terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Olhar psicológico sobre o brilhante filme: CISNE NEGRO

por Jecely Teixeira*

Ontem assisti o filme chamado “Cisne Negro”...

O filme a princípio nos mostra claramente e antes de tudo a relação mãe-filha de uma forma simbiótica, manipuladora, obsessiva, castradora, possessiva e porque não dizer como na modinha de todos os blogs que li: “esquizofrênica”. O que acho engraçado é que 80% dos que escreveram nos seus blogs, creio que não tem noção nem de psicologia, psiquiatria e nem psicanálise para fazerem tais comentários, fora que além de tudo, um vira cópia descarada do outro, só para constarem que não são acéfalos.

Bom, voltando ao filme como eu falei acima, de cara percebe-se a relação mãe-filha que é o pilar para a estrutura do sujeito, sendo que toda mãe, é o nosso primeiro objeto de amor e com uma filha, isso é mais delicado se não há um terceiro para quebrar essa relação. No filme basicamente mostra o desejo de realização + frustração, posse, castração e obsessão da mãe para com a filha e da filha cujo se realizava em aceitar os caprichos de sua mãe, não tinha autonomia, vida própria, reprimindo seus desejos, sejam eles sexuais, psicossociais --- uma aparente normalidade no período anterior ao surto — a personalidade "como se" fachada obsessivo-compulsiva.
A mãe já demonstra claramente traços psicóticos. Sem vida social, trancada num apartamento, vivendo só para a filha e a vida da mesma, de uma forma de TOC, num misto de inveja, realizações e repressões e pintando rostos e umas pitadas psicóticas; não psicopatas ok gente?
E quando uma pessoa narcísica com mania de perfeição se depara com alguém que ele julga mais perfeito que ele? É o caso da Nina “personagem principal do filme” – ( todo TPB – transtorno de personalidade borderline tem traço narcísico) o insight da loucura começa a desencadear. Com isso, mexe com sua estrutura que estava ali, quieta e pronta para atuar, a loucura de todos nós, a loucura que reprimimos, que guardamos na caixa de pandora. Interessante quando ela se dá conta que já tem 28 anos, que não é mais a menininha da mamãe, que é uma mulher, que tem desejos, vontades não saciadas, pois, sua mãe queria uma filha assexuada. Então joga desesperadamente todos só bichinhos de pelúcia do seu quarto infantilizado.

Abrirei um espaço aqui para explicar só mais um pouco o desejo da Nina pela Lily e a simbiose com a mãe:
Para M. Klein já em 1960 antecipou os pontos de regressão e fixação da homossexualidade feminina numa etapa anterior a postulada por Freud, enfatizando o temor fundamental da menina em relação ao interior do seu corpo e a curiosidade e ataques sádicos dirigidos ao interior do corpo da mãe, tentando arrebatar-lhe o pênis cobiçado. Já Aisemberg (1986) diz que: “Todo vínculo vem de uma identificação ou toda identificação contém a história de um vínculo, história que reconstruímos quando na análise nos desidentificamos”. O mesmo autor ainda descreve três tipos de identificações sexuais, na mulher, que se encontram seriamente perturbadas na homossexualidade clínica:


1) A identificação com a mãe materna, fruto do desenlace da fase edípica, portanto, ligada à estruturação narcísica e ao desejo de ter e criar filhos;

2) A identificação com a mãe erótica, a mãe rival do Complexo de Édipo positivo. Resultado do desenlace edípico onde a mãe é identificada como aquela que se oferece ao pai como objeto de desejo. Identificação para a vida amorosa e erótica;
3) A identificação com o pênis do pai, e identificação com os aspectos ativos e penetrantes do pai interditor, que tira a filha do narcisismo com a mãe e a introduz no mundo externo, com o que já não será psicótica e nem perversa” (Aisemberg apud Graña,1998).


É necessário uma outra identificação com o pai, que confirma a menina como desejável na encruzilhada edípica. Se a expressão da experiência erótica feminina chega a ser tão problemática, a representação da sexualidade lesbiana o é ainda mais, pois rompe com as relações dominantes de gênero, ao excluir a figura do homem e colocar a mulher em uma posição de sujeito atuante, em vez do papel tradicional de objeto do desejo masculino. Assim, o desejo lesbiano na obra de escritoras brasileiras não só representa uma dimensão importante da sexualidade feminina, como também serve para expor e questionar o controle social sobre a sexualidade e o corpo feminino.
A lesbianidade abre um espaço para a realização pessoal e sexual da mulher, no qual a identificação com outro ser seu igual torna possível a auto integração do sujeito feminino. Como tem sido analisado pela teoria crítica contemporânea, as origens dessa identificação física e psíquica entre mulheres remonta ao semiótico (quando a criança encontra-se num estágio de perfeita simbiose com a mãe. Esse primeiro estágio de união influencia as relações posteriores do sujeito e determina na mulher um tendência à bissexualidade e a uma sexualidade mais fluida.

