais de demência.

Os pesquisadores da Universidade de Oxford, na Grã-Bretanha, afirmam que a descoberta pode ser um passo importante na busca por formas de retardar os efeitos do Alzheimer.

De acordo com especialistas, o resultado da pesquisa é importante, mas são necessários mais estudos.

Declínio mental
A pesquisa avaliou 168 pacientes que sofriam, em algum nível, do declínio mental conhecido como debilidade cognitiva leve.

A condição - marcada por pequenos lapsos de memória e problemas de linguagem - vai além do que é considerado "normal" no processo de envelhecimento e pode ser um indicativo do desenvolvimento de Alzheimer ou outras formas de demência.

Metade dos voluntários recebeu um comprimido diário contendo níveis de ácido fólico, vitamina B6 e B12 acima da dose diária recomendada. A outra metade recebeu um placebo.

Depois de dois anos, os pesquisadores mediram o ritmo de encolhimento do cérebro dos pacientes.

O cérebro de uma pessoa com mais de 60 anos encolhe, em média, a um ritmo de 0,5% ao ano. O cérebro das pessoas que sofrem de debilidade cognitiva leve encolhe a um ritmo duas vezes mais rápido. Nos pacientes de Alzheimer, este ritmo chega a 2,5% ao ano.

A equipe de pesquisadores de Oxford concluiu que, em média, o encolhimento do cérebro dos pacientes que tomaram o complemento vitamínico ocorreu a um ritmo 30% mais lento.

Em alguns casos, este ritmo chegou a ser mais do que 50% mais lento, fazendo com que sua atrofia cerebral fosse equivalente a de uma pessoa sem qualquer debilidade cognitiva.

'Protegendo o cérebro'
Algumas vitaminas B - ácido fólico, vitamina B6 e B12 - controlam os níveis da substância conhecida com homocisteína no sangue. Altos níveis de homocisteína são associados ao encolhimento mais rápido do cérebro e ao Alzheimer.

Os autores do estudo sugerem que os efeitos da vitamina B sobre os níveis de homocisteína ajudaram a reduzir o ritmo de encolhimento do cérebro.

Segundo o autor do estudo, David Smith, os resultados foram mais significativos do que os cientistas esperavam.

"É um efeito maior do que o previsto", disse ele.

"Essas vitaminas estão fazendo algo pela estrutura do cérebro - estão protegendo-a, e isso é muito importante porque precisamos proteger o cérebro para evitar o Alzheimer."

Smith afirmou, no entanto, que são necessárias mais pesquisas para determinar se as altas doses de vitamina B realmente evitam o desenvolvimento de Alzheimer em pacientes com debilidade cognitiva leve.

As vitaminas B são encontradas normalmente em vários alimentos, inclusive carne, peixe, ovos e verduras.

Especialistas, no entanto, afirmam que ninguém deve sair tomando doses mais altas do que as recomendadas depois deste estudo, já que também há outros riscos para a saúde.

fonte:http://g1.globo.com/ciencia-e-saude/noticia/2010/09/coquetel-de-vitamina-b-pode-retardar-alzheimer-diz-estudo.html

domingo, 29 de agosto de 2010

Evan Perry - Garoto Interrompido

"NUNCA É TARDE DEMAIS"
(Evan Perry)


Sempre que tenho acesso a um programa cultural excelente, fico desolado de pensar que poucas pessoas terão a mesma chance.
Continuarão a ver as bobagens TVGlobais numa Índia de pastiche.


No caso, um documentário da HBO-HD chamado GAROTO INTERROMPIDO (Boy Interrupted), EUA, 2008.
A história real de um inteligente garoto rico de Nova Iorque, portador da doença que antigamente se chamava PSICOSE MANÍACO-DEPRESSIVA e hoje se chama Doença Bipolar. Há poucos anos sequer se reconhecia que esta doença existia em crianças.
Depois de uma traumática vida de internamentos e remédios, aos 15 anos se suicida.


A mãe DANA PERRY é diretora de cinema e o pai também trabalha na indústria de filmes. Ela é a diretora do documentário, feito com um vasto acervo da vida do personagem.
Um filme enormemente sensível, num tema hiperdelicado e feito por pessoas de grande tato e coragem.
A morte de um filho adolescente nestas circunstâncias é um dos eventos mais dolorosos que algum ser humano pode viver.
Encontrar forças prá continuar, entender o inexplicável ato e dividir com os outros tudo isto, é um grande exercício de sentimento.


O filme nunca foi lançado no Brasil, prá variar. É uma produção HBO, que tem apresentado uma série de documentários de tirar o chapéu.
As fotos são de divulgação do filme.



" Conversar... realmente ajuda.
Um dos principais problemas de doença mental e suicídio é a relutância em falar sobre eles. Como se fossem uma deficiência de caráter e não uma doença verdadeira, como na realidade é."
de uma entrevista com a mãe e diretora do filme DANA PERRY,
do site de divulgação do filme.

POR José Carlos Cordeiro Freire

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

DIA DO PSICÓLOGO

O profissional de psicologia é, como o próprio nome da teoria sugere, um conhecedor da mente humana. A palavra deriva do grego e significa psyche (mente ou alma) e logos (conhecimento), ou seja, "ciência da alma": sua definição mais antiga. Tudo começou com os filósofos, os primeiros a fazer especulações em relação a problemas psicológicos, em busca de respostas sobre a natureza da alma e de sua relação com o corpo. Daí o costume de se dizer que a filosofia é a mãe da psicologia ou que os filósofos foram os precursores dos psicólogos.
Hoje, a definição da psicologia é outra e cabe ao psicólogo "estudar os fenômenos da mente e do comportamento do homem com o objetivo de orientar os indivíduos a enfrentar suas dificuldades emocionais e ajudá-los a encontrar o equilíbrio entre a razão e a emoção".

O objeto de estudo do psicólogo é o comportamento humano e o seu principal objetivo é compreender o homem.

Apesar desse intuito de compreensão não ser uma característica somente do profissional de psicologia - temos também o antropólogo, o sociólogo e o economista procurando o mesmo -, fica visível que estes dão ênfase, sobretudo, aos grupos e sociedades, enquanto aquele se fixa no indivíduo.

Isto também não significa que o psicólogo só veja o indivíduo em separado, fora do coletivo, mas sim que enxerga o homem como a unidade do grupo.

Veja algumas das divisões desse estudo:

- psicologia da personalidade - ocupa-se dos diagnósticos e desenvolvimento das personalidades.
- psicologia social - estuda o comportamento dos indivíduos dentro do grupo.
- psicologia comparativa - compara o comportamento animal com o do homem.
- psicologia do desenvolvimento - avalia as mudanças que acontecem com o indivíduo.
- psicologia experimental - analisa os fenômenos psicológicos com fenômenos naturais, em condições monitoradas em laboratório.
- psicologia clínica - tratamento das neuroses e demais problemas psíquicos.

Para quem anda pensando em seguir essa profissão, alguns conhecimentos podem ajudar a se definir na escolha. Uma delas é saber sobre o seu futuro campo de atuação, ou seja, onde e como poderá trabalhar.

