quarta-feira, 30 de setembro de 2009

DERRIDA OU DESCE

Detesto ter que voltar a esse assunto, mas, dessa vez, os partidários de Bill Clinton exageraram.
O exagero veio no mesmo jornaleco que se tornou a principal tribuna de defesa do presidente criminoso por aqui: o Jornal do Brasil. Mais especificamente, o caderno Bordéias, perdão, Idéias de 16/01/99. Trata-se de uma pérola produzida por um "ensaísta" (em nossos tempos, quem quer que escreva dois artigos em jornal já é "ensaísta", de Carmen Mayrink Veiga a Emir Sader) do Los Angeles Times.
Uma palavrinha sobre o L. A. Times: é a "Caros Amigos" em versão jornal. O órgão oficial da patota. Dá cobertura a todo tipo de bobagem que os leitores puderem imaginar, como artistas performáticos cuja arte consiste em introduzir objetos no próprio ânus e defensores das teorias malucas da moda, como o desconstrucionismo.
Pois é o desconstrucionismo o tema do artigo do nobre ensaísta – autor, segundo o próprio JB, de um livro chamado An empire of their own: How the Jews invented Hollywood, o que me parece meio anti-semita (mas logo veremos que, segundo o próprio autor, isso não quer dizer nada).
O título já é bem sugestivo: O que Derrida tem a ver com Lewinsky? E é exatamente isso que o autor vai tentar explicar.
O desconstrucionismo, para os que não sabem, é a tese muito peculiar de certos autores franceses segundo a qual os textos não querem, em si mesmos, dizer nada, mas o leitor é que deve preencher-lhes o sentido. Quando Machado de Assis escreveu Dom Casmurro, ele não estava, por conta própria, querendo dizer coisa nenhuma. Jacques Derrida é que, quando lê Dom Casmurro, inventa um sentido pro que Macharo escreveu. Não só Derrida, como todos nós outros: todos somos muito mais inteligentes que Machado, aquela besta que não tinha o que fazer e resolveu fazer livros para não dizer absolutamente nada.
Ora, que um francês resolvesse dizer que não é capaz de entender o que os autores dizem, tudo bem. Quando ele resolve estender essa confissão de burrice para toda a humanidade, já começa a ficar chato. Mas vejam só o que o ensaísta do L.A.Times e, agora, do JB, escreve:
"Se o desconstrucionismo tivesse se confinado nos departamentos de Inglês das universidades, ela poderia ter servido apenas como mais uma ferramenta analítica. Mas os partidários mais radicais da desconstrução compreenderam que sua teoria trazia graves conseqüências não apenas para a literatura, mas para a própria noção de realidade. Se nada era objetivo, então o mundo inteiro era subjetivo. As pessoas no máximo concordavam com as convenções que tornam possível uma comunicação entre elas. Mas essas conveniências eram mitos."
Isto é: depois que um francês se confessou um idiota completo que não entende o que lê e disse que todos nós também o somos, outros idiotas resolveram dizer que são incapazes de entender a própria realidade que os cerca. Se um cachorro morde um desses "desconstrucionistas radicais", ele vai dizer que a dor da mordida é apenas uma "convenção". A própria presença desse computador aqui na minha frente é apenas subjetiva. Eu acho que ele está, Derrida acha que ele não está, alguns outros até preferiam que ele não estivesse e, por causa disso, ainda estão meio em dúvida...
E os carros buzinando, aqui, ao fundo, talvez não estejam mesmo buzinando: nós todos apenas "convencionamos" que, quando alguém que não sabemos bem se existe aperta a buzina de um carro que ele apenas acha que está ali na frente dele e imagina produzir um som, todos vamos também imaginar ouvir esse som e dizer que ele corresponde ao som da buzina de um carro.
Claro que tudo isso parece uma imensa sacanagem. Ninguém pode assumir uma tese dessas a sério, de cara limpa. Mas essas sacanagens às vezes têm um belo efeito político. Vejam só:
"Quando Clinton foi acusado de se refugiar em tecnicalidades e detalhes legais para salvar sua pele, ele estava na verdade se refugiando numa visão desconstrucionista da realidade. Não havia, ele insistiu, nenhuma definição única de relação sexual. Na verdade havia uma série de definições, que tornaram toda a idéia de relação sexual completamente subjetiva. A definição de Clinton foi tão boa quanto a de qualquer outro."
Ou seja: embora todos nós saibamos perfeitamente quando é que temos ou não "relações sexuais" com alguém, o presidente Bill Clinton tem todo o direito de fingir não sabê-lo. O motivo? Ah, esse negócio de relações sexuais é subjetivo.
Esse é o tipo de teoria estúpida e intelectualmente desonesta que só serve para excusar falhas de aliados políticos. Imaginem, por exemplo, que o autor do ensaio chegue a casa um dia e encontre sua mulher tendo – digamos assim – "relações sexuais" com uns dois ou três outros caras. Se ela lhe disser que ela não está tendo "relações sexuais", mas apenas que ele acha que ela está, qual será a reação do nosso ensaísta? Será que vai também se juntar aos outros caras, e todos continuarão achando que estão fazendo alguma coisa ali, quando na verdade esse negócio de sexo é apenas "convencional"? Será que vai aplaudir a esposa, por ter encontrado mais uma definição de "relação sexual"?
Ora, para esse ensaísta – e para os descontrucionistas – as palavras não querem dizer nada. Esquecem-se de que as palavras são símbolos de alguma coisa, se referem a algo que realmente existe, se o sujeito diz a verdade, e não existe, se o sujeito está mentindo. Mas a possibilidade de averiguarmos se um sujeito mente ou não vem do simples fato de que nós também conhecemos as coisas a que se referem as palavras. Essa base comum da comunicação não é uma convenção, mas algo estruturado na própria realidade. Se alguém fala em "relações sexuais", todos nós sabemos o que elas são, e o sabemos porque elas realmente existem.
Alguém pode não saber o que são "relações sexuais", mas não pode esperar que sua própria ignorância seja universalizada, muito menos pretender que o nível mental de todo o resto da população se nivele com o dele. Alguém pode até propor novas definições de "relações sexuais", mas a que vai valer na vida diária (e, no caso, a que vai valer no tribunal) é aquela imediatamente reconhecida pela generalidade das pessoas. E nós sabemos que essa definição faz sentido, sabemos por experiência própria.
Qualquer pessoa mediana sabe que a realidade existe mesmo, objetivamente, independente do que pensamos ou deixamos de pensar. E sabe pelo simples fato de que, se ela fosse inteiramente subjetiva, seríamos capazes de modificá-la com o nosso pensamento – e quem quer que tenha tentado sabe que é inútil.
Apesar disso, olhem só a barbaridade que o sr. Neal Gabler escreve:
"De um lado estão os republicanos, que em sua maioria parecem acreditar numa realidade objetiva e na moralidade absoluta. Pode parecer uma afirmação drástica, mas se eles agem freqüentemente como aiatolás iranianos, é porque eles pensam como aiatolás. Para eles, cada episódio define-se em preto e branco, certo e errado."
Vejam bem: qual é o crime dos republicanos? Por que, afinal, eles são "aiatolás" (esse novo xingamento que a esquerda atira em quem quer que lhe desagrade)? Simples: porque acreditam em verdadeiro e falso. Porque acreditam que os carros buzinando fora da minha janela são mesmo carros, que o computador está efetivamente na minha frente e que, se a mulher do sr. Gabler estivesse com outros três caras na cama isso definitivamente seria uma "relação sexual", não importa como ela quisesse chamar.
Os republicanos são, afinal, acusados de totalitários porque acreditam que, se um presidente, apesar de ter jurado cumprir e defender a lei, mente diante de um tribunal e usa seu poder para fazer que outras testemunhas mintam, esse presidente está desqualificado para o cargo. Noto, aliás, de passagem, que essas são as acusações mais brandas que existem contra Bill Clinton, junto com sérias denúncias de corrupção, favorecimento ilegal, traição e sociedade numa companhia que vendeu sangue contaminado para todo o Canadá.