Conseguiram entender? Vamos voltar a falar sobre filme:
Pressionada por Thomas Leroy (Vincent Cassel), um exigente diretor artístico, Nina começa a fazer os exercícios repetidos que chegam levá-la a exaustão e a pressão psicológica torturante que beira a loucura por isso, de certa forma vendo mais calmamente o filme não concordo com o estereótipo do rótulo da esquizofrenia que virou moda agora todo mundo chegar e bater o martelo, sem darem conta que no filme mostra um retrato fiel do comportamento Borderline.
Nina (Natalie Portman), projeta seu EU na sua colega Lily numa paranóia de perseguição inexistente. Como ela sempre viveu em função da mãe, aos desejos e caprichos da mesma, não deve ter vivido sua adolescência que obviamente aflorou no momento errado. Suas alucinações e delírios ficam cada vez mais forte quando vai se aproximando o dia de sua estréia. Notem: ela visita a outra bailarina acidentada, qual ela no íntimo se culpa por estar em seu lugar, qual crê que a Lily teria o mesmo desejo dela, tanto que quando ela delira, tem a real noção que teria transado com a amiga, e tudo não passou de seus fortes desejos reprimidos, daí, voltamos à ligação mãe-objeto de amor, tanto é que quando ela transa, quem ela vê? a mãe. A patologia ficou tão intensa que ao final você percebe que o maior inimigo dela, é ela mesma. E o balé entre a neurose e a psicose faz seu último ato: a morte, porque a neurose não suporta a loucura e a loucura transcende a neurose. Passamos daí, a analisar as circunstâncias do desencadeamento da psicose. Para cada sujeito, a foraclusão do “Nome-do-Pai” ficará evidenciada em articulação com as vicissitudes de sua história e seu processo singular de travessia da adolescência que ela não teve no seu devido tempo. Quando uma pessoa que entra na adolescência é como se estivesse andando sobre um abismo, uma ponte invisível. Então se a pessoa cai no abismo ela precisa de alguém que lhe jogue uma corda e a tire do abismo, ela não consegue sair do abismo sozinha.
Vamos pensar um pouco sobre a questão da loucura - Freud inverte a perspectiva psiquiátrica acerca dela. Para a psiquiatria, a loucura é (dês)razão, contra-senso, erro, e a verdade se encontra do lado do médico. A psicanálise se afasta dessa perspectiva ao demonstrar que o delírio é portador da verdade do sujeito. Ou seja, entre o louco e o saber psiquiátrico, Freud dá razão àquele.

Nina no ato final crê que matou sua maior inimiga, e dança com todo prazer, transcendendo a culpa, se sentindo livre do que mais a atormentava e quando sai do delírio, percebe que ela não matou a Lily e sim, enfiou o vidro do espelho nela mesmo. Daí, o ato final, a loucura retorna ao seu lugar, ela dança com perfeição.

A metáfora do filme é muito simples: da realidade à loucura é um leve assoprar... Tudo vai do normal ao patológico em fração de segundos, é só abri a caixinha de pandora – o cisne branco representa todo pé na neurose estabelecida, no padrão de realidade criado por quem? Por nossa família e pela sociedade, representa o bem, o bom...a pureza e o cisne negro é o surto, a loucura em ato, a dor, a psicose, a patologia dançando, a luxúria a carne, a inveja, o ódio encenando sem pudor, sem regras, livre, só quem é louco, é livre...não segue padrões,, são um retrato fiel desses momentos particulares. E mostrar que: “o nosso pior e maior inimigo somos nós mesmos.”


Caso queiram entender a relação Mãe-Filha, recomendo lerem o livro de Zalcberg chamado “A relação Mãe e filha” - editora Elsevier.

Caso queiram compreender mais sobre Transtorno Borderline clica aqui no link:


            
* Psicóloga com especialização em Neuropsicologia
            

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Abaixo o bullying homofóbico

Psicólogos aprovam material contra homofobia nas escolas
por Redação MundoMais



Enquanto há homofóbicos que reprovam o material sobre LGBTsdo Ministério da Educação sem ao menos tê-lo visto, oConselho Federal de Psicologia analisou-o e deu parecer favorável à sua utilização nas escolas.

