quarta-feira, 30 de abril de 2008

APENAS CINCO SEGUNDOS


Cinco segundos. Talvez menos que isto. Foi o tempo que levei para viver uma experiência que, de tão negativa e desastrosa custou-me vários dias de reflexão e arrependimento. Dessas idiotices que fazemos por nos perceber mais espertos que a média, mais rápidos ou mais estrategistas que os tristemente definidos como medianos, outros, comuns.

Na realidade, seria apenas uma pequena manobra, em um trânsito fácil, lento, próximo ao de uma cidadela do interior. O carro dirigido por mim tinha força suficiente para executá-la a contento, antes mesmo de oferecer qualquer perigo. Foi o que pensei, ao consultar o espelho retrovisor, sem atentar para o veículo que já entrava atrás do meu, no sentido transversal.

Uma batida forte, rápida e, graças à Providência Divina, sem nenhum dano à integridade dos motoristas envolvidos. No outro carro, uma mulher aflita, atônita, desesperada por outros graves motivos, aos quais viria a agregar-se esse novo, por mim criado. Estava em diligência assustada, angustiada pelo filho que se achava atrás das grades. Com o marido trabalhando em outro Estado e a filha estudando naquele período da manhã, a jovem senhora encontrava-se sozinha para funcionar ao mesmo tempo como chefe de família, dona de casa, assistente de defesa, motorista e ainda fazer vezes de estagiária de advocacia.

- Moço, me ajude, por favor!- disse aterrorizada. - Não me abandone aqui! Não vá embora! Eu fiz tudo certinho. Esperei o senhor passar. Juro que não foi culpa minha! Lágrimas caudalosas jorravam de seus olhos, enquanto produzia frases entrecortadas pelas golfadas de ar que buscavam o seu peito.Pedi perdão, reconheci meu erro, assumi a responsabilidade pelo acidente. Queria, sabe Deus o quanto, nunca estar vivendo aquela situação, aquele momento estanque, aqueles lapsos aflitivos de um acidente causado por minha imprudência.

Tirei-a do carro, liguei para a polícia e solicitei entre os curiosos ao redor, alguém que providenciasse um pouco de água para a mulher agitada.Depois de tudo resolvido, já mais calma e confiante, ela me explicou um pouco de seu sofrimento e da impossibilidade de estar parada ali naquele momento, com tantas providências para tomar. Compreendeu com a minha explicação que nenhum de nós gostaria de viver aquilo, embora fosse uma contingência possível aos que dirigem, aos que vivem. Viver sem sobressaltos eventuais só é possível àqueles que não se movem, que mal respiram, que não saem nunca do mesmo lugar.

Há que se ter mais cuidado, mais prudência. Um segundo olhar mais atento pode prevenir uma tragédia. Uma segunda reflexão pode evitar uma precipitação apaixonada e infeliz. O outro lado da face agredida, ao ser oferecido pela vítima, conforme o ensino de Cristo nos dará tempo para pensar antes de agir, antes de gerar um desfecho pior que o agravo recebido.

Cinco segundos. Quiçá, menos que cinco. Mas, tempo suficiente para alterar todo aquele dia, toda aquela semana e, ainda hoje, vários dias depois, me fazer pensar que tudo poderia ser evitado, se tão somente eu o tivesse gasto no essencial: pensar antes de agir.

terça-feira, 29 de abril de 2008

Entrega de trabalho transferido

Colegas - PSI/Vespertino

Como solicitado pela turma, o material da disciplina ATC_O - Profa. Rosie pode ser entregue dia 08/05 - quinta-feira próxima.

Bom estudo a todos,

Abraços.

Léia

reflexão

"Temos observado um comportamento que advém da falta de compreensão, da falta de entendimento, ou do entendimento parcial do que nós temos apregoado aqui. As dúvidas, ou o conhecimento parcial, advém do fato de cada um fixar somente aquilo que lhe interessa.

Vamos imaginar que a televisão esteja ligada e que estejam assistindo a um programa um engenheiro, um médico, uma dona de casa e um filósofo, alguém que goste de filosofia. Vamos ver, então, o comportamento dessas pessoas.

É uma palestra. Na hora em que o palestrista estiver falando sobre a parte médica, o médico vai abrir os ouvidos para aquilo. Na hora que estiver falando sobre culinária, o médico não vai reter aquele conhecimento, porque ele não sente necessidade, uma vez que aquilo está fora do limite da sua ação. Mas a dona-de-casa vai prestar atenção! E o engenheiro na sua parte. E o filósofo, ou aquele que gosta do assunto, vai se deter na parte da mente, e assim por diante. Cada um vai se deter, vai parar no seu ponto de interesse, na sua necessidade.

No entanto, um conjunto foi transmitido.

Se todos agissem de acordo com as necessidades não só dele, mas de acordo com as necessidades também dos outros, se agissem com a compreensão que de cada ato seu vai derivar harmonia ou desarmonia para os outros, então a palestra seria ouvida no todo e o comportamento seria de acordo: haveria harmonia.

Porém, quando se ouve, o conhecimento é sempre parcial, parcial segundo as necessidades das pessoas.

(...) Ninguém pode ser harmônico, se não analisou os conhecimentos e, especialmente, o conhecimento dentro dele. Portanto, sem uma análise interna, ninguém pode construir nada melhor.

É necessário condição, e a condição adquire-se por análise. Senão, vai continuar igual - daí o conhecimento parcial.

Portanto, ao se deter num conhecimento, atente-se segundo a necessidade de todos, porque isso é integração. E aí nasce o Respeito."

Dr. Celso Charuri
26 de fevereiro de 1981

O poder da reza

12/2/2006
por Contardo Calligaris *

Mistério: estudo mostra que uma reza retroativa ajudou pacientes anos depois da internação

-UM AMIGO médico, Décio Mion, me fez conhecer um estranho debate que ocupou, de 2001 a 2003, as páginas do seríssimo "British Medical Journal".Premissa: várias pesquisas, há tempos, mostram os efeitos positivos da reza numa variedade de condições patológicas. Documenta-se que o doente encontra benefícios (quanto ao andamento de sua enfermidade) no ato de rezar ou na consciência de que seus próximos rezam por ele. Até aqui, tudo bem: o paciente acharia assim uma paz de espírito que melhora sua evolução. A coisa se complica: às vezes, as pesquisas mostram que a prece traz benefícios mesmo quando alguém reza por um doente sem que ele próprio saiba disso. Como explicar esses casos? Talvez o benefício seja fruto de uma intervenção caridosa da divindade solicitada, mas essa explicação depende de um ato de fé que não cabe na interpretação de uma pesquisa científica. Além disso, é curioso que os benefícios apareçam seja qual for o deus ou o intercessor que receba a oração. Resta, pois, imaginar que a intenção humana (o esforço cerebral de quem deseja que algo aconteça e reza por isso) tenha alguma realidade material (energia, partículas etc.) capaz de influir no andamento de um processo patológico. Estranho? Nem tanto: afinal, até poucas décadas atrás, ignorávamos a existência de uma série de partículas que, segundo a física de hoje, povoam nosso universo. Por que as nossas intenções não movimentariam uma energia desconhecida, mas capaz de alterar o mundo físico? Nos EUA, nos anos 60-70, foram organizadas reuniões diante da Casa Branca com a idéia de que, se todos se concentrassem, a energia do dissenso faria levitar a residência do presidente americano. Embora cético, participei, convencido por um amigo que dizia: "Tentar não dói". Claro, não funcionou. Ora, no fim de 2001, o "British Medical Journal", depois de um editorial lembrando que a razão não explica tudo, publicou uma pesquisa, de L. Leibovici (BMJ, 2001, 323), que registra os efeitos benéficos (em pacientes com septicemia) de uma reza afastada não só no espaço, mas também no tempo. Explico. Foram incluídos no estudo todos os pacientes internados com septicemia, de 1990 a 1996, num hospital israelense; eram 3393. Em 2000 (de quatro a dez anos mais tarde), por um processo rigorosamente aleatório, os arquivos desses pacientes foram divididos em dois grupos: um grupo pelo qual haveria reza e um grupo de controle. Para cada nome do primeiro grupo, foi dita uma breve reza que pedia a recuperação do paciente e do grupo inteiro. Resultado: no grupo que recebeu uma reza em 2000, a mortalidade foi (ou melhor, fora, de 90 a 96) inferior, embora de maneira pouco significativa; no mesmo grupo, a duração da febre e da hospitalização fora (ou melhor, havia sido, de 90 a 96) significativamente menor. A publicação da pesquisa provocou uma enxurrada de cartas (BMJ, 2002, 324), algumas contestando as estatísticas, outras manifestando uma certa incompreensão do problema, que é o seguinte: como entender que uma reza possa agir não só sem que o paciente tenha consciência da intercessão pedida (com possível efeito psicológico positivo), mas à distância no tempo? Como entender, em suma, que uma reza dita em 2000 tenha um efeito retroativo em alguém que estava doente entre 90 e 96, quando a pesquisa e a reza nem sequer estavam sendo cogitadas? Uma tentativa de resposta veio em 2003. O "BMJ" (2003, 327) publicou um interessante e enigmático artigo de Olshansky e Dossey, "History and Mystery" (história e mistério), em que os dois médicos dão prova de conhecimentos de física quântica muito acima de minha cabeça. O argumento de fundo é o seguinte: há modelos do espaço-tempo nos quais é possível que haja relações físicas entre o passado e o presente (ou seja, modelos em que o presente pode alterar o passado). Que o leitor não me peça para explicar como isso aconteceria. As dimensões do "espaço de Calabi-Yan" e os "campos bosônicos", para mim, são tão obscuros quanto os ectoplasmas, os espíritos e os milagres. Moral da história: embaixo do sol (ou da chuva), deve haver muito mais do que imaginamos, até porque nossa ciência está longe de ser acabada. Alguns colegas positivistas talvez durmam mal com esse barulho. Eu não acredito nas paranormalidades, mas, em geral, durmo melhor ninado pelo mistério do que pelas certezas.