O psicólogo pode atuar não apenas em consultórios, mas ainda em escolas, dando orientação vocacional; em empresas, participando de processos de seleção de funcionários; em hospitais, atendendo a pacientes e seus familiares; e mesmo na área de pesquisa, avaliando perfil do consumidor.

Também pode trabalhar como psicólogo esportivo, preparando os atletas emocionalmente, ou como psicólogo educacional, auxiliando pais e professores a solucionar problemas de aprendizagem.

O campo é bem amplo. A psicologia jurídica é outra área desse universo de opções. Como psicólogo jurídico, você vai acompanhar processos de adoção ou de violência a menores ou, em caso de presídios, avaliar os detentos.

Seja qual for a sua escolha, o importante é saber que você vai estar lidando com pessoas em seus sentimentos, medos e desejos. E que isto requer muito cuidado.
O curso de psicologia vai dar a você, nos períodos iniciais, uma visão dos diferentes aspectos da psicologia: história, teoria e principais correntes.

Também haverá aulas enfocando matérias sobre saúde, como neurologia, por exemplo.

Mais adiante é que o aluno vai se deparar com as disciplinas profissionalizantes e optativas, como pedagogia do excepcional, problemas de aprendizagem e orientação vocacional. Nesse momento, é a hora de optar por uma área de especialização.

No caso de quem pretende clinicar, o estágio é obrigatório, mas todos, uma vez formados, deverão se registrar no Conselho Regional de Psicologia.

O curso tem duração de quatro anos, para o bacharelado, e cinco, para quem deseja ainda a formação clínica, para atendimento em consultório.

Fonte: IBGE Teen

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

COMPORTAMENTO

Criança pode escolher ser menino ou menina? Veja o que os especialistas dizem
Comportamento da celebridade-mirim Shiloh Jolie-Pitt chama a atenção

ANELISE ZANONI | anelise.zanoni@zerohora.com.br


Assim que veio ao mundo, Shiloh foi recebida por flashes. Estampou capa de revistas, teve o semblante comparado com os pais e desfilou, ao lado da mãe, modelitos de vestidos e sapatinhos de boneca.

Primeira filha legítima dos atores Angelina Jolie e Brad Pitt, a menina se transformou agora no centro de um polêmico debate: aos quatro anos, quer ser um menino.

O desejo de usar calça jeans masculina, camisetões e bermudas — justificado pela famosa mãe como um gosto próprio da pequena, que, segundo ela, "pensa que é como os irmãos" — foi acatado. Hoje, Shiloh é confundida com o irmão mais novo quando está na rua, porque teve o cabelo cortado e se veste como um guri.

— Alimentar essa vontade da criança pode revelar a perturbação da identidade sexual dos próprios pais. O transtorno de gênero pode afetar diversas áreas da vida da menina e trazer problemas futuros, como quadros de depressão e dificuldade de interação social — explica o psicanalista gaúcho Roberto Barberena Graña, especializado em crianças e adolescentes.

As possíveis consequências na vida de uma criança que vive um gênero oposto ao seu (masculino ou feminino) são explicadas por questões sociais. Desde que nascem, ou quando estão na barriga da mãe, os bebês são inseridos em uma categoria definida: menino ou menina. É quando todos o classificam de acordo com a biologia e passam a comprar roupas com cor relacionada ao sexo e brinquedos diferenciados. A criança fica acostumada com esses conceitos e é tratada de acordo com o gênero que tem. Mas, quando decide ser diferente e assumir outro gênero, uma série de mudanças ocorre a sua volta.

— A distinção entre homem e mulher é básica para a compreensão de nós mesmos enquanto seres humanos. Ela regula o modo como os indivíduos são tratados, os papéis que desempenham na sociedade e as expectativas sobre o modo de se comportar e se sentir — afirma a professora de Educação da Universidade de Londres Carrie Paechter, autora do livro Meninos e Meninas (Artmed, 192 páginas).

Ela explica que, nos anos iniciais, a família é a base para o desenvolvimento da compreensão infantil do que homens e mulheres, meninos e meninas fazem e de como essas atividades podem variar de acordo com o sexo de cada um. Crianças menores demonstram tendência à generalizações e tiram conclusões sobre o masculino e o feminino a partir daquilo que enxergam — é possível que Shiloh, por exemplo, veja com encanto o mundo que cerca os irmãos.

Os pais, entretanto, não precisam se preocupar se o filho gosta de brincar com bonecas ou se a menina prefere se divertir com carrinhos ou espadas. A preferência só se torna preocupante se for corriqueira, obsessiva, diz Graña.

— Os pais participam mais ou menos ativamente na produção do transtorno. O comportamento compulsivo deve ser bem observado, e o incentivo leva à construção de um problema maior, ligado ao lado social e ao desenvolvimento da criança. Se os padrões puderem ser analisados precocemente, é possível corrigi-los — afirma Graña.



Pulando de um lado para outro



Sexo é trabalho da genética, gênero se constrói. Para que os dois andem em harmonia na vida de uma criança, é preciso ter identidade de homem ou de mulher e perceber os símbolos e significados do que é masculino e feminino.

Só que, quando sexo e gênero se contrapõem para a criança, uma série de desafios surge, principalmente na vida dos pais.

Para o psicanalista Roberto Barberena Graña, autor do livro Transtornos da Identidade de Gênero na Infância (Editora Casa do Psicólogo, 282 páginas), o caso de Shiloh, por exemplo, pode estar ocorrendo devido a uma a distorção na matriz familiar do gênero. Ou seja, uma lacuna na identidade sexual do pai ou da mãe (ou dos dois) ou nas gerações passadas da família pode contribuir para o desejo da menina de ser e se vestir como um guri.

— Ela vive, com certeza, um momento pré-transexual, o que poderá evoluir para o transexualismo adulto — explica o especialista.

É importante dar liberdade para a criança escolher suas roupas e brinquedos. Entretanto, segundo Graña, quando há compulsão por algo do sexo oposto, há transtorno, que pode afetar áreas do desenvolvimento e trazer dificuldade de interação social, estado de retraimento, quadros de depressão, tentativa de suicídio infantil (ligada principalmente a acidentes domésticos), psicose, problemas na sala de aula, agitação e hiperatividade.

Para evitar os reflexos, ele indica a busca de um profissional para fazer uma avaliação mais precisa. Quanto mais cedo, melhor.

— Aos dois ou três anos, os pais já podem observar algum transtorno e buscar ajuda. Quanto mais precoce o diagnóstico, melhor a evolução clínica. O ideal é não esperar até a puberdade — avalia o especialista.

Os sinais mais comuns são o desejo compulsivo e repetitivo por atividades, brinquedos e roupas do sexo oposto. Meninos que desejam sempre vestir as roupas da mãe ou das irmãs, que se encantam por maquiagens, gurias que não querem saber das bonecas ou que preferem usar cuecas e brigam para não usar as roupas de menina, merecem ser observadas com mais atenção, diz o psicanalista.