Mesmo sem data para chegar aos colégios de ensino médio do país, o kit – formado por vídeos, guia de orientação para o professor e cartilhas – foi criticado em apresentação prévia naComissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados. Agora, o Conselho Federal de Psicologia entrou na discussão em defesa do material.

Dentre as razões apresentadas para a defesa está a importância do kit para enfrentar o bullying homofóbico e a possibilidade de pais, alunos e professores aprenderem a respeitar LGBTs com a ajuda dos vídeos e textos que integram a ação ministerial.

Uma comissão de psicólogos e especialistas avaliou o material para analisar a qualidade técnica, didática e pedagógica dos vídeos e textos e a adequação do conteúdo à faixa etária do público que o receberá. A previsão é de que 6 mil colégios tenham acesso ao material este ano. Para o CFP, os filmes e livretos que abordam conflitos de adolescentes em relação à sexualidade têm linguagem correta para os alunos que serão alvos do projeto e trata de forma cuidadosa os temas.

“Representa material de vanguarda, pois são instrumentos de capacitação e formação continuada para o próprio professor. O kit reforça a atenção e cuidado com os temas transversais da educação nas relações de ensino-aprendizagem, como no caso do respeito à diversidade sexual”, diz o relatório. A entidade diz que faz parte do compromisso profissional de qualquer psicólogo contribuir para reflexões sobre preconceito e o fim de discriminações sexuais.

O texto de cinco páginas começa justificando a importância da discussão do tema nas escolas, que têm a responsabilidade de formar cidadãos éticos e que respeitem as diferenças, segundo os psicólogos. “A discussão principal sobre o tema refere-se à necessidade de tratar preconceitos e discriminações que refletem uma violência (verbal, simbólica) reverberando nos espaços de convivência escolar”, afirma o texto.

De acordo com os psicólogos, faltam instrumentos de qualidade para que professores e orientadores trabalhem o tema em sala de aula. A iniciativa, para eles, é positiva. A entidade sugere ainda que outros setores, como redes sociais, desenvolvam projetos semelhantes para combater o preconceito.

O material foi elaborado em parceria com a Pathfinder do Brasil; a Reprolatina - Soluções Inovadoras em Saúde Sexual e Reprodutiva; e a ECOS - Centro de Estudos e Comunicação em Sexualidade e Reprodução Humana (São Paulo-SP), e conta com o apoio daAssociação Brasileira de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABGLT); da GALE – Global Alliance for LGBT Education, e da Frente Parlamentar pela Cidadania LGBT do Congresso Nacional.

Fonte: mundomais






quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

ESTAMIRA: MISSÃO CUMPRIDA

Por LUIZ FERNANDO GALLEGO

O filme Estamira revela antes de mais nada o respeito à escuta do outro, do diferente, do estranho. Estranho que, entretanto, nos é familiar de alguma forma. Como não admirar - e concordar - com a frase dita por uma doente mental crônica segundo a qual "não existem mais ´inocentes´, mas sim ´espertos ao contrário´ " ?

Em uma cidade, um estado e um país mergulhados num sufocante lixo ético, o "lixão" de Gramacho, nem tão longe da decantada "Cidade Maravilhosa", se transforma numa metáfora deprimente do estado a que chegamos. Com humor que nos atenua as dores intoleráveis, o "Barão de Itararé" assim chamava o "Estado Novo" getulista: o estado a que chegamos. Como chamar o atual estado de coisas a que chegamos?

Não nos iludimos achando que os inúmeros traumas e vicissitudes pelas quais passou a personagem real que dá título ao documentário de Marcos Prado teriam sido "a causa" de sua doença mental. Sua mãe também necessitou de tratamentos psiquiátricos. Uma tendência desfavorável já a acompanhava geneticamente. Mas sua história de vida (que o filme vai desvendando aos poucos), sua especificidade e sua subjetividade - única e irreproduzível - estão inscritas em seus delírios, alucinações e modo de estar no mundo. Nada é gratuito, tudo é revelado, desvelado ou re-escrito na forma de Dona Estamira se apresentar. Seu discurso pode chegar a formular lições de sabedoria, mas, antes de tudo, expõe sua percepção peculiar de si mesma e do mundo em que nos encontramos: delirante e sábia, confusa e cristalina, atordoante e provocadora de reflexão.

Quando o fotógrafo Marcos Prado, ainda no ano 2.000, encontrou Dona Estamira no Lixão que ele fotografava, ela lhe teria dito que tinha uma missão: revelar "a verdade". Perguntou-lhe se sabia qual era a missão dele. Como ele não respondesse logo, ela anunciou: "Sua missão é revelar a minha missão".