É possível que também essas outras acusações o sr. Gabler pense que são fruto de um moralismo exacerbado, e da pretensão de achar que a realidade existe. Agora, notem que beleza o flanco aberto por essa mistura de Derrida e política: se a realidade objetiva não existe e qualquer definição é válida, por que é que alguém condenaria Stálin, Hitler, Mao, Pol Pot ou Salazar? Afinal, o que é uma morte, ou um assassinato: depende do ponto de vista, certo? Se ninguém, afinal, sabe ao certo o que é uma relação sexual (essa coisa tão comum), como é que alguém vai saber o que é um assassinato, um genocídio, um holocausto – coisas muito menos comuns e experimentadas por muito menos pessoas do que as relações sexuais?
Enfim, para o desconstrucionismo, vale tudo. Liberou geral. Mas, se olharmos de perto, não liberou tanto assim. Ora, se a realidade é fluida e todas as definições são válidas, por que é que as definições dos republicanos não valem, e as de Clinton sim? Isso, ele não explica.
Essa teoria, tal como defendida no ensaio do JB/L.A. Times, é daquelas que cortam os próprios pés. Afinal, se não existe realidade objetiva e se as palavras não querem dizer nada, como vamos entender a teoria descontrucionista – e, mais ainda, como pretender que ela seja verdadeira, e não a teoria que diz o oposto dela? Não são todas as visões válidas? Isso, em retórica, se chama retórica suicida. Em política, se chama falta de vergonha na cara. Porque o que o sr. Gabler está realmente dizendo é que alguns discursos são mais válidos do que outros – mesmo que esconda isso sob um pretexto relativista.
Assistimos, então, apenas à velha atitude esquerdista de perdoar tudo nos aliados e condenar os adversários por qualquer motivo que seja. Foi assim na ocultação dos crimes de Stálin, depois na ocultação dos crimes de Lênin, de Fidel Castro, de Guevara. Claro que Clinton não está no mesmo nível desses facínoras, mas o sentimento geral entre seus aliados é o mesmo. E o descontrucionismo é, certamente, uma excelente desculpa teórica para fazer isso, porque parece, à primeira vista, uma teoria séria e respeitável.
O texto de Gabler é bom no sentido de que poucos fariam isso com tanto descaramento como ele o faz, e porque revela para que realmente serve o desconstrucionismo e sua proposta de "liberou geral".
Mas, sinceramente, não entendo por que diabos temos que ouvir esse Neal Gabler. Será que já não basta de lixo importado? Já não bastam os "mestres" de Gabler, como Delleuze, Guattari, Derrida, Jameson etc.? Por que temos também que aplaudir o discípulo de todos esses misósofos? Quem diabos o JB acha que está interessado no que esse fulano tem a dizer – principalmente porque o que ele tem a dizer é só um amontoado de tolices? Será que já não está na hora de pararmos de aplaudir esses apóstolos do nada, e procurarmos filósofos realmente de valor? Será que já não é hora de o Brasil descobrir Xavier Zubiri, René Girard e Northrop Frye, e esquecer essas maluquices pós-modernas? Ou, se é para ficar com jornalistas americanos, por que Gabler em vez de Joseph Farah, Richard Grenier, Charley Reese ou Walter Williamson? Até quando seremos meros repetidores das bobagens da moda e ignoraremos tudo que se faz de valor? Quousque tandem abutere, Catilina, patientia nostra?
Não sei até quando Derrida e seus seguidores continuarão a nos encher o saco. Mas sei que a resposta para a pergunta que intitula o artigo de Gabler não foi respondida por ele, mas pode ser respondida por um trocadilho que José Guilherme Merquior usava para satirizar a penetração das teorias desconstrucionistas nas nossas universidades. A relação entre Clinton, Derrida e Lewinsky é mesmo na base do "Derrida ou desce"!