ZERO HORA - MEU FILHO

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

NOVO BLOG DA PSI VESP 6 ° FASE

QUEM TIVER INTERESSE PELA LEITURA E ENTENDIMENTO DO LIVRO "A HISTÓRIA DA LOUCURA" DE Michel Foucault

Entre no nosso BLOG:
http://psicologia-historiadaloucura.blogspot.com/

Compreensão Sistêmica da Dinâmica Familiar


terça-feira, 10 de agosto de 2010

A pensar fundo na questão, eu diria que ler devia ser proibido

Afinal de contas, ler faz muito mal às pessoas: acorda os homens para realidades impossíveis, tornando-os incapazes de suportar o mundo insosso e ordinário em que vivem. A leitura induz à loucura, desloca o homem do humilde lugar que lhe fora destinado no corpo social. Não me deixam mentir os exemplos de Don Quixote e Madame Bovary. O primeiro, coitado, de tanto ler aventuras de cavalheiros que jamais existiram meteu-se pelo mundo afora, a crer-se capaz de reformar o mundo, quilha de ossos que mal sustinha a si e ao pobre Rocinante. Quanto à pobre Emma Bovary, tomou-se esposa inútil para fofocas e bordados, perdendo-se em delírios sobre bailes e amores cortesãos.

Ler realmente não faz bem. A criança que lê pode se tornar um adulto perigoso, inconformado com os problemas do mundo, induzido a crer que tudo pode ser de outra forma. Afinal de contas, a leitura desenvolve um poder incontrolável. Liberta o homem excessivamente. Sem a leitura, ele morreria feliz, ignorante dos grilhões que o encerram. Sem a leitura, ainda, estaria mais afeito à realidade quotidiana, se dedicaria ao trabalho com afinco, sem procurar enriquecê-la com cabriolas da imaginação.

Sem ler, o homem jamais saberia a extensão do prazer. Não experimentaria nunca o sumo Bem de Aristóteles: o conhecer. Mas para que conhecer se, na maior parte dos casos, o que necessita é apenas executar ordens? Se o que deve, enfim, é fazer o que dele esperam e nada mais?

Ler pode provocar o inesperado. Pode fazer com que o homem crie atalhos para caminhos que devem, necessariamente, ser longos. Ler pode gerar a invenção. Pode estimular a imaginação de forma a levar o ser humano além do que lhe é devido.

Além disso, os livros estimulam o sonho, a imaginação, a fantasia. Nos transportam a paraísos misteriosos, nos fazem enxergar unicórnios azuis e palácios de cristal. Nos fazem acreditar que a vida é mais do que um punhado de pó em movimento. Que há algo a descobrir. Há horizontes para além das montanhas, há estrelas por trás das nuvens. Estrelas jamais percebida. É preciso desconfiar desse pendor para o absurdo que nos impede de aceitar nossas realidades cruas.

Não, não dêem mais livros às escolas. Pais, não leiam para os seus filhos, pode levá-los a desenvolver esse gosto pela aventura e pela descoberta que fez do homem um animal diferente. Antes estivesse ainda a passear de quatro patas, sem noção de progresso e civilização, mas tampouco sem conhecer guerras, destruição, violência. Professores, não contem histórias, pode estimular uma curiosidade indesejável em seres que a vida destinou para a repetição e para o trabalho duro.

Ler pode ser um problema, pode gerar seres humanos conscientes demais dos seus direitos políticos em um mundo administrado, onde ser livre não passa de uma ficção sem nenhuma verossimilhança. Seria impossível controlar e organizar a sociedade se todos os seres humanos soubessem o que desejam. Se todos se pusessem a articular bem suas demandas, a fincar sua posição no mundo, a fazer dos discursos os instrumentos de conquista de sua liberdade.

O mundo já vai por um bom caminho. Cada vez mais as pessoas lêem por razões utilitárias: para compreender formulários, contratos, bulas de remédio, projetos, manuais etc. Observem as filas, um dos pequenos cancros da civilização contemporânea. Bastaria um livro para que todos se vissem magicamente transportados para outras dimensões, menos incômodas. E esse o tapete mágico, o pó de pirlimpimpim, a máquina do tempo. Para o homem que lê, não há fronteiras, não há cortes, prisões tampouco. O que é mais subversivo do que a leitura?

É preciso compreender que ler para se enriquecer culturalmente ou para se divertir deve ser um privilégio concedido apenas a alguns, jamais àqueles que desenvolvem trabalhos práticos ou manuais. Seja em filas, em metrôs, ou no silêncio da alcova... Ler deve ser coisa rara, não para qualquer um.

Afinal de contas, a leitura é um poder, e o poder é para poucos.

Para obedecer não é preciso enxergar, o silêncio é a linguagem da submissão. Para executar ordens, a palavra é inútil.

Além disso, a leitura promove a comunicação de dores, alegrias, tantos outros sentimentos... A leitura é obscena. Expõe o íntimo, torna coletivo o individual e público, o secreto, o próprio. A leitura ameaça os indivíduos, porque os faz identificar sua história a outras histórias. Torna-os capazes de compreender e aceitar o mundo do Outro. Sim, a leitura devia ser proibida.

Ler pode tornar o homem perigosamente humano.




[Guiomar de Grammon, In: PRADO, J. & CONDINI, P. (Orgs.). A formação do leitor: pontos de vista. Rio de Janeiro - Argus, 1999. pgs.71-73.]

sábado, 7 de agosto de 2010

A arqueologia da alienação

por Fernando F. Nicolazzi

A História da loucura é o primeiro grande texto de Foucault; sua tese de doutoramento que tomou seu tempo durante quase toda a segunda metade da década de 50Trata-se de uma parte de sua prática nos trabalhos em clínicas psiquiátricas motivados por uma grande curiosidade sobre os princípios da psicologia. Tomado pela crítica como um ícone da anti-psiquiatria, é neste livro que nasce, em seu pensamento, a noção de arqueologia.

A arqueologia da alienação é o conceito que lhe permitiu tratar do "grau zero na história da loucura", ou seja, não daquilo que foi pensado sobre ela, mas daquelas que foram as condições de possibilidade para um pensamento sobre a loucura. Direcionando seu olhar a uma região de vazio, isto é, "uma região, sem dúvida, onde se trataria mais dos limites do que da identidade de uma cultura", Foucault quer "interrogar uma cultura sobre suas experiências limites (o que significa) questioná-la, nos confins da história, sobre um dilaceramento que é como o nascimento mesmo de sua história" . Em outras palavras: a arqueologia de 1961 é o que permite ouvir, no silêncio do tempo, a instauração originária do que são os limites de uma cultura, que lhe dão seus contornos e que definem, por assim dizer, as condições de sua historicidade: a arqueologia é o estudo de história naquilo que é ausência da história.
Mas de que forma se dá esta pesquisa que, por se colocar abaixo da história, não permite a utilização dos instrumentos da historiografia tradicional? Foucault é enfático: "não se trata de uma história do conhecimento, mas dos movimentos rudimentares de uma experiência". Deste modo, "fazer a história da loucura quererá então dizer: fazer um estudo estrutural do conjunto histórico" daquilo que constituiu a experiência da loucura na época clássica (séculos XVII-XVIII) – noções, instituições, conceitos científicos, práticas sociais, etc. Ainda que mais tarde, como veremos, Foucault reagirá ferozmente contra aqueles que o inseriram no estruturalismo, a linguagem utilizada por ele se deve, sobretudo, ao ambiente francês dos anos 50 e 60, de Barthes, Lacan, Lévi-Strauss e Althusser.