Sem se furtar à profecia oracular, Marcos Prado aceitou o papel que a louca do "lixão" lhe apontou. Durante anos seguidos visitou repetidamente Estamira e seus filhos em casa assim como não deixou de ir filmar Estamira e seus companheiros, catadores como ela, no enorme e insalubre depósito de todo o lixo da cidade do Rio de Janeiro. Registrou cenas a cores com a iluminação natural; outras em preto-e-branco granulado quase chegando à desintegração da imagem; outras ainda em exemplar trabalho do fotógrafo que sempre foi. O pathos atingido pela apresentação áudio-visual é impactante, não podendo deixar de ser mencionada a presença apoiadora da exemplar trilha musical de Décio Rocha.

Incrível, no entanto, é constatar que esta é uma primeira obra para cinema. Em seu ritmo envolvente, seu diálogo com a entrevistada e a aproximação que vai fazendo gradualmente com a platéia, o filme é surpreendente em sua sintaxe, elegante em sua gramática, contundente na emoção evidente com a qual foi feito e que transmite em cada passagem.

Não cai na armadilha da idealização ingênua (nem há mais ingênuos, já anunciou o filme logo no início): Estamira pode se mostrar arrogante, verbalmente agressiva, até mesmo desagradável. Mas Marcos permite que ela se faça ouvir. E ao registrá-la faz com que escutemos sua revolta contra um "Deus estuprador" e contra médicos "copiadores" de receitas. Origens e meios são contestados e questionados. Anos depois do próprio cinema, hoje clássico, de Ingmar Bergman questionar o "silêncio de Deus" - e ainda antes do atual Papa tentar deslocar a responsabilidade dos homens para a ausência de Deus durante os horrores do Holocausto - Estamira, o filme e a personagem, denunciam o desamparo humano, não só filogenético ou ontogenético, mas também social, econômico e político. Assim como são questionadas as condições dos hospitais psiquiátricos, dos ambulatórios, dos tratamentos reduzidos à prescrição (ainda que adequada) de medicações potentes que podem até mesmo minimizar os abismos das psicoses, mas onde se corre o risco de deixar de lado a escuta do Outro, da alteridade - tudo isso e muito mais são expostos como um nervo vivo.

E o cineasta, sem proselitismo nem vassalagem, através de uma linguagem cinematográfica grave e comunicativa nos faz refletir muito mais ainda sobre uma realidade que nos parece insuportável de ser vivida, mas aonde a vida surpreendentemente se preserva da única forma que parece possível: louca. Como nos parece ensandecida uma das imagens finais do filme onde, ao longe, se vê o perfil deslumbrante dos morros do Rio de Janeiro, mas em primeiro plano nada mais do que o lixo. Muito lixo.

LUIZ FERNANDO GALLEGO é psicanalista e cinéfilo, curador da mostra 2008 sobre Cinema e Ética no setor Cultural da Escola de Magistratura do Fórum do Rio de Janeiro.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Ultrapasse a simples geração de idéias

"Existem pavões que escondem cuidadosamente sua cauda e esse procedimento os enche de orgulho."

Do livro: Além do Bem e do Mal, de Nietzsche.
É de fazer pensar...
Li esses dias essa frase, quando estava no onibus indo pra facul, e fiquei pensando no quanto nós escondemos a nossa cauda... No quanto alguma força maior fica a nos podar desta maneira. Neste sentido de não nos deixar ser...
Ah! As indagações são as mais diversas...
Cada um vai olhar isto de maneira diferente... xP

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

EM BREVE - Video debate


FACULDADE ESTÁCIO DE SÁ FLORIANÓPOLIS
PSICOLOGIA

Múltipla escolha

" Como raramente cumprimos esses mandados, já ao levantar de manhã nos acompanha a sensação de que algo está errado conosco: dúvida e frustração. Somos severos cobradores das nossas próprias ações. No esforço de realizar tarefas que talvez nem nos digam respeito, tememos olhar em torno e constatar que muita coisa falhou. Se falharmos, quem haverá de nos desculpar, de nos aceitar, onde nos encaixaremos, nesse universo de exitosos, bem-sucedidos, ricos e belos? Pois não se permite o erro, o fracasso, nesse ambiente perfeito. Duro dizer 'amei torto, ignorei meus filhos, falhei com minha parceira ou parceiro, votei errado, fracassei na profissão, não ajudei meu amigo, abandonei meus velhos pais e esqueci meus sonhos'."