FONTE: http://www.verdestrigos.org/sitenovo/site/cronica_ver.asp?id=1118

segunda-feira, 28 de abril de 2008

A CHUVA

Nossa colega Monique ontem, trancou sua mão, na porta do carro. Tudo por causa de seu "guarda-chuva". Ela não sofreu ferimentos graves. Mas a cena, alguém viu?

Atlas de anatomia Sobotta (PDF) BAIXAR

Como eu sei que é um pouco caro esse atlas, procurei na internet e achei para vocês baixarem, segue abaixo o link:

http://www.4shared.com/file/21833717/8ede6b88/Atlas_de_anatomia_Sobotta.html?s=1

BOM PARA A PROVA!!!!

Para McEwan e Pinker, o significado das palavras vale bilhões

da Folha de S.Paulo

Duas das mais destacadas figuras em suas áreas, o escritor inglês Ian McEwan e o psicólogo evolucionista Steven Pinker se encontraram em 2007 para debater aquilo de que mais entendem, embora de pontos de vista diferentes: a linguagem.
Aclamado por obras como "Amsterdam" (Booker Prize de 1998), o recente "Na Praia" e a obra -prima "Reparação" --inspiradora do filme "Desejo e Reparação", que concorreu ao Oscar deste ano--, McEwan é o mais importante escritor inglês em atividade.
Já Pinker, professor na Universidade Harvard (EUA), é um grande estudioso das origens e dos mecanismos da linguagem, além de divulgador do tema em livros como "O Instinto da Linguagem".
A conversa inusitada, que o Mais! reproduz a seguir, ocorreu no Festival de Literatura de Cheltenham (Reino Unido) e foi publicada originalmente no último número da revista "Areté".

E a imprensa...

Bom, só quero fazer um pequeno comentário sobre o que reparei ontem, assistindo ao Fantástico, e que complementa o post da Gabi, do Calligaris.
Estavam falando do caso Isabella, o que todos os outros jornais, de todos os outros canais também só sabem falar.
Na reportagem, o repórter, que não me lembro ao certo o nome, fazia a matéria sobre as pessoas que iam até a frente do prédio do pai de Alexandre ou do próprio Alexandre e que não estavam lá por solidariedade, emoção, ódio ou qualquer desses sentimentos. Estavam lá para benefício próprio, uns fazendo panfletagem, outro para dizer para a imprensa que também tinha um problema muito grande e que precisava de ajuda, tinha quem vendesse sorvete, água, ....
Bom, concordo que tudo isso seja uma falta de consideração e concordo com o que disseram na matéria, o que não pude deixar de reparar é que o Fantástico estava "julgando" quem estava ali na frente para beneficio próprio, para se "dar bem" com o acontecido e me passou pela cabeça, "e o que que os repórteres estão fazendo ali na frente?" solidariedade também não é. Estão ali também para benefício próprio, também para se "dar bem" pois conseguiram uma matéria "espetacular" que está dando o que falar.
Como, então, um jornal pode julgar quem está lá para trabalhar e ganhar alguma coisa com isso se o próprio jornal também o está fazendo.
Acho que é falta de olhar para o próprio umbigo.
É isso então, só queria compartilhar um pensamento.
beijos
PS. estou adorando o blog

sábado, 26 de abril de 2008

Tênis x Frescobol

Por Rubem Alves
Depois de muito meditar sobre o assunto concluí que os casamentos são de dois tipos: há os casamentos do tipo tênis e há os casamentos do tipo frescobol. Os casamentos do tipo tênis são uma fonte de raiva e ressentimentos e terminam sempre mal. Os casamentos do tipo frescobol são uma fonte de alegria e têm a chance de ter vida longa.
Explico-me. Para começar, uma afirmação de Nietzsche, com a qual concordo inteiramente. Dizia ele: "Ao pensar sobre a possibilidade do casamento cada um deveria se fazer a seguinte pergunta: "Você crê que seria capaz de conversar com prazer com esta pessoa até a sua velhice?" Tudo o mais no casamento é transitório, mas as relações que desafiam o tempo são aquelas construídas sobre a arte de conversar."
Sherazade sabia disso. Sabia que os casamentos baseados nos prazeres da cama são sempre decapitados pela manhã, terminam em separação, pois os prazeres do sexo se esgotam rapidamente, terminam na morte, como no filme O império dos sentidos. Por isso, quando o sexo já estava morto na cama, e o amor não mais se podia dizer através dele, ela o ressuscitava pela magia da palavra: começava uma longa conversa, conversa sem fim, que deveria durar mil e uma noites. O sultão se calava e escutava as suas palavras como se fossem música. A música dos sons ou da palavra - é a sexualidade sob a forma da eternidade: é o amor que ressuscita sempre, depois de morrer. Há os carinhos que se fazem com o corpo e há os carinhos que se fazem com as palavras. E contrariamente ao que pensam os amantes inexperientes, fazer carinho com as palavras não é ficar repetindo o tempo todo: "Eu te amo, eu te amo..." Barthes advertia: "Passada a primeira confissão, "eu te amo" não quer dizer mais nada." É na conversa que o nosso verdadeiro corpo se mostra, não em sua nudez anatômica, mas em sua nudez poética. Recordo a sabedoria de Adélia Prado: "Erótica é a alma."
O tênis é um jogo feroz. O seu objetivo é derrotar o adversário. E a sua derrota se revela no seu erro: o outro foi incapaz de devolver a bola. Joga-se tênis para fazer o outro errar. O bom jogador é aquele que tem a exata noção do ponto fraco do seu adversário, e é justamente para aí que ele vai dirigir a sua cortada - palavra muito sugestiva, que indica o seu objetivo sádico, que é o de cortar, interromper, derrotar. O prazer do tênis se encontra, portanto, justamente no momento em que o jogo não pode mais continuar porque o adversário foi colocado fora de jogo. Termina sempre com a alegria de um e a tristeza de outro.
O frescobol se parece muito com o tênis: dois jogadores, duas raquetes e uma bola. Só que, para o jogo ser bom, é preciso que nenhum dos dois perca. Se a bola veio meio torta, a gente sabe que não foi de propósito e faz o maior esforço do mundo para devolvê-la gostosa, no lugar certo, para que o outro possa pegá-la. Não existe adversário porque não há ninguém a ser derrotado. Aqui ou os dois ganham ou ninguém ganha. E ninguém fica feliz quando o outro erra - pois o que se deseja é que ninguém erre. O erro de um, no frescobol, é como ejaculação precoce: um acidente lamentável que não deveria ter acontecido, pois o gostoso mesmo é aquele ir e vir, ir e vir, ir e vir... E o que errou pede desculpas; e o que provocou o erro se sente culpado. Mas não tem importância: começa-se de novo este delicioso jogo em que ninguém marca pontos...
A bola: são as nossas fantasias, irrealidades, sonhos sob a forma de palavras. Conversar é ficar batendo sonho pra lá, sonho pra cá...
Mas há casais que jogam com os sonhos como se jogassem tênis. Ficam à espera do momento certo para a cortada. Camus anotava no seu diário pequenos fragmentos para os livros que pretendia escrever. Um deles, que se encontra nos Primeiros cadernos, é sobre este jogo de tênis: "Cena: o marido, a mulher, a galeria. O primeiro tem valor e gosta de brilhar. A segunda guarda silêncio, mas, com pequenas frases secas, destrói todos os propósitos do caro esposo. Desta forma marca constantemente a sua superioridade. O outro domina-se, mas sofre uma humilhação e é assim que nasce o ódio. Exemplo: com um sorriso: "Não se faça mais estúpido do que é, meu amigo" A galeria torce e sorri pouco à vontade. Ele cora, aproxima-se dela, beija-lhe a mão suspirando: "Tens razão, minha querida". A situação está salva e o ódio vai aumentando." Tênis é assim: recebe-se o sonho do outro para destruí-lo, arrebentá-lo, como bolha de sabão... O que se busca é ter razão e o que se ganha é o distanciamento. Aqui, quem ganha sempre perde. Já no frescobol é diferente: o sonho do outro é um brinquedo que deve ser preservado, pois se sabe que, se é sonho, é coisa delicada, do coração. O bom ouvinte é aquele que, ao falar, abre espaços para que as bolhas de sabão do outro voem livres. Bola vai, bola vem - cresce o amor... Ninguém ganha para que os dois ganhem. E se deseja então que o outro viva sempre, eternamente, para que o jogo nunca tenha fim...
(O retorno e terno, p. 51.)