O que é certo, porém, é a peculiaridade do estudo estrutural realizado por ele. Muito diferente da pesquisa das estruturas sociais que desconsidera os eventos históricos como não significativos historicamente, na história da loucura os acontecimentos têm papel fundamental. Se Braudel afirmara em relação aos acontecimentos que, "para além de seu clarão, a obscuridade permanece vitoriosa", onze anos depois, para Foucault, os eventos pontuais se libertam de seu caráter obscuro e, com toda sua visibilidade, vão assumir uma função simbólica preponderante, pois que evidenciam a superfície cultural em relação a qual uma experiência da loucura toma lugar. Assim, discorrendo sobre a onda de internamento de mendigos, vagabundos, alienados, miseráveis que ocorreu na Europa no século XVII, a significação, quer espacial quer temporal, do internamento é vislumbrada a partir de datas de referência: em "1656, decreto da fundação, em Paris, do Hospital Geral"; "nos países de língua alemã, é o caso da criação das casas de correção, as Zuchthäusern (1620)"; "na Inglaterra, as origens da internação são mais distantes (...) um ato de 1575 prescreve a construção de houses of correction". A recorrência a datas significativas (um édito real, a construção de um hospital, um texto científico) é uma constante no livro. No entanto, os acontecimentos não significam isoladamente, e, em certos momentos, eventos de superfície não atingem as grandes estruturas. Portanto, "por trás da crônica da legislação (...), são essas estruturas que se tem de estudar".

A arqueologia, na relação que, enquanto estudo estrutural, mantém entre acontecimento e estrutura, se pretende algo além da mera "crônica das descobertas ou de uma história das idéias": define-se como a descrição "do encadeamento das estruturas fundamentais da experiência, a história daquilo que tornou possível o próprio aparecimento de uma psicologia". Aparecimento que encontra sua visibilidade em determinados acontecimentos significativos; acontecimentos que obedecem ao movimento temporal de estruturas históricas.

O surgimento da psicologia é visto como a ocorrência de um fato cultural motivado, sobretudo, por uma experiência da loucura. Roberto Machado e, seguindo-o, André Queiroz atribuem a esta "experiência fundamental" um caráter originário das figuras da loucura, para o primeiro, e, para o segundo, uma certa continuidade trans-histórica que impossibilitaria uma descontinuidade absoluta na história das percepções da loucura. O posicionamento arqueológico é, portanto, não um simples método historiográfico, mas o lugar onde é preciso se colocar para analisar aquilo que é um pouco anterior à história, que é mesmo sua condição de possibilidade: uma continuidade muda e fundamental que faz ecoar as figuras históricas da loucura.

Finalmente, por ser originária de uma certa história, a experiência da loucura está além do próprio saber sobre ela e, por conseguinte, do próprio sujeito que conhece: ela se encontra no nível da simples percepção, anterior à tomada de consciência: "o medo diante da loucura, o isolamento para o qual ela é arrastada, designam, ambos, uma região bem obscura onde a loucura é primitivamente sentida – reconhecida antes de ser conhecida – e onde se trama aquilo que pode haver de histórico em sua verdade imóvel". Se a história pode, realmente, ser feita por sujeitos que a conhecem, ela nasce ali mesmo onde não há sujeito de conhecimento, onde o perceptivo impera anterior ao cognitivo, onde o medo se sobrepõe ao saber, aonde, enfim, só uma arqueologia pode dirigir seu olhar e, de fato, vislumbrar uma história.

As Histórias de Michel Foucault
Fernando F. Nicolazzi
Mestrando - UFRGS
teobaldorios@hotmail.com

quinta-feira, 1 de julho de 2010

ESTUPRO EM FLORIANÓPOLIS POR MENORES

ENQUANTO TRABALHAMOS ESTAMOS CRENTES QUE NOSSOS FILHOS ESTÃO BEM GUARDADOS E AMPARADOS NUMA ESCOLA QUE ACREDITAMOS SER SEGURA. NOSSOS FILHOS ESTÃO A CADA DIA FAZENDO NOVAS AMIZADES E CONSTRUINDO SUA HISTÓRIA. INOCENTES ATÉ PROVAREM AO CONTRÁRIO. E NESTA LINHA DE PENSAMENTO, QUE QUERO RELATAR SOBRE ESTA VIOLÊNCIA OCORRIDA NESTA CIDADE TÃO PROVINCIANA QUE É FLORIANÓPOLIS.
TUDO ACONTECEU A UM MÊS, MAS AS NOTÍCIAS CHEGARAM SOMENTE AGORA. A REALIDADE, OS FATOS SÃO APURADOS, E UMA MENOR DE 13 ANOS É ESTUPRADA POR 2 OU 3 GAROTOS DE 14 ANOS, EM PLENA BEIRA MAR NORTE, NUM APTO LUXUOSO, DE FAMILIA RICA E TRADICIONAL DA CIDADE. SÃO GRANDES OS INDÍCIOS DE DROGAS. SÃO GRANDES OS INDÍCIOS DE CRUELDADE SOFRIDOS PELA MENINA, VÍTIMA POR QUALQUER QUE SEJA A RAZÃO DESTA ESTAR LÁ. SEJA POR OPÇÃO, SEJA POR INDUÇÃO. A FRIEZA E A AÇÃO EM SI, LEVANTAM MUITAS QUESTÕES: COMO ESTES ADOLESCENTES CHEGAM A UM NÍVEL DE LOUCURA TAMANHA A PONTO DE QUASE MATAR UMA GAROTA INDEFESA? FALTA DE PUDOR? MÁ EDUCAÇÃO? IMATURIDADE? VAGABUNDAGEM? TESÃO? OU "DOENÇA"?
SÃO ESTES OS PONTOS A SEREM DISCUTIDOS AQUI NESTE BLOG. POIS O COLÉGIO EM SI, NÃO TEM QUALQUER CULPA SOBRE ESTE EPISÓDIO. ELE É MERO EXPECTADOR, ASSIM COMO NÓS. A FAMÍLIA SIM, TEM RESPONSABILIDADES SOBRE OS ATOS COMETIDOS POR ESTES DELINQUENTES JUVENIS. SÃO RESPONSÁVEIS POR NÃO PERCEBEREM ALGO ERRADO COM SEUS FILHOS, FAZEREM VISTA GROSSA, SEREM PERMISSIVOS QUANDO ESTES APRONTAM NA ESCOLA OU EM CASA. PASSAR A MÃO NA CABEÇA NÃO AMENIZA NADA, MAS SIM POTENCILIZA AQUILO QUE ESTÁ GUARDADO DENTRO DA MENTE, SEJA DE UM MANÍACO PERVERSO, SEJA DE UM SOCIOPATA, SEJA DE QUALQUER PSICOPATOLOGIA. É BOM ENTENDER QUE TRANSTORNOS PSICOLÓGICOS EXISTEM EM TODAS AS IDADES. E POR ISTO, TEMOS QUE NOS ATENTAR PARA OS SINAIS DESTES DISTÚRBIOS, QUE COMEÇAM A SER APARENTES AINDA NA INFÂNCIA.COMO PERCEBER? FÁCIL. VOCÊ SABE QUANDO PESSOAS NÃO AGEM DE FORMA "NORMAL" OU SEJA, NÃO ACOMPANHAM O COMPORTAMENTO ACEITO SOCIALMENTE. POSSUEM ANORMALIDADES. SÃO DIFERENTES. COMO TRATAR? PROCURAR UM PROFISSIONAL QUE INICIE UM TRATAMENTO, SEJA MEDICAMENTOSO, SEJA TERAPÊUTICO, SEJAM AMBOS.O QUE NÃO SE PODE É TAPAR OS OLHOS E ESPERAR QUE A PRÓXIMA VÍTIMA SEJA ALGUÉM A QUEM AMAMOS OU CONHECEMOS. TEMOS QUE PEDIR JUSTIÇA E RIGOR NAS INVESTIGAÇÕES. A IMPUNIDADE NÃO PODE SER LEMBRADA NESTE EPISÓDIO. POIS SE ASSIM FOR, TEREMOS MUITOS ESTUPROS E MUITOS ASSASSINATOS POR VIR NESTA CIDADE. DA FORMA COMO ESTES ADOLESCENTES ESTÃO CAMINHANDO, NÃO SERÁ DIFERENTE. MUITA VIOLÊNCIA EM SEUS ATOS E PALAVRAS, MUITA COMPETITIVIDADE ENTRE BURGUESIAS, MUITA FACILIDADE NESTA ERA GLOBALIZADA, MUITA FALTA DE RESPEITO COM O OUTRO, MUITA COISA RUIM FAZENDO PARTE DESTE UNIVERSO ADOLESCENTE.
ESPERO QUE A ESCOLA E A FAMÍLIA CONSIGAM ULTRAPASSAR ESTA BARREIRA DIFUSA QUE EXISTE ENTRE AMBAS, PARA JUNTAS TRABALHAREM EM PROL DESTAS CRIANÇAS, FUTURO DE NOSSA NAÇÃO.A ESCOLA COMO FACILITADORA DE CONFLITOS E OBSERVADORA DE DISFUNÇÕES E A FAMÍLIA, COMO SUPORTE EMOCIONAL E COSNTRUTOR DE VALORES.
ENFIM, A PSICOLOGIA, QUE A CADA DIA SE TORNA MAIS IMPRESCINDÍVEL NA VIDA DAS PESSOAS, DEVERIA SER MAIS RESPEITADA COMO PROFISSÃO, VISTO SEU GRANDE BENEFÍCIO NOS RESULTADOS E SEUS TRATAMENTOS.
SOBRE O CASO:
NÃO PROCUREM SABER NOMES, E SIM PROCUREM FAZER JUSTIÇA. JÁ SABEMOS QUE EXISTE UMA VÍTIMA, E ISTO JÁ "BASTA"!!!!