Fonte: autor anônimo (opinião crítica sobre a obra desconstrucionista de Derrida)


domingo, 27 de setembro de 2009

'Psicanálise é a medicina da alma do nosso século'



Especialistas refletem sobre a obra do pensador, 70 anos após a sua morte; leia aqui entrevista com Elizabeth Roudinesco; leia ainda, no 'Cultura', artigos de Joel Birman, Maria Rita Kehl, Sérgio Telles e Luiz Albeto Hanns
Andrei Netto, correspondente em Paris
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PARIS - Poucos intelectuais traduziram tão bem sua época como Sigmund Freud fez com o século 20. Em sua obra, estão expressas as bases de conceitos tão poderosos e, ao mesmo tempo, tão legíveis, que se tornaram parte do cotidiano com a velocidade característica de sua época. É o caso do inconsciente - um conceito já elaborado nos séculos 18 e 19 por autores como Leibniz e Edward von Hartmann. Reinterpretada por Freud, a ideia de que o que falamos pode ter significados ocultos que fogem à esfera da consciência e, portanto, ao nosso domínio, é hoje reconhecível por todos.


Resumir seu pensamento a esse conceito, porém, é limitar uma obra enérgica e influente, alerta Elisabeth Roudinesco. Psicanalista, historiadora, docente, escritora, discípula de Jacques Lacan, amiga de Jacques Derrida, Elisabeth é, aos 64 anos recém-feitos, um dos pensadores vivos mais importantes de sua área, a psicanálise - um dos legados de Freud à humanidade. Segundo a intelectual marxista, o médico neurologista convertido em gênio está por trás, de uma forma ou de outra, de todas as formas de emancipações vividas pela sociedade do século 20, das quais o feminismo e a liberação sexual são só dois exemplos evidentes.

Além de suas atividades acadêmicas, que a levam a viajar o mundo todo, Elisabeth, uma das intelectuais mais respeitadas da França, se mantém hiperativa como escritora. E no centro de seus interesses está Freud. Ele explicaria a efervescência da autora, que lançará dois novos livros - Histoire de la Psychanalyse en France (La Pochotèque) e Retour à la Question Juive (Albin Michel) - nos próximos dias.
Previsto para outubro, Em Defesa da Psicanálise (Jorge Zahar, 248 págs.) é o seu próximo lançamento no Brasil. Nessa obra, estão reunidos entrevistas e ensaios da autora inéditos no País. Organizados pelo psicanalista Marco Antonio Coutinho Jorge, os textos são de épocas diversas e abordam temas polêmicos: a falta de participação dos psicanalistas na vida pública, a homossexualidade, o antissemitismo e a ciência, além das conexões da psicanálise com a medicina e a filosofia. No livro, a resposta da autora para os que falam da morte da psicanálise é direta: "Que ilusão!"

Em 23 de setembro de 1939, Freud morria em Londres. Às vésperas do aniversário de 70 anos de seu desaparecimento, o Estado pediu ajuda a Elisabeth para esmiuçar a herança de um mestre. Em seu apartamento, em um quartier pequeno-burguês de Paris, na quarta-feira, foram registradas mais de duas horas de entrevista exclusiva. A seguir, sua síntese.

Estamos a 70 anos da morte de Freud. O que ainda é tão representativo em sua obra? Por que ele é uma referência para a própria humanidade?
Ele é o único a ter teorizado, assim como seus herdeiros, o que chamamos de inconsciente. Não falo do subconsciente nem do inconsciente dos psicólogos. Eu me refiro ao inconsciente, que pode ser traduzido pela noção de que, quando alguém fala, não sabe o que diz. Há milhões de exemplos concretos, como o ministro do Interior da França (Brice Hortefeux), que fez declarações racistas na semana passada. Conscientemente, ele não é racista. Inconscientemente, sim. Mas julgamos alguém por seu inconsciente? Sim, se ele é ministro. Mas, via de regra, não podemos enviar alguém aos tribunais por seu inconsciente. Podemos dizer: "Comporte-se!" Muitas pessoas são inconscientemente racistas e antissemitas. Quando não há lei, esses sentimentos se exprimem.