NIETZSCHE por trás da máscara de DON JUAN DE MARCO

Cinema imaginário

Simone Koff Barbosa*


Através da estória de Don Juan de Marco,estabeleceremos um duelo entre o mundo das idéias de Platão e a complexidade do universo de Nietzsche, adotando como ponto de partida a análise de alguns aforismas da obra de Nietzsche ¹.
Na primeira parte da obra, mais especificamente no capítulo ‘Dos Preconceitos dos Filósofos’, Nietzsche questiona os valores e suas origens, além de criticar os filósofos que crêem em determinados valores pré-concebidos como verdadeiros e absolutos, o que para ele pode soar perigoso. Para Nietzsche, o filósofo deve saber ousar, renunciando valores habituais e não aceitando de forma pacífica estes valores:
A necessidade de saber a verdade ainda há de nos arrastar para muitas aventuras, essa célebre veracidade de que todos os filósofos falam até os dias de hoje com veneração. Afinal, quem vem aqui enterrogar-nos? Qual de nós mesmos tende para verdade? Por que haveríamos de preferir a não verdade? Talvez, a inceteza? Quem sabe, a ignorância?... Pode algo nascer do seu contrário? Por exemplo, a verdade do erro? A ação altruísta do egoísmo? A crença nas oposições de valores é a fé fundamental dos metafísicos.²
Se analisarmos estes aforismas e relacionarmos com o personagem do filme Don Juan de Marco, podemos dizer que o personagem vive no mundo metafísico, que é ilusório, passional e baseado nas oposições de valores. Podemos dizer ao mesmo tempo que Don Juan é um personagem ousado, pois criou seu próprio mundo, um mundo imaginário que não faz parte dos valores habituais.
A verdade do personagem é completamente ilusória, provavelmente para ocultar problemas do
passado e fugir para um mundo, que mesmo ‘irreal’, trazia a possibilidade de alcançar a suposta
felicidade’. Por outro lado, sob os olhos de Nietzsche essa ousadia seria no mínimo contraditória e Don Juan provavelmente seria um covarde, pois para o filósofo não existem os valores de bem e mal, de felicidade e infelicidade, já que estes eram preconceitos típicos dos metafísicos como Platão, que acreditavam num mundo efêmero, enganador e ilusório. O pensamento platônico, que era um pensamento aristocrático, residia principalmente na resistência ao sensualismo”.³
Para o filósofo, não deveria haver o ‘pré-conceito’ contra o sensualiasmo, pois o sexo também era
fundamental para conservação da espécie. No filme, o sensualismo é mostrado em diversas cenas através do mundo fantasioso, criado pelo personagem. Logo no começo do filme, o sexo é mostrado como pecaminoso, através da descrição da cena do personagem Don Juan, católico fervoroso que aos 10 anos de idade observava escondido sua professora trocando de roupa. Para Nietzsche o ‘pecado’ soa como algo igualmente mascarado e falso, já que é um valor pré-concebido, baseado em oposições como ‘céu x inferno’, ‘o bom x o pecador’, todas crenças metafísicas.
A questão do livre-arbítrio é abordada da seguinte forma:
É essencialmente afeto de superioridade em relação àquele que se deve obedecer. Eu sou livre, ele deve obedecer. Livre–arbítrio é essa expressão própria daquele que quer e comanda, que goza enquanto tal triunfo obtido sobre os obstáculos, mas que imagina que a vontade é quem no fundo triunfa dos obstáculos.4
Sob este prisma, podemos dizer que para Nietzsche não existe a idéia de total livre-arbítrio a
partir do momento em que existe relação de dominação. Por sua vez, o rebelde Don Juan não
quer admitir esta relação de dominação e prefere continuar vivendo no mundo ilusório e irreal. No filme, o personagem percebe que a única maneira de conquistar a suposta liberdade desta instituição é contando uma estória banal de que ele não passa de uma pessoa carente que estava passando por um momento de desespero. Aqui também existea idéia de manipulação do personagem que precisou ficar amigo do próprio psiquiatra para conseguir a suposta liberdade. Este fato vem a questionar até que ponto determinadas instituições têm o poder de decidir questões tão importantes na vida das pessoas.
Nos julgamentos, há sempre a figura de um culpado e de um injustiçado. Este fato estabelece um
confronto com as idéias de Nietzsche, já que as instituições assumem o papel de ‘Deus que decide’, o que para o filósofo é algo inaceitável. Em determinada cena do filme, Don Juan fala ao
psiquiatra Dr. Micker: “Somente através do meu mundo você consegue respirar. Você é um grande amante como eu, embora tenha perdido o caminho e o sotaque”. Neste caso, o psiquiatra começa a viver dentro do mundo imaginário do personagem, ou seja, ele precisava da fantasia do paciente para alcançar a própria felicidade. Sob este prisma, podemos dizer que houve uma inversão dos papéis. Aqui, como diria Nietzsche, talvez o psiquiatra do filme não tenha conseguido lutar contra as próprias resistências racionais e deixou que o seu coração comandasse a situação.
Complementando esta idéia: Por si só a juventude é algo que engana e
falseia. Autocastiga-se pela desconfiança para com seus próprios sentimentos, neste período de transição. Martiriza-se pelo entusiasmo e a dúvida. A consciência limpa até aparece já como perigo, auto-encobrimento e fadiga da honestidade mais pura.5
No contexto do filme, o psiquiatra parece ter que reviver uma juventude tardia e tenta resgatar a felicidade no seu casamento, ou seja, está em busca do tempo perdido, o que muito provavelmente para Nietzsche soaria como enganação. “A independência é algo para poucos - é prerrogativa dos fortes, não só forte, mas audacioso até a temeridade”.6
Para Nietzsche ficar a sós ou no isolamento pode significar crescer no próprio autoconflito.
Neste sentido, será que Don Juan não era um fraco? Sob os olhos de Nietzsche com certeza
era, já que ele vivia em um mundo idealizado e metafísico e não era capaz de vencer os obstáculos sozinho. Quanto mais abstrata for a verdade que pretendes ensinar, maior será a arte em seduzir os sentimentos a favor de tal verdade”.7
Don Juan era um grande mentiroso que acreditava tanto na própria mentira que suas estórias imaginárias passaram a ser uma verdade para ele. Nietzsche, ao contrário, nega este mundo idealizado e diz que em toda criação existe uma interpretação distorcida dos fatos que mascara a verdade. Ainda dentro desta analogia com o universo platônico há outro diálogo no filme que
aborda esta questão, no qual Don Juan reflete:
Para não enlouquecer tornei-me metafísico, considerei o significado da verdade, da existência, de Deus. Na vida existem quatro questões de valor: O que é sagrado? De que é feito o espírito? Por que vale a pena viver? Por que vale a pena morrer? A resposta é uma só: por amor.Ou seja, o personagem revela que o sentimento , a idealização, as crenças e principalmente o amor são as razões que justificam a vida e a existência.
Podemos analisar aqui Nietzsche sob outro ângulo, quando menciona: Aquilo que é feito por amor faz-se sempre para além do bem e do mal”.8
Acredito que Nietzsche aborda de uma maneira complexa e profunda a questão do ’bem‘ e do ‘mal’, pois de certa forma não considera estes valores que são opostos. Ao mesmo tempo, segundo ele, o amor ultrapassa as fronteiras de valores e talvez o que ele queira dizer é que este sentimento transcende a todo tipo de explicação lógica, ou seja, a tudo que possamos explicar ou entender, as pessoas apenas sentem. Se Nietzsche reconhece o amor e reconhece que ele ultrapassa todo e qualquer valor préconcebido, este sentimento também está inserido no contexto da fantasia, do sonho, do imaginário de cada um que consiste na metafísica platônica. Nietzsche, neste aforisma se aproxima muito do universo platônico, embora acredito que muito provavelmete, nunca iria admitir esta idéia. No contexto do filme podemos interpretar ainda que na medida em que o personagem se auto-supera, acreditando na própria mentira ele também se autodestrói, pois no filme ele fica perto de cometer o suicídio. Ainda podemos interpretar que quando as pessoas amam, muitas vezes não vêem os limites do bem e do mal, do certo e do errado e são capazes de fazer qualquer coisa para despertarem ou serem
despertadas por esse sentimento. O personagem de Dom Juan muito provavelmente era uma pessoa triste que não tinha encontrado o seu amor, entretanto era um eterno ‘sonhador’, alguém que queria muito ser amado e então encorporava a fantasia de ser um grande amante e um grande sedutor. Um dos aforismas mais interessantes e complexos reza que:
“Em última instância amam-se os nossos desejos e não o objeto desses desejos”.9
Talvez o que Nietzsche queira dizer é que as pessoas na verdade se auto-enganam, amam o sentimento da paixão que as faz sentir mais leves, românticas e poderosas por dominarem e sentirem-se dominadas, e que muitas vezes são capazes de amar mais esse desejo da suposta vaidade e felicidade do que da própria pessoa envolvida, o que deixa de ser um pensamento egoísta. O filósofo deixa nas entrelinhas que as pessoas se apaixonam pela ‘arte de seduzir’, sendo que o objeto do desejo pode ficar em segundo plano. A já mencionada máscara preta que Don Juan usava em torno dos olhos acredito que seja uma forma de auto-defesa na qual o personagem diz usar para defender a suposta ‘honra do pai’, como se ele não quisesse ser descoberto para não ter que enfrentar as dificuldades do mundo real. O personagem mostra ao psiquiatra o ‘mundo encantado’ da bondade, do amor ao próximo, o que não deixa de ser astuto, como diria Nietzsche, pois ele esconde todos os sentimentos de raiva, perdas afetivas, traição e baixa auto-estima.
Para o filósofo, os sentimentos de amor e ódio estão muito próximos, talvez porque a interpretação sobre as situações que vivemos sejam sempre distorcida e falsa porque não existe uma verdade absoluta. Neste sentido, estes valores de bem mal se aproximam, se confundem e até se manulam porque de certa maneira, para Nietzsche, perdem o sentido. Para o filósofo, talvez Don Juan ainda represente as figuras de Deus e do Diabo simultaneamente através de uma metafísica que acreditava e não acreditava ao mesmo tempo. “O perigo da felicidade: agora tudo está bem para mim, agora amo qualquer destino. Quem está disposto a ser meu destino?”.¹0
Este questionamento nos leva a refletir que o conceito da felicidade pode ser realmente utópico,
pois muitas pessoas pensam que seriam mais felizes se fosssem outras pessoas, ou se estivessem no lugar de outras e até mesmo se vivessem sob a máscara de um personagem como é o caso de Don Juan. Mesmo assim, não há garantias de que se trocássemos nossos destinos seríamos mais felizes. Para Nietzsche não há garantias sobre o futuro e muito menos a suposta receita da ‘felicidade’. Diante deste fato, quem gostaria de ter o destino de outra pessoa sabendo que ele está sujeito a mudanças completamente imprevisíveis? Talvez o que Nietzsche queira dizer é que devemos amar o nosso próprio destino no que depender da nossa própria vontade e capacidade, pois o futuro é incerto, sem respostas. Nietzsche se aproxima de Platão sob alguns aspectos, mas difere em outros. Podemos dizer que o filósofo descreve a profundidade na superfície porque para ele não existe separação entre corpo e alma, existe uma análise, há uma superação de bem e de mal, do verdadeiro e do falso. Nietzsche tinha idéias parecidas com Platão em relação à política, ambos defendem a política elitista que oprime o povo sofredor. Sob outro prisma, o cristianismo - moralista platônico vai contra o niilismo de Nietzsche.
Talvez Nietzsche tenha sido suficientemente astuto para desmascarar o idealismo platônico que, retirando sua última máscara pode-se dizer que Platão se considerava um Deus. Se retirarmos a última máscara de Nietzsche é possível que não haja uma única conclusão absoluta, mas através de seu olhos temos a oportunidade de pensar sobre a vida através de um perspectivismo eniquecedor, intrigante e desafiador. Nietzsche foi um filósofo revolucionário, que contribuiu muito para o questionamento do comportamento e da alma humana. Vivemos hoje no mundo do efêmero, do pós-moderno e da substituição. Nietzsche porém, permanece vivo e atual na cultura do ‘volúvel’ por ser suficientemente profundo diante da superficialidade do mundo em que vivemos.