domingo, 27 de junho de 2010

As escolas já não são mais o templo sagrado do saber

07/06/2010

A Folha publicou ontem, no caderno Cotidiano, uma reportagem que mostra o que acontece na quadra de uma escola estadual aqui de São Paulo localizada na Av. Indianópolis, na zona Sul. O local é usado como ponto de prostituição, principalmente por travestis. O link para a reportagem é http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff0606201009.htm

Escrevi um texto, publicado na mesma reportagem com o título acima, refletindo a respeito do fato. Segue o texto.


"A escola já foi considerada um local sagrado e, portanto, reverenciado, estimado, cuidado e respeitado por todos. Uma de suas denominações, inclusive, era "Templo do Saber". Atualmente, elas são o retrato colorido de nossa sociedade, um espelho do estilo de vida urbana que temos levado e do tipo de relação que estabelecemos com os mais novos.

Assim sendo, a escola não é um local inviolável. A criminalidade e a violência, o descaso com o patrimônio público -bem de todos-, o caos das relações interpessoais de um mundo individualista e simétrico, a competitividade levada ao seu grau mais extremado, a grosseria, o desrespeito às leis que nos protegem, o tráfico de drogas e o consumismo -também de sexo- são algumas das características de nossa sociedade.

Tais características se tornam, assim, elementos presentes no ambiente escolar, já que os muros que o cercam não são impermeáveis.

Não se iluda, caro leitor: as imagens do que ocorre no entorno da escola estadual Professor Alberto Levy, na zona sul de São Paulo, não mostram um fenômeno exatamente localizado. De modo mais ou menos estridente, esse é o espírito da sociedade que ajudamos a construir e que ronda nossas escolas e, por consequência, nossas crianças e jovens.

Não há dúvida alguma de que a Secretaria Estadual da Educação, a polícia, a própria unidade escolar e seus trabalhadores, o bairro do entorno, as famílias dos alunos etc. deveriam ter sua quota de responsabilidade nessa questão.

No entanto, na mesma medida -vamos reconhecer- todos eles têm também sua parcela de impotência frente a fenômenos desse tipo.

Fazer o quê? Ou, melhor dizendo: o que fizemos e fazemos para que o mundo adulto escancare dessa maneira, sem quaisquer pudores, suas mazelas também aos mais novos?

O pior de tudo é que nós já temos muitas respostas para dar a essa pergunta."



Escrito por Rosely Sayão às 13h12

domingo, 4 de abril de 2010

A VIDA DEPOIS DA MORTE

Novos estudos mostram que o luto é um processo mais complexo – e muitas vezes mais rápido – do que se imaginava. De onde vem a força do ser humano para superar a dor?

Marcela Buscato

Marilena Fernandes achava que estava começando a redescobrir a vida, nove anos depois da morte do marido, quando um acidente de carro lhe roubou o filho Paulo, de 20 anos. Ela decidiu abrir as cortinas de casa e enchê-la de flores. Não queria que os três outros filhos levassem uma vida amargurada. Desde então – e lá se vão cinco anos – desfila suas alegrias e tristezas todo ano em uma escola de samba. Alice Quadrado transformou o pesar causado pela morte da filha Eliana, aos 25 anos, em vontade de ajudar. Percebeu quanto outros pais que passavam por essa situação se sentiam sozinhos. Fundou a associação Casulo, onde uns apoiam os outros e encontram forças para seguir em frente. “Foi a maneira que encontrei para dar significado a algo de muito ruim”, diz. Marilena e Alice descobriram o que existe além de uma das piores dores a que os seres humanos estão sujeitos: perder um filho.
“Já enterrei amigos, irmãos, mãe. Nada se compara à perda de uma filha”, diz Ana Cristina de Freitas Rocha, de 57 anos, mãe de Tatiana. A jovem de 20 anos morreu em 2005, de uma infecção generalizada diagnosticada tarde demais. “Essa dor é hors-concours”, diz Ana Cristina, usando uma expressão francesa que significa “fora de competição”. É justamente essa avalanche de sentimentos, que atinge quem perde alguém amado, que os cientistas têm tentado revolver. A quem viveu grandes tragédias pessoais, fizeram a mesma pergunta que nos ocorre ao conhecer histórias como as descritas nesta reportagem: como é possível superar a dor que tanto tememos? Nós seríamos capazes?