Lya Luft

Outrem e liberdade

A comunicação na ideia ou a ação coletiva são de uma ordem completamente diferente da "proximidade absoluta entre o meu 'mim mesmo' e o do outro, em que nenhuma substituição é mais possível" (p.308)."Não posso me tornar eu mesmo sem entrar em comunicação, e não posso entrar em comunicação sem ser solitário" (p.313-314). O Eu sem comunicação não seria mais que ESCOAMENTO FRÁGIL, DESLOCAMENTO CAÓTICO ou BLOQUEIO VAZIO e IMÓVEL. Solidão e união significam igualmente uma certa dureza do Si e uma distância sempre a desaparecer e a renascer. A comunicação só rompe a solidão ao possibilitar, precisamente a partir daí, uma nova e possivelmente mais original RELAÇÃO.
É no esforço que faz a existência para atingir a certeza de ser ela mesma que se introduz mais insidiosamente a possibilidade do desespero. Querer ser livre para si só é cair numa das duas formas de desespero analisadas por Kierkegaard: querer desesperadamente ser si-mesmo, ou querer desesperadamente não ser si-mesmo. Na ideia do combate como situação-limite, como Agon espiritual (p.446), aparece também o combate sem violência, "o combate pela existência do amor" (p.453), que é questionamento de si e do outro sobre o fundamento de uma solidariedade invisível sem a qual não há existência virtual alguma. Só a liberdade, fonte de todo esclarecimento da existência, engajada nesse combate que só se sustenta por ele mesmo, e que, sem fundamento nem justificação conceitual, ajuda a "superar o desespero das situações-limite"(p.480), a não se obstinar no fechamento e na angústia.


Do livro: EXISTENCIALISMO, de Jacques Colette

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

1 ANO SEM NOSSO "BENDITO"

ALL IS SON...

SAUDADES DO NOSSO AMIGO...
E QUE ELE ESTEJA OLHANDO POR NÓS E EN-CANTANDO OS CÉUS...

domingo, 6 de fevereiro de 2011

UMA PEQUENA E ENTUSIASMADA REFLEXÃO PRIVATIVA

Se as pessoas, quando ouvissem algo de alguém ou vissem, estivessem com os olhos realmente abertos, e silenciasse um pouco o seu discurso interno e os ouvidos atentos poderiam ver e ouvir o outro lado, o que está além ou o que por algum motivo não é comunicado na linguagem que entendemos, com certeza estaríamos muito mais perto de um mundo melhor.

Nós futuros psicólogos já começamos a fazer isso?

Já conseguimos ter este ouvido, ter este olhar, calar?

E acima de tudo teremos?

É uma pergunta que devemos nos fazer e ir na direção dela, acredito eu.

Não acharmos que sempre o que ouvimos são fatos, podem não ser, podem ser simples interpretações de comunicações entendidas de uma forma, podem ser interpretações através de um aprendizado, esquecendo que ainda não aprendemos tudo.

Mas se abrirmos os braços para o entendimento, e deixarmos o que temos de mais profundo em nós brotar – O AMOR – tudo isso não passam de palavras vãs, porque o amor por si só o fará.

Com amor certamente entenderei melhor, abrirei os meus sentidos e estarei de braços abertos para o que quero, para o que preciso e com certeza o caminho é mais próximo.

De todas as minhas experiências cliente da exclusão, desde a fome e o frio até o deslumbre de ter e ser , a relação com o outro sempre é a que mais dói ou que mais dá prazer.

Sartre diz – O inferno são os outros. Mas o que fazemos com o outro para ele ser o inferno?

Penso que cada sessão de um terapeuta é única e de um cliente também, porque a cada sessão que passa nem terapeuta e nem cliente são mais os mesmos.

Valdete Coelho Sant´ana

Breve percurso pelo pensamento freudiano acerca do tratamento psicanalítico das psicoses

por
Marcos Esnal
Psicanalista; Auxiliar de docência na Facultad de Psicologia da Universidad Nacional de Rosario.  