NOTAS
* Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Comunicação
Social/PUCRS. Publicitária com Especialização em
Design na School of Visual Arts SVA (Nova Iorque/ Estados
Unidos).
1 Nietzsche, F. Além do Bem e do Mal: Prelúdio para
uma filosofia do futuro. São Paulo. Cia. Das Letras. 1996.
2 Nietzsche. F. op. cit. § 1 e 2.
3 Nietzsche. F. op cit. § 14.
4 Nietzsche. F. op. cit. § 19.
5 Nietzsche. F. op. Cit. § 31.
6 Nietzsche. F. op. Cit. § 29.
7 Nietzsche. F. op. Cit § 129.
8 Nietzsche. F. op. Cit § 153.
9 Nietzsche. F. op. Cit § 175.
10 Nietzsche. F. op. Cit § 103.

REFERÊNCIAS: NIETZSCHE, Friedrich. Além do Bem e do Mal – prelúdio para uma filosofia do futuro. São Paulo. Companhia das Letras. 1996.

sexta-feira, 25 de abril de 2008

Homenagem para minha amiga GABI

"Gastarei minha vida explorando o mais deslumbrante e complexo dos mundos, a mente humana. Serei um garimpeiro, procurando ouro nos escombros das pessoas que sofrem." (Augusto Cury)

A turba do "pega e lincha"

Por CONTARDO CALLIGARIS
Na última sexta-feira, passei duas horas em frente à televisão. Não adiantava zapear: quase todos os canais estavam, ao vivo, diante da delegacia do Carandiru, enquanto o pai da pequena Isabella estava sendo interrogado.
O pano de fundo era uma turba de 200 ou 300 pessoas. Permaneceriam lá, noite adentro, na esperança de jogar uma pedra nos indiciados ou de gritar "assassinos" quando eles aparecessem, pedindo "justiça" e linchamento.
Mais cedo, outros sitiaram a moradia do avô de Isabella, onde estavam o pai e a madrasta da menina. Manifestavam sua raiva a gritos e chutes, a ponto de ser necessário garantir a segurança da casa. Vindos do bairro ou de longe (horas de estrada, para alguns), interrompendo o trabalho ou o descanso, deixando a família, os amigos ou, talvez, a solidão -quem eram? Por que estavam ali? A qual necessidade interna obedeciam sua presença e a truculência de suas vozes?
Os repórteres de televisão sabem que os membros dessas estranhas turbas respondem à câmera de televisão como se fossem atores. Quando nenhum canal está transmitindo, ficam tranqüilos, descansam a voz, o corpo e a alma. Na hora em que, numa câmera, acende-se a luz da gravação, eles pegam fogo.
Há os que querem ser vistos por parentes e amigos do bar, e fazem sinais ou erguem cartazes. Mas, em sua maioria, os membros da turba se animam na hora do "ao vivo" como se fossem "extras", pagos por uma produção de cinema. Qual é o script?
Eles realizam uma cena da qual eles supõem que seja o que nós, em casa, estamos querendo ver. Parecem se sentir investidos na função de carpideiras oficiais: quando a gente olha, eles devem dar evasão às emoções (raiva, desespero, ódio) que nós, mais comedidos, nas salas e nos botecos do país, reprimiríamos comportadamente.
Pelo que sinto e pelo que ouço ao redor de mim, eles estão errados. O espetáculo que eles nos oferecem inspira um horror que rivaliza com o que é produzido pela morte de Isabella.
Resta que eles supõem nossa cumplicidade, contam com ela. Gritam seu ódio na nossa frente para que, todos juntos, constituamos um grande sujeito coletivo que eles representariam: "nós", que não matamos Isabella; "nós", que amamos e respeitamos as crianças -em suma: "nós", que somos diferentes dos assassinos; "nós", que, portanto, vamos linchar os "culpados".
Em parte, a irritação que sinto ao contemplar a turma do "pega e lincha" tem a ver com isto: eles se agitam para me levar na dança com eles, e eu não quero ir.
As turbas servem sempre para a mesma coisa. Os americanos de pequena classe média que, no Sul dos Estados Unidos, no século 19 e no começo do século 20, saíam para linchar negros procuravam só uma certeza: a de eles mesmos não serem negros, ou seja, a certeza de sua diferença social.
O mesmo vale para os alemães que saíram para saquear os comércios dos judeus na Noite de Cristal, ou para os russos ou poloneses que faziam isso pela Europa Oriental afora, cada vez que desse: queriam sobretudo afirmar sua diferença.
Regra sem exceções conhecidas: a vontade exasperada de afirmar sua diferença é própria de quem se sente ameaçado pela similaridade do outro. No caso, os membros da turba gritam sua indignação porque precisam muito proclamar que aquilo não é com eles. Querem linchar porque é o melhor jeito de esquecer que ontem sacudiram seu bebê para que parasse de chorar, até que ele ficou branco. Ou que, na outra noite, voltaram bêbados para casa e não se lembram em quem bateram e quanto.
Nos primeiros cinco dias depois do assassinato de Isabella, um adolescente morreu pela quebra de um toboágua, uma criança de quatro anos foi esmagada por um poste derrubado por um ônibus, uma menina pulou do quarto andar apavorada pelo pai bêbado, um menino de nove anos foi queimado com um ferro de marcar boi. Sem contar as crianças que morreram de dengue. Se não bastar, leia a coluna de Gilberto Dimenstein na Folha de domingo passado.
A turba do "pega e lincha" representa, sim, alguma coisa que está em todos nós, mas que não é um anseio de justiça. A própria necessidade enlouquecida de se diferenciar dos assassinos presumidos aponta essa turma como representante legítima da brutalidade com a qual, apesar de estatutos e leis, as crianças podem ser e continuam sendo vítimas dos adultos.

(Folha de São Paulo, 24/04/2008)


APAGUE A LUZ DO DIA
Allison da Silva Ambrósio


Apague a luz do dia, está me irritando
A claridade fria que está fazendo
Traz um remédio que conforte a alma
Que cala e acalma o que está doendo

Suprima o sorriso, está incomodando
Essa alegria que está trazendo
Faz um lamento que enferme a alma
Que revele o trauma que estou tendo

Quem não cansou de viver de amor
Não sabe nada e nunca soube
Que a alma encerra os gritos roucos

Dos carinhos mil que são sempre poucos
E da solidão que provoca a dor
Por uma paixão que nunca houve