Há bons motivos para acreditar que sim. “Somos mais fortes do que pensávamos”, afirma o psicólogo americano George Bonanno, pesquisador da Universidade Colúmbia, nos Estados Unidos, e referência no estudo de fenômenos ligados à morte. Em seu livro The other side of sadness (O outro lado da tristeza, ainda sem tradução no Brasil), Bonanno compilou uma série de estudos recentes que obrigaram os especialistas a repensar o que se sabe sobre como reagimos à morte. Esses estudos parecem mostrar que a maior parte das pessoas consegue se refazer de uma perda rapidamente, às vezes em questão de semanas. E sugerem que não existe um roteiro de emoções a serem sentidas para que a superação aconteça. No depoimento da página 84, Ana Carolina de Oliveira, a mãe da menina Isabella Nardoni, relata como cada membro da família superou de forma diferente a perda da menina.

Até recentemente, a teoria mais difundida para explicar a reação humana à morte era a dos “cinco estágios do luto”, desenvolvida pela psiquiatra suíça Elizabeth Kübler-Ross, em 1969. Ela apregoa que, até superar uma perda, as pessoas enlutadas passam por fases sucessivas de negação, raiva, barganha, depressão e aceitação. Essa teoria entrou até para a cultura pop: foi tema de um episódio recente do seriado americano Grey’s anatomy e serviu como conteúdo ilustrativo para demonstrar o funcionamento do novo aparelho da Apple, o iPad. Kübler-Ross teve o mérito de chamar a atenção para um assunto até então ignorado, mas seu pioneirismo não foi seguido pela publicação de novos estudos.

Na década de 90, a geração de novatos à qual pertencia Bonanno notou as lacunas no conhecimento sobre o luto e desencadeou uma onda de estudos. “Chegamos a conclusões surpreendentes, simplesmente porque fizemos perguntas básicas que ninguém tinha feito”, diz Bonanno. Percebeu-se que os escassos estudos anteriores eram feitos com voluntários que haviam procurado ajuda de psiquiatras e psicólogos – logo, tinham mais dificuldades que a média para lidar com o luto, o que distorcia os resultados.

O próprio modelo dos cinco estágios do luto é um exemplo. Kübler-Ross tinha desenvolvido sua teoria observando o comportamento de pacientes com doenças terminais, o que não corresponde necessariamente à reação a outros tipos de morte. Mesmo as fases de negação, raiva, barganha, depressão e aceitação foram definidas a partir da interpretação subjetiva de Kübler-Ross e seus colegas das entrevistas com os pacientes. Até o fim da vida, em 2004, Kübler-Ross disse que sua pesquisa não havia sido bem entendida e que nunca dissera que essas cinco fases se aplicam a todos os casos nem que eram nitidamente separadas. Mas, ante a vontade de entender a inquietação humana diante da morte, sua teoria era irresistivelmente simplificadora.

Os novos estudos, com uma gama mais ampla de pessoas, concluíram que há outras maneiras de lidar com a morte de quem amamos. “Cerca de metade das pessoas lida muito bem com a perda e volta à vida normal em semanas”, diz Bonanno, que analisou uma série de levantamentos para chegar a essas estatísticas de referência. “Outros 25% sofrem por um período maior, que pode durar de alguns meses até um ano. Cerca de 15% desenvolvem graves dificuldades que afetam a convivência social e o desempenho no trabalho.”

A morte de 3 mil pessoas nos atentados terroristas de 11 de setembro de 2001, nos Estados Unidos, teve um papel inesperado no novo entendimento da ciência sobre a morte. O trauma redespertou o interesse da ciência pelo tema e impulsionou uma série de estudos que acompanharam a recuperação dos moradores de Nova York. Os resultados foram surpreendentes. Apenas seis meses após a tragédia, 65% das pessoas entrevistadas mostravam-se emocionalmente equilibradas. Essa taxa era alta até entre aquelas que perderam um amigo ou um parente na tragédia: 54% não tiveram a saúde emocional abalada, 35% já tinham se recuperado depois de desenvolver algum tipo de trauma e apenas 11% ainda enfrentavam dificuldades para se recuperar. As proporções, semelhantes àquelas encontradas por Bonanno e seus colegas em seus primeiros estudos, ajudaram a consolidar o nome que se deu ao outro lado da tristeza: resiliência.

Os atentados terroristas de 2001 geraram uma
série de estudos sobre a resiliência diante da morte
Os rostos que ilustram esta reportagem fazem parte dessa maioria à qual os especialistas chamam de “resilientes”. O termo, emprestado da física, traduz em sentido figurado o que ocorre com quem supera uma perda: é a propriedade que alguns corpos apresentam de retornar à forma original depois de sofrer um impacto. Isso não significa que não houve sofrimento ou que foi fácil. Em comum, os resilientes têm a decisão de continuar a viver – conscientemente, como Ana Cristina, ou de forma inconsciente, como Maria de Fátima Ferreira, que enfrentou um câncer de mama na mesma época da morte do filho Francesco, de 21 anos, em 2004. “As pessoas achavam que eu não ia aguentar. Eu achava que ia morrer junto”, diz. Mas ela venceu. Há quatro meses foi declarada curada pelos médicos.

Os cientistas acreditam que somos capazes de reações como a de Maria de Fátima – inexplicáveis até para ela – porque já nascemos dotados dessa capacidade de superação. Nossos genes e circuitos cerebrais teriam sido programados, ao longo de milhares de anos de evolução, para contornar o abalo provocado pela morte de pessoas com quem temos fortes vínculos emocionais. A depressão, descrita por Maria de Fátima e por outros milhares de pessoas que viveram uma tragédia, faria parte dessa estratégia. A tristeza causa uma sensação de torpor: o mundo parece estar em câmera lenta; perdem-se a fome, o desejo sexual e a vontade de viver. Essa prostração nos impediria de tomar decisões e atitudes que coloquem a própria sobrevivência em risco durante esse período. Hoje, essa função da tristeza pode parecer banal. Mas, quando nossos antepassados eram nômades, até 10 mil anos atrás, a sensação de torpor era uma questão de sobrevivência. Podia impedir que alguém entrasse por impulso em uma disputa por comida e apenas no decorrer dela se lembrasse de que seu parceiro não estaria por perto para lhe dar apoio. O período de depressão corresponderia ao período de atualização de nossos circuitos cerebrais a essa nova realidade.

A prostração soa como uma estratégia ruim de sobrevivência para nossos antepassados, às voltas com a luta diária pela vida. Mas, se ela for contrabalançada por oscilações entre depressão e otimismo, passa a fazer sentido. Quem já enfrentou a morte de alguém próximo sabe que o luto não é tristeza 24 horas por dia, sete dias por semana. Há dias em que mergulhamos no mais profundo pesar. Em outros, a vida parece ter voltado ao normal e há até momentos de genuína alegria. A teoria dos cinco estágios do luto, mostram os estudos recentes, é insatisfatória, definindo como lineares fases que são, na verdade, cíclicas.