O dia 21 de novembro de 1906, numa intervenção na Sociedade Psicanalítica de Viena, Sigmund Freud estabelecia o que ia se constituir no elemento central de sua posição a respeito do tratamento psicanalítico das psicoses, ao se referir, na ocasião, à paranóia: "Isto [a mobilidade da libido] não é possível na paranóia por causa da regressão ao auto-erotismo. O médico não encontra fé, não encontra amor. O paciente, da mesma maneira que uma criança, só acredita em quem ama" (Nunberg y Federn, 1979, p. 82). Esta afirmação é posterior ao fato de ter proposto, anos antes, a localização da paranóia no grupo das "neuropsicoses de defesa" (Freud, 1894), e estabelecido para ela o tratamento pela hipnose (método que a equiparava à histeria e à neurose obsessiva). A posição freudiana tinha mudado devido à não descoberta, nos paranoicos, da parte flutuante de libido que estabelecia as transferências (em 1906, ainda no plural) do paciente para com o analista.

Como é sabido, esta posição de Freud não mudou no decorrer de sua obra, à exceção de seu trabalho sobre A Gradiva de W. Jensen (1903), no qual, o modelo de interpretação do sonho o leva a propor uma simetria entre a posição de Zoe Bertgang a respeito de Norbert Hanold. Neste artigo, o delírio aparece como o modelo patológico da produção onírica, o que quer dizer que pode ser interpretado restabelecendo a relação do delirante com a realidade.3

Uma vez que, em 1912, Freud passa a utilizar no singular "a transferência", a inexistência da transferência nas psicoses torna-se para ele ainda mais patente. Esse fenômeno -o de que o paciente implicara ao analista na série parental de seus afetos e reminiscências-, perante o qual Freud se mostrava absolutamente surpreso por tratar-se de um acontecimento inesperado, não era presumível em quem amava seu delírio como a si mesmo. É a época do encontro de Freud com as Memórias de Schreber (Freud, 1911). A partir deste encontro torna-se possível (e necessário) introduzir o conceito de narcisismo, para poder explicar qual é o destino psicótico dessa libido flutuante presente nas neuroses: digamos que, para Freud, o delírio condensa aquela energia que está destinada ao analista como objeto no marco de uma psicanálise.

Em 1915, Freud publica os Trabalhos sobre Metapsicologia. Neles, ao referir-se ao destino das cargas de objeto ou libido objetal na esquizofrenia, ele explica que: "... o estudo da esquizofrenia nos impôs a hipótese de que, após o processo repressivo, a libido subtraída não procura nenhum novo objeto, mas que se retrai ao Eu, ficando assim suprimida a carga de objeto e reconstituído um primitivo estado narcisista, carente de objeto. A incapacidade de transferência destes pacientes, dentro da esfera de ação do processo patológico, sua conseqüente inacessibilidade terapêutica, sua singular repulsa ao mundo exterior, o surgimento de indícios de uma sobrecarga do próprio Eu e, enfim, a mais completa apatia, todos estes caracteres clínicos parecem corresponder à maravilha à nossa hipótese da cessação da carga de objeto. No que diz respeito à relação com os dois sistemas psíquicos, todos os investigadores comprovaram que muitos daqueles elementos que, nas neuroses de transferência, somos obrigados a buscar no inconsciente, através da psicanálise são conscientemente exteriorizados na esquizofrenia. Mas, no começo, não foi possível estabelecer, entre a relação do Eu com o objeto e as relações da consciência, uma conexão inteligível." (Freud, 1915, p. 194)

Na série de conferências de introdução à psicanálise aparecidas em 1917, Freud dedica uma à teoria da libido e o narcisismo e uma outra à transferência. Nelas refere-se à resistência oposta pelos psicóticos ao tratamento como "um muro que nos detêm" (Freud, 1917, p. 385) e resolve as dificuldades de sua abordagem no fim da conferência dedicada a "A transferência", dizendo que "são inacessíveis ao nosso empenho; não podemos curá-los" (Freud, 1917, p. 407).

Notou-se já (Allouch, 1986) que, em 1924, a metáfora do muro continuava vigente: "Em particular, desde que se começou a trabalhar no conceito de narcisismo, conseguiu-se lançar um olhar por cima do muro, ora neste, ora nestoutro lugar" (Freud, 1924, p. 57).

Em 1937, Freud extrai conclusões interessantes da comparação entre o delírio e as construções do analista no marco do tratamento das neuroses: "Muito amiúde, quando um estado de angústia faz [o neurótico] prever que algo terrível acontecerá, simplesmente está sob o influxo de uma lembrança reprimida que gostaria de acudir à consciência e não pode devir consciente: a lembrança de que aconteceu efetivamente algo terrível naquele tempo. Opino que tais empenhos com psicóticos terão de nos ensinar muito e coisas de grande valia, embora o sucesso terapêutico seja denegado a eles" (Freud, 1937, p. 269).