quinta-feira, 24 de abril de 2008

Sobre moluscos e homens

Por Rubem Alves

Piaget, antes de se dedicar aos estudos da psicologia da aprendizagem, fazia pesquisas sobre os moluscos dos lagos da Suíça. Os moluscos são animais fascinantes. Dotados de corpos moles, seriam petiscos deliciosos para os seres vorazes que habitam as profundezas das águas e há muito teriam desaparecido se não fossem dotados de uma inteligência extraordinária. Sua inteligência se revela no artifício que inventaram para não se tornarem comida dos gulosos: constróem conchas duras – e lindas! - que os protegem da fome dos predadores. Ignoro detalhes da biografia de Piaget e não sei o que o levou a abandonar seu interesse pelos moluscos e a se voltar para a psicologia da aprendizagem dos humanos. Não sabendo, tive de imaginar. E foi imaginando que pensei que Piaget não mudou o seu foco de interesse. Continuou interessado nos moluscos. Só que passou a concentrar sua atenção num tipo específico de molusco chamado “homem“. Se é que você não sabe, digo-lhe que muito nos parecemos com eles: nós, homens, somos animais de corpo mole, indefesos, soltos numa natureza cheia de predadores. Comparados com os outros animais nossos corpos são totalmente inadequados à luta pela vida. Vejam os animais. Eles dispõem apenas do seu corpo para viver. E o seu corpo lhes basta. Seus corpos são ferramentas maravilhosas: cavam, voam, correm, orientam-se, saltam, cortam, mordem, rasgam, tecem, constróem, nadam, disfarçam-se, comem, reproduzem-se. Nós, se abandonados na natureza apenas com o nosso corpo, teríamos vida muito curta. A natureza nos pregou uma peça: deixou-nos, como herança, um corpo molengão e inadequado que, sozinho, não é capaz de resolver os problemas vitais que temos de enfrentar. Mas, como diz o ditado, “é a necessidade que faz o sapo pular“. E digo: é a necessidade que faz o homem pensar. Da nossa fraqueza surgiu a nossa força, o pensamento. Parece-me, então, que Piaget, provocado pelos moluscos, concluiu que o conhecimento é a concha que construímos a fim de sobreviver. O desenvolvimento do pensamento, mais que um simples processo lógico, desenvolve-se em resposta a desafios vitais. Sem o desafio da vida o pensamento fica a dormir... O pensamento se desenvolve como ferramenta para construirmos as conchas que a natureza não nos deu.O corpo aprende para viver. É isso que dá sentido ao conhecimento. O que se aprende são ferramentas, possibilidades de poder. O corpo não aprende por aprender. Aprender por aprender é estupidez. Somente os idiotas aprendem coisas para as quais eles não têm uso. Somente os idiotas armazenam na sua memória ferramentas para as quais não têm uso. É o desafio vital que excita o pensamento. E nisso o pensamento se parece com o pênis. Não é por acidente que os escritos bíblicos dão ao ato sexual o nome de “conhecimento“... Sem excitação a inteligência permanece pendente, flácida, inútil, boba, impotente. Alguns há que, diante dessa inteligência flácida, rotulam o aluno de “burrinho“... Não, ele não é burrinho. Ele é inteligente. E sua inteligência se revela precisamente no ato de recusar-se a ficar excitada por algo que não é vital. Ao contrário, quando o objeto a excita, a inteligência se ergue, desejosa de penetrar no objeto que ela deseja possuir.Os ditos “programas“ escolares se baseiam no pressuposto de que os conhecimentos podem ser aprendidos numa ordem lógica predeterminada. Ou seja: ignoram que a aprendizagem só acontece em resposta aos desafios vitais que estão acontecendo no momento (insisto nessa expressão “no momento“ – a vida só acontece “no momento“) da vida do estudante. Isso explicaria o fracasso das nossas escolas. Explicaria também o sofrimento dos alunos. Explicaria a sua justa recusa em aprender. Explicaria sua alegria ao saber que a professora ficou doente e vai faltar... Recordo a denúncia de Bruno Bettelheim contra a escola: “Fui forçado (!) a estudar o que os professores haviam decidido o que eu deveria aprender – e aprender à sua maneira...“ Não há pedagogia ou didática que seja capaz de dar vida a um conhecimento morto. Somente os necrófilos se excitam diante de cadáveres.Acontece, então, o esquecimento: o supostamente aprendido é esquecido. Não por memória fraca. Esquecido porque a memória é inteligente. A memória não carrega conhecimentos que não fazem sentido e não podem ser usados. Ela funciona como um escorredor de macarrão. Um escorredor de macarrão tem a função de deixar passar o inútil e guardar o útil e prazeroso. Se foi esquecido é porque não fazia sentido. Por isso acho inúteis os exames oficiais (inclusive os vestibulares) que se fazem para avaliar a qualidade do ensino. Eles produzem resultados mentirosos por serem realizados no momento em que a água ainda não escorreu. Eles só diriam a verdade se fossem feitos muito tempo depois, depois do esquecimento haver feito o seu trabalho. O aprendido é aquilo que fica depois que tudo foi esquecido... Vestibulares: tanto esforço, tanto sofrimento, tanto dinheiro, tanta violência à inteligência... O que sobra no escorredor de macarrão, depois de transcorridos dois meses? O que restou no seu escorredor de macarrão de tudo o que você teve de aprender? Duvido que os professores de cursinhos passem nos vestibulares. Duvido que um professor especialista em português se saia bem em matemática, física, química e biologia... Eles também esqueceram. Duvido que os professores universitários passem nos vestibulares. Eu não passaria. Então, por que essa violência que se faz sobre os estudantes?Ah! Piaget! Que fizeram com o seu saber? Que fizeram com a sua sabedoria? É preciso que os educadores voltem a aprender com os moluscos...
(Folha de S. PauLO, Tendências e Debates, 17/02/2002)

NOTÍCIAS

A Sociedade Brasileira de Psicologia e Acupuntura (Sobrapa) e o Conselho Federal de Psicologia (CFP) têm o prazer de divulgar o resultado vitorioso de mais uma causa da Psicologia e do profissional psicólogo: A inclusão do psicólogo acupunturista nas equipes do NASF (Núcleo de Apoio à Saúde da Família).
A Portaria 154, de 24 de janeiro de 2008 foi reeditada após manifestação de diversas categorias da saúde e da Psicologia, por meio da ação conjunta entre SOBRAPA e o Conselho Federal de Psicologia. A reedição foi publicada e no Diário Oficial da União em 04 de março de 2008. A Portaria cria para o Psicólogo duas possibilidades de participação nas equipes do NASF: como Psicólogo da Saúde Mental e como Psicólogo Acupunturista.

Sejam muito bem-vindos Allison, Juliana e Weina!!!! Agora, já matriculados, alunos de Psicologia!

"Gastarei minha vida explorando o mais deslumbrante e complexo dos mundos, a mente humana. Serei um garimpeiro, procurando ouro nos escombros das pessoas que sofrem." (Augusto Cury)

quarta-feira, 23 de abril de 2008

AULA SOBRE POSITIVISMO

Pois é pessoal! Muitas pessoas votaram, que SIM, aceitam uma aula sobre POSITIVISMO com a professora Léia! Poderemos estar agendando esta aula! Aguardem!

pow gente...

meu deus... o curso mal começou e já tem gnt se desinteressando: qlq curso de cinco anos tem q ter uma introdução!!!temos de ter paciência e esperar melhor.
e, por favor, galera: ajudem-se!!! eu sei q existem uns e outros com qm n nos identificamos, mas deixem a galera falr, se manifestar! com a estupidez de certas pessoas n iremos pra frente! Axo q ta faltando mta cooperação e bom-senso.
bjao ra todos e espero q td va bem daqui pra frente!

terça-feira, 22 de abril de 2008

Estereótipo influi no sucesso e no fracasso, diz estudo

Pessoas são afetadas pela percepção do grupo social a que pertencem, diz estudo.
Da BBC

Um artigo publicado na edição deste mês da revista especializada Scientific American afirma que os estereótipos exercem grande influência sobre o sucesso ou o fracasso dos indivíduos.
Segundo o artigo, assinado por pesquisadores britânicos, o fracasso no trabalho, na escola ou em esportes não se deve necessariamente à falta de talento ou incompetência, mas também à maneira como cada um percebe o grupo social ao qual pertence.
Assim, por exemplo, mulheres asiáticas que fizeram testes de matemática obtiveram melhor desempenho ao serem lembradas de suas origens asiáticas (reforçando o estereótipo de que os asiáticos são melhores em matemática) que ao ter sua identidade feminina destacada (já que, segundo o estereótipo, mulheres são piores em matemática que os homens).
Da mesma forma, atletas brancos tiveram pior desempenho em jogos de golfe quando foram informados de que teriam sua "capacidade atlética natural" comparada à de jogadores negros. Em compensação, o grupo melhorou ao acreditar que se tratava de um teste de "inteligência estratégica esportiva".
Em outros experimentos, pessoas mais velhas tiveram rendimento pior em testes de memória após ser lembradas do estereótipo que as relaciona à capacidade cognitiva deteriorada.

Efeito positivo
Estudos anteriores tentaram vincular esta mudança de desempenho ao uso de áreas da memória que deixariam de ser utilizadas pelos indivíduos submetidos à ansiedade da "ameaça dos estereótipos".
Entretanto, isto não explicaria por que os estereótipos também podem ajudar a elevar o rendimento de membros de grupos considerados 'os melhores' - neste caso, esta percepção não altera os recursos de memória disponíveis, disseram os pesquisadores.
Para eles, a explicação é que "a ameaça dos estereótipos não é tanto uma questão de cognição em si, também de imagem pessoal e identidade".
"Embora alguns pesquisadores tenham saltado para a conclusão altamente polêmica de que as diferenças de desempenho refletem diferenças naturais entre os grupos, na verdade a raiz de muitas diferenças repousa sobre os estereótipos, ou pré-conceitos, que outros têm em relação ao grupo a que pertencemos", diz o estudo.
Ao mesmo tempo, o artigo afirmou que os estereótipos são flexíveis, e podem ser modificados para influenciar o desempenho dos indivíduos.
"De muitas maneiras, temos um estereótipo do estereótipo, que é errada. Os estereótipos não são necessariamente ruins, podem inclusive ser ferramentas de progresso", disse o professor Stephen Reicher, da Universidade St Andrews, na Escócia.
"Foi precisamente por desafiar estereótipos que ativistas como Steve Biko e Emmeline Pankhurst puderam alcançar a emancipação de negros sul-africanos e de mulheres britânicas."
Para os pesquisadores, os estudos em relação ao tema trazem "duas lições fundamentais".
"A primeira é tomar cuidado para não confundir desempenho e capacidade, especialmente ao tratar de grupos diferentes entre si, e compreender a força que as expectativas dos outros exerce sobre o que fazemos", dizem os pesquisadores.
"A segunda é perceber que não estamos fadados a ser vítimas de estereótipos opressivos, mas que podemos aprender a usar os estereótipos como ferramentas de nossa liberação."

Fonte: http://g1.globo.com/Noticias/Ciencia/0,,MUL420632-5603,00-ESTEREOTIPO+INFLUI+NO+SUCESSO+E+NO+FRACASSO+DIZ+ESTUDO.html

A INVEJA É UMA...

Antes que tente se esquivar e complete a frase com alguma palavra chula, saiba que mais de 70% dos brasileiros já confessaram terem sido tomados por esse sentimento. Mas será que ele é sempre ruim?