Se o luto não é necessariamente tão sofrido quanto se imaginava, se a maioria consegue superar bem uma perda, por que algumas pessoas enfrentam tanta dificuldade? Os 15% estimados por Bonanno passam anos vivendo como nos primeiros e mais difíceis momentos do luto. Essas pessoas não conseguem retomar a vida. Vivem para a dor, em uma espécie de luto crônico, chamado pelos especialistas de “luto patológico” ou “luto complicado”. Além de prejudicar a qualidade de vida, ele aumenta os riscos de desenvolver desordens como depressão grave e transtornos de ansiedade. Um estudo da Universidade Yale, nos Estados Unidos, mostrou que esses enlutados crônicos correm um risco sete vezes maior de se suicidar.

A psicóloga americana Mary-Frances O’Connor, da Universidade da Califórnia em Los Angeles, deu um passo importante na investigação das causas do luto complicado. Ela pediu a mulheres que haviam perdido a mãe ou a irmã por câncer de mama que fizessem um exame de ressonância magnética enquanto observavam uma fotografia do parente que haviam perdido. Áreas do cérebro associadas à sensação de dor eram ativadas tanto nas voluntárias resilientes quanto nas que tinham sintomas de luto prolongado. Mas nas mulheres que não conseguiam superar o luto também era ativada uma área do cérebro ligada ao sistema de recompensa, o responsável pela sensação de prazer, chamada “núcleo accumbens”. “Isso significa que as pessoas resilientes parecem processar a perda de uma maneira rápida e eficaz”, afirma Mary-Frances.

Os pesquisadores acreditam que os genes que regulam nossas respostas ao estresse ajudam a determinar se uma pessoa terá uma personalidade mais ou menos sensível a situações que geram ansiedade. Um desses genes, conhecido por 5HTT, está associado à fabricação da molécula que bombeia para os neurônios a serotonina – substância que transmite as informações entre as células do cérebro. Há duas versões desse gene. Uma produz mais moléculas transportadoras de serotonina, o que estaria ligado a uma personalidade mais estável e equilibrada. A outra versão aumentaria a excitabilidade da amígdala, uma área do cérebro associada ao medo e às emoções. “Mais de 50 estudos já avaliaram esse gene e 70% deles mostraram que uma das versões torna a pessoa mais sensível a situações estressantes”, afirma a psicóloga Terrie Moffitt, pesquisadora da Universidade Duke, nos Estados Unidos, e autora de alguns desses estudos.

O 5HTT, sozinho, não explicaria tudo. Há no mínimo dezenas de outras variações genéticas que contribuem para nosso limiar de ansiedade. E os fatores ambientais são determinantes. “A reação de uma pessoa à morte sempre depende do contexto”, afirma a psicóloga Cristina Moura, pesquisadora da Universidade de Brasília. Por exemplo, a distância física da pessoa morta ou a surpresa por uma morte repentina e inesperada.

O luto complicado pode vir a ser incluído pela Associação Americana de Psiquiatria na lista de doenças reconhecidas pela entidade, em uma revisão a ser publicada em 2013. O principal obstáculo é a dificuldade de distingui-lo do luto “comum”. Em ambos, há falta de energia, crises de choro, perda de apetite, tendência ao isolamento. A diferença é que nos casos patológicos esses sintomas vão se agravando. “Esse reconhecimento é importante porque as pessoas precisam entender que o luto prolongado é um problema específico e precisa de tratamento especializado”, afirma a epidemiologista Holly Prigerson, coordenadora da equipe do Dana-Faber Cancer Institute, que está estudando uma forma de definir claramente o que é o luto prolongado.

É preciso terapia para lidar com o luto? Estudos
mostram que ela pode até ser perigosa em alguns casos
Holly toca em um ponto ainda delicado para a ciência do luto: até que ponto uma pessoa enlutada precisa de ajuda psicológica para seguir adiante? A teoria dos cinco estágios do luto, que influenciou e ainda influencia especialistas, levou pessoas que estavam reagindo de maneira natural a ser vistas como problemáticas – e compelidas por parentes e amigos a buscar tratamento psicológico. O assunto é polêmico, mas alguns pesquisadores acreditam que há casos em que a terapia pode fazer mais mal que bem. Alguns estudos mostraram que pacientes que haviam lidado bem com o luto e começaram uma terapia passaram a acreditar ser insensíveis – afinal, não sofriam como as pessoas achavam que eles deveriam. Outros começaram a se questionar se realmente queriam bem a quem morreu. Todos se sentiam na obrigação de sofrer e se empenharam na tarefa. Com base nesses estudos, o psicólogo Scott Lilienfeld, da Universidade Emory, nos Estados Unidos, incluiu a terapia para casos de luto em uma lista de tratamentos potencialmente perigosos. “Se há a possibilidade de a terapia suscitar efeitos negativos, é melhor implementá-la com precaução”, escreve Lilienfeld em seu artigo na publicação científica Perspectives on Psychological Science. A metodologia das pesquisas que levaram Lilienfeld a essa conclusão é discutível. Muitas não especificam qual linha de terapia foi foco do estudo nem quais eram os parâmetros para estabelecer se o paciente melhorou ou piorou.

Como em todo tratamento psicológico, o resultado depende da disposição do paciente. “Nenhuma terapia é eficaz se a pessoa acredita que não precisa de ajuda e não coopera. Nem todo mundo precisa de ajuda”, diz a psicóloga Maria Júlia Kovács, coordenadora do Laboratório de Estudos sobre a Morte da Universidade de São Paulo.

Também existem estudos em favor da terapia. O psicólogo Julio Peres é um dos poucos no Brasil a estudar seus efeitos sobre o cérebro de pessoas que passaram por situações traumáticas. Ao submeter 16 pacientes a tomografias, após oito sessões de terapia, Peres percebeu que a atividade cerebral, enquanto eles recordavam a experiência, havia aumentado no córtex pré-frontal e diminuído na amígdala. As conclusões são significativas porque o primeiro é a área do cérebro encarregada do raciocínio lógico e da categorização das experiências e a segunda está relacionada a nossas respostas emocionais. “As terapias de fala, como a cognitiva e a psicanalítica, obrigam a pessoa a organizar suas experiências”, afirma Peres. “É como puxar a ponta de um novelo de lã.” Falar da dor – e estudar como reagimos a ela – ajuda a nos tornar mais tolerantes à presença da morte a nossa volta.

O que os cientistas descobriram sobre o luto
Pesquisas recentes analisaram à luz da ciência o sofrimento causado pela morte de alguém querido. E revelaram imprecisões nas teorias sobre a dor aceitas durante décadas.

fonte: revista época
http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI128114-15228-2,00-A+VIDA+DEPOIS+DA+MORTE.html

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

NOSSO BENDITO "ANJO" ALLISON



ALL (tudo) IS (está) ON (em cima)




AMIGO QUERIDO...



COMO PODEMOS ACEITAR QUE VOCÊ PARTIU?