Se revisarmos um pouco este breve percurso, poderemos assinalar a gestação de diferentes conceitos muito caros à psicanálise e, ao mesmo tempo, ver como essa gestação seria impensável sem uma preocupação, por parte de Freud, com pensar o que ocorria, em termos metapsicológicos, nas psicoses. Pensemos, por exemplo, no conceito de Superego. Se bem este conceito reconhece suas raízes nos chamados diques anímicos dos Três ensaios de teoria sexual (Freud, 1905) e sua formulação específica em O Ego e o Id (Freud, 1923), é claro que a análise das idéias de perseguição que padece o psicótico -e das que Freud se ocupa em Introdução ao narcisismo (Freud, 1914)- representa um degrau fundamental na construção do referido conceito. É possível também pensar o quanto deve a teorização de Freud às psicoses em relação a outros conceitos chave: a distinção entre representação de coisa e de palavra, o esclarecimento do processo de luto, a distinção entre projeção "normal" e patológica etc.

Em resumo, digamos que a posição de Freud, dentro de um modelo pulsional binário, que supõe uma passagem do auto-erotismo ao narcisismo e no qual o estabelecimento da transferência depende da existência de um mínimo de libido flutuante capaz de se enlaçar à imagem do analista, aparece como lógica.

Para finalizar, podemos passar em revista algumas perguntas que atualmente orientam nossa pesquisa:

Que acontece na psicanálise para que, a partir dos anos quarenta, comecem a surgir trabalhos como os de Federn (1991), que propõem não só a existência da transferência nas psicoses mas as modificações que necessariamente devem se realzar no dispositivo analítico para que tenha lugar uma cura?

Que relação têm os impasses surgidos nestes tratamentos com os do próprio Freud?

Por que existe, nos analistas de orientação lacaniana (em qualquer uma das vertentes atuais da mesma), uma convicção inabalável que afirma que somente a partir das proposições de Lacan começou a se tornar possível o tratamento psicanalítico das psicoses?

A convicção anterior responde ao efeito imaginário de uma doutrina e ao desconhecimento do acontecido na psicanálise durante os anos quarenta e cinquenta, ou existem razões teóricas que a sustentam?

Caso se deva à segunda alternativa proposta, essas razões teóricas são as mesmas?


Fonte:http://www.proceedings.scielo.br/scielo.php?pid=MSC0000000032001000300026&script=sci_arttext







sábado, 5 de fevereiro de 2011

5 tratamentos psiquiátricos bizarros que caíram em desuso

por Ana Carolina Prado
24 de novembro de 2010

Até que se entendessem as doenças mentais, muita coisa absurda já foi feita para dar um jeito nos loucos. De choque térmico por infecção pelo protozoário da malária (!) a perfurações no crânio (ambos tendo rendido o Prêmio Nobel a seus criadores!), listamos 5 “tratamentos” bizarros já usados para curar males psiquiátricos.

1- Infecção por malária



Estamos nos anos 30 e a sífilis, incurável nessa época, é a maior causa de demência no mundo. Ninguém sabe o que fazer com tanta gente paranóica, violenta e incontrolável nos manicômios. Mas aí o médico austríaco Julius Wagner von Jauregg observou que, quando essas pessoas contraíam alguma doença que provocasse episódios de febre alta e convulsão, a loucura ia embora. O que o doutor Julius fez, então? É. Ele colocou o sangue contaminado de um soldado com malária em nove pacientes com paresia crônica, a demência que ocorre em um estágio avançado da sífilis, para que elas contraíssem febre alta e tivessem convulsões. O resultado foi impressionante e até lhe rendeu um Premio Nobel em 1927: ele conseguiu recuperação completa em quatro desses pacientes e uma melhora em mais dois. “Parece absurdo dar o Prêmio Nobel a alguém que infectava os pacientes com a malária, mas o desespero na época era muito grande”, diz Renato Sabbatini, neurocientista da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Esse tratamento, obviamente, era muito perigoso (você melhorava da loucura, mas ganhava a malária de presente) e deixou de ser usado nos anos 60, com a descoberta de antibióticos e medicamentos próprios para problemas mentais.

2- Terapia por choque insulínico



Em 1927, o neurologista e psiquiatra polonês Manfred Sakel pesou a mão na dose de insulina que aplicou em uma paciente diabética (que era, dizem, uma cantora lírica famosa na época) e ela entrou em coma. Mas o que poderia ter sido um desastre virou uma bela descoberta: a mulher tinha psicose maníaco-depressiva e obteve uma notável recuperação de suas faculdades mentais. Então Sakel descobriu que o tratamento era eficaz para pacientes com vários tipos de psicoses, particularmente a esquizofrenia. “Esta foi uma das mais importantes contribuições jamais feitas pela psiquiatria”, diz Sabbatini. A técnica passou a ser usada em todo o mundo, mas o entusiasmo inicial diminuiu depois que estudos mostraram que a melhora era, na maioria das vezes, temporária. Sem contar, é claro, que era extremamente perigoso. Assim, esse tratamento também caiu em desuso após a descoberta de medicamentos mais adequados.