Por Pamela Cristina Leme



"O ódio espuma. A preguiça se derrama. A gula engorda. A avareza acumula. A luxúria se oferece. O orgulho brilha. Só a inveja se esconde", adverte Zuenir Ventura no livro "Inveja - Mal Secreto" (Editora Objetiva). Listada pela Igreja Católica durante o Concílio de Trento (1545-1563), a inveja está entre os sete pecados capitais (batizados assim porque dão origem a outros) escolhidos para refletir sobre o crescimento do protestantismo da época, e também para criar um sistema que ajudasse os fiéis a memorizar os reais valores católicos.Mas até hoje a inveja ainda carrega o peso de ser um sentimento capaz de causar o sofrimento humano, e o dicionário dá uma força para afirmar essa predileção. De acordo com o Aurélio, esse sentimento se caracteriza pelo desgosto ou pesar de alguém com a felicidade de outra pessoa, bem como pelo desejo violento de possuir o bem alheio, o que confirma jargões como "a grama do vizinho é sempre mais verde" e "a inveja mata". O psicólogo e professor do Instituto de Psicologia da USP Ailton Amélio da Silva explica que "a inveja aparece quando outrem é dono de alguma coisa que não possuímos. Esse interesse produz vontades negativas, como a sensação de inferioridade que o próprio invejoso angaria e a vontade de que o outro perca o que tem. Por essa razão, a inveja não é considerada um sentimento nobre". "Algumas pessoas são mais suscetíveis a sentirem inveja que outras. O grau de inveja depende de como alguém foi tratado desde que nasceu, ou seja, se recebeu afeto, atenção e reconhecimento por suas conquistas", explica a psicóloga e analista junguiana Brenda Gottlieb, membro da Sociedade Brasileira de Psicologia Analítica. De acordo com a médica, a inveja nasce da frustração de algumas pessoas por se sentirem fracassadas em determinadas áreas da vida. Ela conta que, por não suportar a idéia de ser incapaz de conseguir aquilo que outro possui, o invejoso passa a boicotar, fofocar e tramar armadilhas para acabar com o prazer de outrem, a fim de provar para si mesmo que é melhor. Ainda assim, a médica afirma que é preciso ficar atento à inveja, já que ela indica um desejo reprimido e nem sempre é patológica. Por isso, devemos diferenciar a inveja da busca pelo bem-estar ou o desejo pela conquista do objeto que nos falta, sem práticas de humilhação e desonestidade com o próximo. "Inveja todo mundo tem. E todo mundo tem que ter, porque ela faz parte da psique humana. No entanto, é preciso saber que a inveja pode tanto destruí-lo como beneficia-lo", diz. "A inveja pode fazer com que as pessoas se esforcem para conseguir o que querem. Ela estimula a criação e é benéfica quando a busca pelo objeto pretendido não implica a decadência do outro."

Quem sente mais inveja?

Os especialistas consultados afirmam que entre homens e mulheres a incidência de inveja é a mesma. O que muda é a forma como cada sexo se manifesta. "As mulheres costumam ser mais competitivas no que diz respeito à beleza. A intensa valorização da estética pelos meios de comunicação cria um campo de hostilidade entre elas, tanto para protegerem seus parceiros quanto na busca por uma nova relação", sinaliza o professor do Instituto de Psicologia da USP (Universidade de São Paulo) Ailton Amélio, que escreveu o livro "O Mapa do Amor" (Editora Gente). "Os homens, por outro lado, são intensamente movidos pelo sucesso profissional, que está intrinsecamente ligado a auto-estima masculina", completa. Brenda salienta que a ala feminina é comumente classificada como a mais invejosa porque as mulheres expõem os sentimentos com mais facilidade. "A inveja não depende do sexo, mas, culturalmente, as mulheres lidam com seus sentimentos de forma mais aberta, já que sempre buscam exorcizar o que as perturba. Os homens, no entanto, tendem a reprimir mais o que sentem", aponta. Ainda assim, pesquisa realizada pelo Ibope em 2004, com homens e mulheres de todo Brasil, revelou que 70% dos brasileiros admitem terem sentido inveja. Para os profissionais, a inveja se perpetua apenas em grupos de pessoas que estão próximas. O sentimento costuma acontecer, com freqüência, entre colegas de trabalho e familiares.

"É típico o caso de irmãos que sentem inveja um do outro, porque acham que a mãe deu atenção para apenas um. Quanto mais próxima uma pessoa estiver de nós, maior as chances de sentirmos inveja. Isso porque são as pessoas que estão perto de nós que nos lembram o tempo todo como não conseguimos atingir certos objetivos de vida", sinaliza a analista junguiana.

Absolutamente malévolo ou não, o sentimento ecoa profundamente no inconsciente individual e coletivo, acompanhado, sem dúvidas, de um lado, da vergonha por sentir tão vil desejo e, de outro, do medo de exclusão e rejeição pelo meio social o qual se está inserido. Mas não é difícil imaginar que muita gente por aí, tal qual John Milton no filme "Advogado do Diabo" (EUA, 1997), no fundo pense: "A inveja é meu pecado favorito".

"O termômetro do sucesso é meramente a inveja dos descontentes." Salvador Dali

COMPORTAMENTO


Quando o mal triunfa


Crianças assassinadas, abandonadas, torturadas – as notícias que
têm chocado o Brasil lembram que o lado monstruoso do homem
pode até ser contido, mas jamais será definitivamente domado.

Jerônimo Teixeira para VEJA

acesse o LINK e leia a reportagem na íntegra: http://veja.abril.com.br/090408/p_088.shtml

sábado, 19 de abril de 2008

Professores




Seria muito bem-vindo, todo material, que enriquecesse e complementasse nossos conhecimentos em Psicologia.


Assim como, artigos, notícias, material que está disponível na internet, indicações de livros, sites, links, filmes, etc.


Este Blog deve ser usado pelos professores que tem interesse em trocar informações com seus alunos! Fiquem à vontade!

quinta-feira, 17 de abril de 2008

DUÍLIA
Allison S. Ambrósio

Essa noite eu assisti a um filme rodado nos anos sessentas, baseado em um dos contos mais bonitos que já li: “Viajando nos Seios de Duília”. Acho que uma das coisas que tornou o texto mais significativo para mim foi estar com meu grande amigo e escritor Ricardo Gondim naquela tarde, num dos raros momentos de descontração que tivemos em Fortaleza, numa livraria do Iguatemi.

O texto se encontra na coleção “Os Cem Melhores Contos do Século”, ou algo assim. Fala de um homem, Sr. José Maria que, ao que tudo indica, estacionou todas as suas emoções em um singular momento de sua adolescência, quando foi procurar a garota por quem estava apaixonado havia muito tempo, contudo sem coragem de falar.

Seu pai recebeu uma nomeação do governo federal no Rio de Janeiro, que o chamava para assumir o trabalho em apenas dois dias. Portanto, Zequinha precisava encontrar Duília, seu amor de juventude para dar as duas notícias – a partida iminente daquele vilarejo onde moravam e a paixão que sentia. Para sua surpresa, ela também lhe confessou ser apaixonada por ele desde muito tempo, o que o sobressaltou em razão de só saber dessas coisas no tempo de ir embora.

Quarenta anos depois, o agora Sr.José Maria está aposentado, morando no Rio de Janeiro e muito infeliz. Descobriu que havia posto todas as suas energias no trabalho e não construiu família, amizades ou relacionamentos duradouros. Por causa de uma conversa informal em um velório, José Maria chega à conclusão de que se voltar a Pouso Triste, a cidadela de onde saiu e onde deixou o seu grande amor, provavelmente reencontraria a felicidade.

Desde a viagem em si até a chegada, não se faz necessário dizer que foi uma grande decepção o seu retorno. Apesar de nada ter mudado esteticamente falando – a cidadezinha ficava no interior mais remoto do Estado de Minas Gerais – o José Maria havia mudado. Lugares que pareciam enormes, agora para ele eram atravessados em poucas passadas. Rios caudalosos para um menino, não passavam de riachos frágeis e inofensivos para o homem que voltou.

Quando se aproximou de Duília, agora uma senhora de mais de sessenta anos de idade, viúva, três filhos, ao revelar finalmente quem era, fez com que a mulher se angustiasse e perguntasse decepcionada: “Por que você fez isso? Por que voltar no tempo, atrás de um passado que não existe mais, de uma pessoa que nunca mais será a mesma?”. Quando se deu conta dessa realidade, José Maria saiu da sala, caminhando como que sem rumo em direção à árvore onde deu seu primeiro e único beijo de amor.

O filme termina assim. Assim como a vida, que nem sempre segue um roteiro do Spielberg em seu final. Seca, fria e inexorável. “É a vida!”, multiplicam-se afirmações do tipo. Achei até melhor que nem o autor do conto e nem o roteirista do filme tivessem tentado dar um final plausível para o homem desesperado. Acho que seria a morte, mas, na idade em que se encontrava, talvez nem conseguisse voltar mais para o Rio de Janeiro.

Já voltei no tempo algumas vezes, revisitando lugares e reencontrando pessoas queridas. Em algumas delas chorei de emoção. Não sei se isto já um dispositivo de prevenção emocional da nossa própria mente, pressentindo a chegada da maturidade. Aí nos apegamos às curvas, alças e nós do passado, da nostalgia, como que querendo voltar no tempo, nem tanto pela experiência em si, mas para adiar a fila da partida eterna.

É quando os perfumes, os sabores, as cores e frases nos chegam com toque de eternidade. É quando nos encontramos a administrar medos jamais antes sentidos. E saímos correndo atrás das Duílias da nossa história. Ou dos Josés Marias, diriam as mulheres. E eles não estão mais lá. E as histórias não estão mais lá. Finalmente descobrimos que nós também não estamos mais.
A PALAVRA
Pablo Neruda

...Sim, senhor, tudo o que queira, mas são as palavras as que cantam, as que sobem e baixam... Posterno-me diante delas... Amo-as, uno-me a elas, persigo-as,mordo-as, derreto-as... Amo tanto as palavras... As inesperadas... As que avidamente a gente espera, espreita até que de repente caem... Vocábulos amados... Brilham como pedras coloridas, saltam como peixes de prata, são espuma, fio, metal, orvalho... Persigo algumas palavras... São tão belas que quero coloca-las todas em meu poema...

Agarro-as no vôo, quando vão zumbindo, e capturo-as, limpo-as, aparo-as, preparo-me diante do prato, sinto-as cristalinas, vibrantes, ebúrneas, vegetais, oleosas, como frutas, como algas, como ágatas, como azeitonas...E então as revolvo, agito-as, bebo-as, sugo-as, trituro-as, adorno-as, liberto-as... Deixo-as como estalactites em meu poema, como pedacinhos de pedra polida, como carvão, como restos de um naufrágio, presentes da onda... Tudo está na palavra... Uma idéia inteira muda porque uma palavra mudou de lugar ou porque outra sentou como uma rainha dentro de uma frase que não a esperava e que a obedeceu...