É MUITA DOR E MUITA SAUDADE...


TEMOS MEDO QUE TUA AUSÊNCIA NOS ENFRAQUEÇA...


SÃO TANTOS OS MOMENTOS FELIZES...


TUA ALEGRIA...

TUA POESIA...


PRESENTE EM TUDO...

PRESENTE EM TODOS...


VOCÊ NOS DIZIA SERMOS SINGULARES...


MAS SINGULAR E ESPECIAL É VOCÊ...


ALEGRIA RADIANTE...


SORRISO CONTAGIANTE...


AMIGO DE TODOS...NÃO SÓ DE ALGUNS...

PERDER VOCÊ... DEIXA UM LUGAR A MAIS QUE NUNCA SERÁ PREENCHIDO PELOS DEMAIS...


AMAMOS CADA MÚSICA...CADA POESIA...CADA GESTO SEU...


ALLISON...CANTE ONDE QUER QUE ESTEJAS E ALEGRE ESTE SER SUPERIOR A NÓS...QUE DEVE TER SEUS MOTIVOS PARA TÊ-LO LEVADO TÃO CEDO JUNTO Á ELE...



5 FASE VESP

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

A PSICANÁLISE DO SÉCULO XXI

COM JORGE FORBES

Na última quinta-feira, 27 de agosto, Jorge Forbes encerrou o módulo que dirige na cpflcultura / TV Cultura com a conferência JACQUES LACAN E A PSICANÁLISE DO SÉCULO XXI.Em decorrência das mudanças do século XXI, as pessoas se perguntam se a psicanálise deste século não deve ser diferente da psicanálise do século passado. A conferência foi uma resposta à provocação : - Como Jacques Lacan poderia se posicionar frente aos problemas e as crises do mundo hoje?Jorge Forbes apresentou um trabalho magnífico conceituando todo o ensino de Lacan e seus dois momentos : a primeira e a segunda clínica de Jacques Lacan.A primeira clínica - marca o momento de entrada de Lacan na psicanálise - vai de 1953 a 1970. Uma clínica pertinente ao século XX, que consagrou Lacan como aquele que trouxe a linguística para a psicanálise. Até então, o analista pós-freudiano preenchia o silêncio do analisando ou devolvia a ele o que havia dito, de uma forma mais palatável. O analista fazia uma certa maternagem em relação ao seu paciente. Lacan devolve a virulência da psicanálise à época de Freud.Forbes conta como Freud, a partir de um livro muito caro a ele, que leu aos 14 anos " Como se tornar um escritor original em três dias", de Ludwig Borne (Baruch Lob) e de Anna Ó, paciente de Breuer - que queria falar sem ser interrompida, queria limpar sua chaminé, fazendo sua talking cure - criou o método da associação livre.
Lacan se vale da obra de Ferdinand de Saussure para fazer o mundo perceber a instância do significante no inconsciente. Os analistas deviamrepetir de certa forma aquilo que Anna Ó havia descoberto - que o saber não estava nem com oanalista ou o médico, nem com o paciente, mas na associação livre, numa instância que se dá nesse encontro. A partir daí, a questão de colocar alguém em análise é a de possibilitar a saída da cena imediata - ego a ego (eu e você) - para outra cena, um outro lugar, onde aquilo que é dito ganha um sentido novo que ultrapassa aquelesdois que estão conversando. E porque tenta-se
ultrapassar o eu e o você é que convida-se uma pessoa a deitar no divã - um instrumento técnico facilitador, não obrigatório - e iniciar uma análise.Na primeira clínica não é o analista, nem é o analisando, mas sim o Complexo de Édipo que vai dar sentido ao mundo.Neuroses, psicoses e perversões são formas da pessoa criar uma ligação com aquilo que estamos para todo e sempre desligados - o mundo. Entre este eu e o mundo existe sempre uma discordância, que não se resolve mesmo que eu modifique meu mundo.
Já dizia o poeta: Mundo, vasto mundo, se eu me chamasse Raimundo, seria uma rima, não uma solução. (DRUMMOND) O Complexo de Édipo, que durou 100 anos, criado por Freud, foi possível porque a sociedade era vertical. Funcionou como uma vacina; pegou bem. Hoje a sociedade não é mais assim e o Complexo de Édipo não funciona como antes.A segunda clínica de Lacan - menos conhecida e menos difundida - vai de 1970 a 1981. Um Lacan com 70 anos de idade, apressado, que sabia não ter espaço para rever todo seu ensino, nos deixa essa segunda clínica incompleta como um plano arquitetônico (Forbes faz menção à catedral de Gaudi), para que seus alunos continuem a desenvolvê-la.Jorge Forbes tem se dedicado a esse projeto de Lacan por entender que essa segunda clínica é a que responde ao homem de hoje. A partir de 1970 há uma mudança na psicanálise - saímos do Freud explica e passamos para Freud implica.A psicanálise não dá uma visão de mundo, mas põe em questão todas as visões do mundo. Ela diz de outro tipo de felicidade, uma felicidade que a pessoa não pode explicar, que não é uma verdade provada, mas é uma verdade mentirosa. A felicidade do acaso, não a felicidade por merecimento.Lacan fala de outra clínica do sujeito do inconsciente, que não passa pela palavra. A psicanálise, clínica da palavra, passa a tratar de algo que passa fora da palavra. Não tem mais aquela coisa da pessoa ficar se perguntando o que há por trás do que ela está dizendo, mas sim, saber que não há nada além daquilo, não há nada mais que ela possa nomear, ela pode até inventar. No final de análise, na segunda clínica de Lacan, há o que chamamos de desabonamento do inconsciente - não há mais essa descarga de irresponsabilidade. A pessoa se dá conta de algo duro - é um sintoma, mas não o sintoma inicial, que a pessoa trouxe para a análise, esse sintoma decifrável - mas um sintoma indecifrável, que não será mais transformado: a pessoa descobre que ela é o seu sintoma. É a última formulação de Lacan sobre o que é o final de análise - é a pessoa se dar conta de sua existência como um sintoma não decifrável. Como lidar com isso?- Inventando algo- Responsabilizando-se por essa invenção e fazendo-a passar no mundo.É um duplo movimento necessário à análise: invenção e responsabilidade.É na segunda clínica de Lacan que encontramos respostas para os laços sociais tocados pelo real:
Família - um amor sem conversa.
Educação - não se traduz informação em conhecimento sem responsabilidade; precisamos legitimar a informação.
Amor - era justificado, agora é sem justificativa. O amor era em nome de; hoje é um amor direto, sem intermediários.
Comércio - antes vendia-se objetos; agora o produto é uma experiência de cultura.
Empresa - a gestão é horizontal; o líder tem características opostas às de ontem.
Política - Brasília não é nosso pai; não estamos numa ordenação edípica. Estamos num momento de passagem; será necessário uma nova organização da política.
Para concluir: a qualidade de vida saiu das mãos de Aristóteles, de Nietzsche e passou a manuais de auto-ajuda. Um disfarce de vida nua, uma forma moralista menor que gera alguns desastres. É totalmente diferente de uma vida qualificada.
Segunda-feira, Agosto 31, 2009