3- Trepanação



Achados arqueológicos mostram que a trepanação, cirurgia em que era aberto um buraco (geralmente de 2,5cm a 3,5 cm de diâmetro) no crânio das pessoas, já era feita em várias partes do mundo 40 mil anos atrás. A cirurgia era realizada em rituais religiosos para liberar a pessoa de demônios e espíritos ruins – quando, na verdade, ela era vítima de doenças mentais. Até hoje é realizada por algumas tribos da África e da Oceania para fins rituais e em alguns centros modernos de neurologia para aliviar a pressão intracraniana em caso de fortes pancadas na cabeça, por exemplo. Mas não só. “Se esse procedimento for feito por algum outro motivo, isso é bizarro e perigoso”, afirma Sabbatini. Mas existem organizações hoje que defendem essa técnica “como forma de facilitar o movimento do sangue pelo cérebro e melhorar as funções cerebrais que são mais importantes do que nunca para se adaptar a um mundo em cada vez mais rápida evolução”. Isso é o que diz o site de um grupo internacional em defesa da trepanação, que defende que qualquer pessoa que deseje melhorar suas funções mentais e sua qualidade de vida deve poder realizar o procedimento.

4- Lobotomia


Os cirurgiões americanos Walter Freeman e James Watts, que aperfeiçoaram a técnica da lobotomia.

A trepanação deu origem a outro procedimento macabro: a lobotomia, incisão pequena para separar o feixe de fibras do lobo pré-frontal do resto do cérebro. Como isso provoca o desligamento na parte das emoções, pessoas agitadas se acalmavam como se tivessem tomado tranquilizantes. Essa técnica, criada pelo neurologista português Antônio Egas Moniz, foi realizada pela primeira vez em 1935 e também lhe rendeu um Nobel, em 1949. Os resultados foram tão bons, que a lobotomia começou a ser usada em vários países como uma tentativa de reduzir psicose e depressão severa ou comportamento violento em pacientes que não podiam ser tratados com qualquer outro meio (na ocasião, não havia muitos). O problema é que a técnica, que deveria ser o último recurso, passou a ser usada maciçamente nos manicômios para controlar comportamentos indesejáveis – inclusive em crianças agitadas e adolescentes rebeldes. Entre os anos de 1945 e 1956, mais de 50,000 pessoas foram sujeitas a lobotomia no mundo inteiro. E os efeitos colaterais eram horríveis: a pessoa virava um vegetal – sem emoções, apáticas para tudo. Com o aparecimento de drogas efetivas contra ansiedade, depressão e psicoses, nos anos 50, e com a evidência de seu abuso difundido e efeitos colaterais, a lobotomia foi deixando de ser usada.

5- Mesmerismo



O médico austríaco Franz Anton Mesmer acreditava ser possível aliviar sintomas clínicos e psicológicos passando imãs sobre o corpo de seus pacientes – procedimento conhecido como mesmerismo. “Mesmer acreditava que os fluidos do corpo eram magnetizados e que muitas doenças físicas e mentais eram causadas pelo desalinhamento desses fluidos. Ele também achava que era possível obter os mesmos resultados sem os imãs, passando apenas as mãos sobre o corpo do paciente”, explica o professor de psicologia Renato Sampaio Lima, da Universidade Federal de Sergipe (UFS). Ahhh, o poder da sugestão. Era tudo picaretagem. Ou efeito placebo, para ser mais exato. Esta arte de cura disseminou-se entre outros praticantes no século XVIII e chegou aos Estados Unidos no início do século XIX. Mesmer foi expulso de vários países e cidades porque não conseguiu provar a eficiência do seu método, mas ganhava uma grana dos crédulos. “Em todos os lugares em que ele foi, a comunidade médica o repudiou. Ele pegava madames com doenças psicossomáticas leves, fáceis de tratar com placebo, e baseava o seu prestigio nesse efeito”, completa Sabbatini. O suposto sucesso não dependia das técnicas usadas, mas no seu poder de persuasão. Após muitas críticas, a prática do mesmerismo caiu em desuso no início do século XX.
fonte: super.abril.com.br