Têm sombra, transparência, peso, plumas, pêlos, têm tudo o que se lhes foi agregando de tanto vagar pelo rio, de tanto transmigrar de pátria, de tanto ser raízes...São antiqüíssimas e recentíssimas. Vivem no féretro escondido e na flor apenas desabrochada... Que bom idioma o meu, que boa língua herdamos dos conquistadores torvos...

Estes andavam a passos largos pelas tremendas cordilheiras, pelas Américas encrespadas, buscando batatas, butifarras, feijõezinhos, tabaco negro, ouro, milho, ovos, frutos, com aquele apetite voraz que nunca mais se viu no mundo... Tragavam tudo: religiões, pirâmides, tribos, idolatrias iguais às que eles traziam em suas grandes bolsas... Por onde passavam a terra ficava arrasada...

Mas caíam das botas dos bárbaros, das barbas, dos elmos, das ferraduras, como pedrinhas, as palavras luminosas que permaneceram aqui resplandecentes... o idioma. Saímos perdendo... Saímos ganhando... Levaram o ouro e nos deixaram o ouro... Levaram tudo... e nos deixaram tudo... Deixaram-nos as palavras.

(“Confesso que Vivi” – Ed. Rio de Janeiro: Difel, 1980. p. 51-2)

domingo, 13 de abril de 2008

Festa da sala!




PESSOAS SUPER ANIMADAS!!!!

Katia

DIFERENÇA VÍRUS E BACTÉRIA

Qual é a diferença entre os vírus e as bactérias?

São muitas, as diferenças entre os vírus e as bactérias. Os vírus são conhecidos por serem os organismos mais simples e pequenos. Eles são 10 a 100 vezes mais pequenos que as bactérias. A maior diferença entre os vírus e as bactérias, é que os vírus necessitam de um hospedeiro vivo para crescerem - como uma planta ou um animal – para se multiplicarem, enquanto a maioria das bactérias podem crescer em superfícies mortas.Ao contrario das bactérias, que atacam o corpo como soldados numa batalha campal, os vírus são lutadores guerrilheiros. Eles não atacam tanto como infiltram. Eles literalmente invadem as células humanas e viram o seu material genético da célula a seu favor para se reproduzirem.Além do mais, as bactéria transportam toda a maquinaria necessária para o seu crescimento e multiplicação, enquanto os vírus contem principalmente a informação para tal, por exemplo, o ADN ou o RNA, é empacotado numa proteína e/ou capsula proteica. Os vírus arreiam a maquinaria da célula hospedeira para se reproduzirem. Num sentido, os vírus não estão verdadeiramente "vivos," mas são essencialmente informação (ADN ou RNA) que flutua, até eles encontrarem um hospedeiro adequado para viverem.
Baseado no site: http: //iastatefoodservice.custhelp.com

sábado, 12 de abril de 2008

Pessoal,
Indico um site muito legal a ser usado principalmente nas aulas de anatomia.
www.ocorpohumano.com.br
Espero que gostem
Leticia

sexta-feira, 11 de abril de 2008

Tudo de bom para você Alessandra!!!



Pessoal!!! A Alessandra está nos deixando, mas não significa que perdemos uma colega de turma, e sim, ganhamos momentos muito legais em sala, que ficarão registrados em nossa memória!
...em cada minuto uma escolha...em cada escolha um resultado...em cada resultado uma experiência...experimentar é VIVER! Zibia M.Gasparetto


Não somos apenas o que pensamos ser. Somos mais; somos também, o que lembramos e aquilo de que nos esquecemos; somos as palavras que trocamos, os enganos que cometemos, os impulsos a que cedemos,“sem querer“. Sigmund Freud





Ale, seja Feliz e siga seu CORAÇÃO!!!





Katia Mafra


OI PESSOAL;

EM PRIMEIRO LUGAR, GOSTARIA DE AGRADECER TODO O CARINHO QUE TIVERAM COMIGO.
QUANDO EU DECIDI FAZER ESTE CURSO, EU ESTAVA COMPLETAMENTE CERTA DO QUE EU QUERIA; MAS COM O PASSAR DESTE POUCO TEMPO EU DESCOBRI QUE NÃO ESTAVA TÃO CERTA ASSIM.
PENSEI MUITO ANTES DE TOMAR UMA DECISÃO, BASTANTE MESMO ACHEI QUE IRIA CONSEGUIR SUPERAR ESTA DIFICULDADE, CHEGUEI ATÉ A CONVERSAR PARTICULARMENTE COM ALGUMAS AMIGAS DE SALA, MAS INFELIZMENTE ESSE MEU MEDO INTERIOR FOI MAIOR.
NÃO SEI SE É MAIS DIFÍCIL SENTIR MEDO OU ASSUMIR O MEDO QUE SENTIMOS.
EU NÃO TENHO PALAVRAS PARA EXPRESSAR A MINHA GRATIDÃO POR VOCES, MUITO OBRIGADA DE CORAÇÃO.
QUERO DEIXAR O MEU AGRADECIMENTO EM ESPECIAL PARA KÁTIA E PARA A GABRIELA ME AJUDARAM BASTANTE NA CONVERSA QUE TIVEMOS.
EU NÃO QUERO ME DESPEDIR DESTA SALA MARAVILHOSA, GOSTARIA DE MANTER CONTATO COM TODAS, SEMPRE QUE DER DAREI UMA PASSADINHA NA FACUL PARA MATARMOS A SAUDADE.
EU SÓ POSSO AGRADECER E PEDIR DESCULPAS POR DESAPONTÁ-LAS (OS).
E QUE DEUS ESTEJA COM TODAS EM TODAS AS FASES DESTA JORNADA.
AMO VOCÊS.

quinta-feira, 10 de abril de 2008

Evento - ATC_livre

Mesa-Redonda: "Discutindo Habermas na Atualidade
"Prof. Dr. Delamar Volpato Dutra (PPGF/UFSC)
Prof. Dr. Alexandre Fernandez Vaz (PPGE/UFSC)
Prof. Dr. Ralph Ings Bannell (PPGE/PUCRJ)
Prof. Dr. Amarildo Luiz Trevisan (PPGE/UFSM)
Profa. Dra. Nadja Hermann (PPGE/PUCRS)
Prof. Dr. Alessandro Pinzani (PPGF/UFSC)
Data: 15/04/2008
Horário: 18h e 30 min
Local: sala 618, PPGE/CE/UFSC

Evento - ATC_ livre (quem puder ou quiser)

Defesa de Tese da Doutoranda Rita Oenning da Silva: “Superar no Movimento: Etnografia de performances de Pirráias em Recife e mais além”,
Data: 29 de abril de 2008, às 14 horas no Mini-Auditório do CFH/UFSC.
Banca Examinadora:Drª Esther Jean Langdon (UFSC - Orientadora)Dra Suzanne Oakdale (Univ. of New México UNM/USA - Co-orientadora)Dr Hélio Raymundo.Santos Silva (Fiocruz/Viva Rio-RJ)Dra Rose Satiko Gitirana Hikiji (PPGAS/USP)Dra Sônia Weidner Maluf (PPGAS/UFSC)Dra Vânia Cardoso (PPGAS/UFSC)Dr Scott Head (University of Texas at Austin, EUA - Suplente)Dr Theóphilos Rifiotis (PPGAS/UFSC - Suplente)

Evento - ATC_ Livre (Para quem quiser ou puder)

Defesa de Dissertação da Mestranda America Larrain González
Tema: “O Negócio da Arte e da Cultura: para uma Antropologia do Festival de Dança de Joinville”
Data: 11 de abril de 2008, às 9:30 horas no Mini-auditório do CFH.
Banca Examinadora:Dr. Rafael José de Menezes Bastos (UFSC– Orientador)Dr. Ruben George Oliven (UFRGS)Drª Esther Jean Langdon (PPGAS/UFSC) Dr. Marnio Teixeira Pinto (PPGAS/UFSC - Suplente)



A T C ORIENTADA

REFERENTE AO QUESTIONÁRIO RESPONDIDO EM SALA:
SOMENTE 19 ALUNAS RESPODERAM O QUESTIONÁRIO.

REF:
ÓTIMO BOM REGULAR RUIM PÉSSIMO
WORD - 2 9 6 2 1
EXEL - 5 4 6 4
POWER POINT- 2 7 4 5
INTERNET E- MAIL- 7 9 1 2
SITE DE BUSCA - 6 8 2 1 2

O AGENDAMENTO DESTA AULA DEVE SER FEITA NA BIBLIOTECA, PEÇAM PARA A NOVA REPRESENTANTE A LÉIA PARA VERIFICAR UM DIA OK.

Revista Psicologia e Profissão

Segue o link da Revista Psicologia e Profissão.
Esta revista possui conteúdos científicos.
Link: http://pepsic.bvs-psi.org.br/scielo.php?script=sci_issues&pid=1414-9893&lng=pt&nrm=iso

o mito da caverna

O SÍMBOLO DA CAVERNA


Arquétipo do útero materno, a caverna figura nos mitos de origem, de renascimento e de iniciação de numerosos povos.
Sob a designação genérica de caverna, incluímos igualmente as grutas e os antros, se bem que não haja sinomínia perfeita entre essas palavras. Entendemos por caverna um lugar subterrâneo, ou rupestre, de teto abobadado, mais ou menos afundado na terra ou na montanha e mais ou menos escuro; o antro seria uma espécie de caverna mais sombria e mais profunda, situada bem no fundo de uma anfractuosidade, sem abertura direta para a luz do dia; entretanto, excluímos o covil, guarida de animais selvagens ou de bandidos, cujo significado nada mais é do que uma forma corrupta do símbolo.
Nas tradições iniciáticas gregas, a caverna representa o mundo. A caverna pela qual Ceres descera aos Infernos, à procura de sua filha, foi chamada de mundo. (Servius, Sur lês Bucoliques, 111,105). Para Platão, esse mundo é um lugar de ignorância, de sofrimento e de punição, onde as almas humanas são encerradas e acorrentadas pelos deuses como se estivessem dentro de uma caverna. Imagina, pois, homens, diz Platão em A República (livro VII, 514, ab) ao descrever o famoso mito, que vivem numa espécie de morada subterrânea em forma de caverna que tem, ao longo de toda sua fachada, uma entrada a abrir-se amplamente para o lado da luz; no interior dessa morada esses homens estão, desde a infância, acorrentados pelas pernas e pelo pescoço, de modo a permanecerem sempre no mesmo lugar, a não verem o que estiver diante deles e incapazes, por outro lado, por causa da corrente que lhes sujeita a cabeça, de gira-la circularmente. Quanto à luz, a única que lhes chega é a que provém de um fogo que arde por trás deles, no alto e longe. Para Platão, esta é a situação dos homens na terra. A caverna é a imagem deste mundo. A luz indireta que ilumina suas paredes provém de um sol invisível; mas indica o caminho que a alma deve seguir a fim de encontrar o bem e a verdade: a subida para o alto e a contemplação daquilo que existe no alto representam o caminho da alma para elevar-se ao lugar inteligível. Em Platão, o simbolismo da caverna implica portanto uma significação não apenas cósmica, mas também ética ou moral. A caverna e seus espetáculos de sombras ou de fantoches representam esse mundo de aparências agitadas, do qual a alma deve sair para contemplar o verdadeiro mundo das realidades – o mundo das Idéias.
Numerosas cerimônias de iniciação começam com a passagem do postulante para dentro de uma caverna ou fossa: é a materialização do regressus ad uterum (retorno ao útero) definido por Mircea Eliade. Esse era especialmente o caso ritual de Elêusis (MAGE ,286) no qual, sendo a lógica simbólica rigorosamente descrita nos fatos, os iniciados eram acorrentados dentro da gruta; dali deviam conseguir escapar para alcançar a luz. Já nas cerimônias religiosas instituídas por Zoroastro, um antro representava o mundo (MAGE, 287): Zoroastro foi quem primeiro consagrou em homenagem a Mitra um antro natural, regado por fontes, coberto de flores e de folhagens. Esse antro representava a forma de mundo criado por Mitra... Inspirando-se nessas crenças pictóricas, e depois deles Platão, chamaram o mundo de antro e de caverna. Com efeito, em Empédocles, as forças uqe conduzem as almas dizem: Viemos para debaixo desse antro coberto por um teto (Porfírio, Do antro das Ninfas, 6-9). Plotino comenta esse simbolismo nos seguintes termos: A caverna para Platão, assim como o antro para Empédocles, significa, ao que me parece, o nosso mundo, onde a caminhada em direção à inteligência representa para a alma a libertação de seus laços e a ascenção para fora da caverna (Plotino, Enéadas, IV, 8,1) Segundo uma opinião mais mística, Dionísio é, ao mesmo tempo, o guardião do antro e aquele que liberta o rpisioneiro ao romper suas correntes: Como o iniciado é um Dionísio, na realidade é ele mesmo quem se mantém aprisionado no começo e ele mesmo quem se liberta no final; ou seja, segundo a interpretação de Platão e Pitágoras, a alma é mantida em prisão por suas paixões e liberada pelo Nous, e.e., pelo pensamento (MAGE, 290-291)
Como se vê, toda a tradição grega une estreitamente o simbolismo metafísico e o simbolismo moral: a construção de um eu harmonioso faz-se à imagem de um cosmo harmonioso.
Entretanto, em face dessa interpretação ergue-se o outro aspecto simbólico da caverna, o mais trágico dos aspectos. O antro, cavidade sombria, região subterrânea de limites invisíveis, temível abismo, que habitam e de onde surgem os monstros, é um símbolo do inconsciente e de seus perigos, muitas vezes inesperados. O antro de Trofônio, muito célebre entre os Antigos, pode efetivamente ser considerado como um dos mais perfeitos símbolos do inconsciente. Trofônio, rei de uma pequena província e ilustre arquiteto, construiu, com a ajuda de seu irmão, Agamedes, o templo de Apolo em Delfos. Depois, como o rei Hirieu os houvesse encarregado de construir um edifício para guardar seus tesouros, eles abriram uma passagem secreta a fim de roubar essas riquezas; percebendo a manobra, Hirieu armou uma armadilha e Agamedes foi apanhado. Ao não conseguir liberta-lo e não querendo ser reconhecido através dos traços fisionômicos do irmão, Trofônio cortou-lhe a cabeça no intuito de leva-la consigo. No mesmo instante, porém, foi submerso nas entranhas da terra. Anos mais tarde, a Pítia (sacerdotisa de Apolo), consultada para por fim a uma terrível seca, recomenda que se dirijam a Trofônio, cuja morada ficava dentro de um antro no fundo de um bosque. A resposta do rei-arquiteto foi favorável e, desde então, a morada do oráculo foi uma das mais freqüentadas. Mas só se podia consulta-lo depois de atravessar os mais assutadores obstáculos. Uma seqüência de vestíbulos subterrâneos e de grutas levava à entrada de uma caverna, que se abria como uma cova fria, medonha e negra. O consulente descia até ali por uma escada, que terminava numa outra cova, cuja abertura era muito estreita. O consulente introduzia primeiro os pés, depois o corpo, que passava com grande dificuldade; depois, era a queda rápida e precipitada no fundo do antro. Quando voltava, vinha com a cabeça para baixo e os pés para cima, puxado muito rapidamente no sentido inverso, com o auxílio de uma máquina invisível. Durante todo o percurso, segurava doces de mel, que o impediam de tocar na máquina e lhe permitiam acalmar as serpentes que costumavam infestar esses lugares. A permanência no antro podia durar um dia e uma noite. Os incrédulos jamais tornavam a ver a luz do dia. Os crentes às vezes ouviam o oráculo; de volta à superfície, sentavam-se num banco denominado Mnemósine (deusa da Memória) e evocavam as terríveis impressões sofridas, que os deixariam marcados pelo resto da vida. Era comum dizer-se das pessoas graves e tristes: Ela consultou o oráculo de Trofônio.
O complexo de Trofônio que matou o próprio irmão para não ser reconhecido como culpado, é o das pessoas que renegam as realidades de seu passado a fim de nelas sufocar um sentimento de culpabilidade; mas o passado, gravado no fundo de seu ser, não desaparece por isso; continua a tormenta-las sob toda espécie de metamorfose (serpentes, etc...), até o momento em que elas aceitam trazer esse passado à luz do dia, façam com que ele saia do antro e o reconheçam como algo que lhes pertence. A caverna simboliza a exploração do eu interior, e, mais particularmente, do eu primitivo, recalcado nas profundezas do inconsciente. Apesar das diferenças evidentes que os separam, pode-se estabelecer uma aproximação entre o fratricídio de Trofônio e o de Caim, ao matar Abel. A marca imemorial do assassinato habita o inconsciente e ilustra-se através da imagem de um antro.
A caverna também é considerada como um gigantesco receptáculo de energia, mas de uma energia telúrica e de modo algum celeste. Por isso ela sempre desempenhou (e ainda desempenha) um papel nas operações mágicas. Templo subterrâneo, a caverna guarda as lembranças do período glaciário, verdadeiro segundo nascimento da humanidade. É propícia às iniciações, ao sepultamento simulado, às cerimônias que circundam a imposição do ser mágico. Simboliza a vida latente que separa o nascimento obstétrico dos ritos da puberdade. Põe em comunicação o primitivo com as potências ctonianas (divindades que residem no interiro da terra) da morte e da germinação.
...
(Dicionário de Símbolos – Jean Chevalier; Alain Gheerbrant. P 213)

quarta-feira, 9 de abril de 2008

RACIONALISMO - História da Psicologia




Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

O racionalismo é a corrente filosófica que iniciou com a definição do raciocínio que é a operação mental, discursiva e lógica. Este usa uma ou mais proposições para extrair conclusões se uma ou outra proposição é verdadeira, falsa ou provável. Essa era a idéia central comum ao conjunto de doutrinas conhecidas tradicionalmente como racionalismo.

Definição de método científico de análise lógica segundo René Descartes:
"O racionalismo pode consistir em considerar a razão como essência do real, tanto natural quanto histórico. Sustenta a primazia da razão, da capacidade de pensar, de raciocinar, em relação ao sentimento e à vontade, pressupondo uma hierarquia de valores entre as faculdades psíquicas; ou a posição segundo a qual somente a análise lógica ou a razão pode propiciar desta forma o desenvolvimento da análise científica, do método matemático, que passa a ser considerado como instrumento puramente teórico e dedutivo, que prescinde de dados empíricos, aplicados às ciências físicas que levaram a uma crescente fé na capacidade do intelecto humano para isolar a essência no real e ao surgimento de uma série de sistemas metafísicos fundados na convicção de que a razão constitui o instrumento fundamental para a compreensão do mundo, cuja ordem interna, aliás, teria um caráter racional".

Conforme descrito acima, da obra de Descartes, o conjunto de aptidões em função das quais os indivíduos aprendem mais rapidamente novas informações e se revelam mais eficientes no manejo e aproveitamento adequado de conhecimentos já armazenados por meio de aprendizados anteriores e empíricos, estes podem fazer com que através da análise lógica se descubram processos ou sistemas mais rapidamente pelo método lógico e matemático, ao invés do método empírico, pois o empirismo leva em conta a tentativa e erro, enquanto que o método lógico e a análise crítica levam às respostas necessárias minimizando a necessidade do experimentalismo prático. Esta visão chamada de cartesiana alterou e acelerou as descobertas científicas.