Está no inconsciente? É inexorável?
É inexorável. Freud dizia, com razão, que a única maneira de impedir o crime é a lei, a civilização. No fim do século 19, havia pessoas e governos pública e oficialmente racistas. Não era proibido.
Permita-me retomar a questão: por que Freud ficou marcado como o homem que sintetiza o século 20?
Porque ele aportou algo de novo. Ele estava no prolongamento da filosofia do sujeito. Ele trouxe explicações que a filosofia havia pensado, mas ele lhes deu um assento teórico. E isso não me surpreende. Além disso, Freud permite compreender os dois totalitarismos do século 20: o nazismo, sobre o qual pensou e anteviu melhor do que qualquer outro, e o comunismo, que não teve nada a ver com sua ideia original, com o marxismo. Os dois, aliás, são diferentes: o nazismo se inscreveu desde seu início, sabia-se o que esperar; o comunismo caminhou para o lado errado. Mesmo assim, Freud viu que ele não funcionaria. É verdade que ele era conservador, assim como muitos de seus herdeiros. Mas há muitos freud-marxistas, muitos freudianos de esquerda - que são os meus preferidos, aliás. Nessa época, psicanálise era uma teoria da regeneração do homem, da emancipação. Quatro coisas nasceram ao mesmo tempo: o sionismo, o último movimento de emancipação dos judeus; a psicanálise, que é a emancipação do inconsciente; o socialismo, a emancipação social; e o feminismo, a emancipação da mulher. Era um grande movimento. O século 20, como anteviu Freud, foi o triunfo do contrário - o que pode ser resumido no nazismo. Freud afirmou que o triunfo do contrário já estava lá, entre nós, naquela época. E disse ainda: "Atenção, eu sou a favor da emancipação, mas o homem é habitado pelo contrário disso." Eu creio que ele foi o único a dizê-lo. É um dos motivos pelos quais é o Homem do Século 20. Por outro lado, ele jamais abandonou a ideia do progresso. Freud foi um homem progressista. Contra Schopenhauer, contra os grandes conservadores de seu tempo, contra os que eram inteiramente pessimistas em relação ao progresso, acusando-o de não servir para nada, Freud disse: "Sim, ele serve." Foi por isso que eu o chamei, depois de Adorno e outros, como a "luz sombria", marcada pelo iluminismo, mas sem muitas ilusões. Esse vínculo, o fato de ter pensado a relação entre as duas coisas, o levou a pensar ao mesmo tempo que o pior e o melhor podem acontecer com o homem. Ele nunca foi antiprogressista, ao contrário do que se diz. Por tudo o que mencionei, ele está no centro dos dias de hoje. Você não pode pensar o sionismo, o feminismo, a liberação das mulheres, a transformação da família, sem passar por Freud em determinado momento.

Se Freud é o homem do século 20, qual é o seu lugar no século 21?
É o mesmo. A maioria dos psicanalistas tornou-se conservadora. Não 100%, mas a maioria é conservadora. Por quê? É uma de minhas grandes interrogações. Eu não o sou, e no Brasil eles são menos. Diria até que são menos na América Latina. Mas eles são conservadores por diversas razões. Os lacanianos não deveriam sê-lo, já que Lacan relançou o pensamento da rebelião, da contestação. A Internacional Freudiana tornou-se conservadora porque caiu na repetição do dogma. Eles não se renovaram, tornaram-se um movimento dogmático, centrado sobre a clínica e não sobre a reflexão a respeito da sociedade e do indivíduo. Além disso, cometeram o erro de dialogar demais com as ciências duras, ao crer que o debate sobre o cérebro e os neurônios era essencial. Sempre afirmei que esse debate não era essencial, porque o cérebro e os neurônios não precisam de psicanálise. Não há muito o que fazer com isso, senão dar medicamentos. Mas se a psicanálise se ocupa apenas disso, afastando-se das moeurs (expressão francesa para costumes), ela se torna conservadora, familiarista. Os psicanalistas se desinteressaram dos assuntos sociais. Foi assim que se tornaram conservadores.

Por que a psicanálise brasileira é menos conservadora?
A América Latina, e sobretudo o Brasil, é uma sociedade que espelha a Europa. Os psicanalistas brasileiros são ecléticos. Em alguns momentos são culturalistas, e nos chateiam com a sua brasilidade - não esqueça que houve na França a francilidade e na Alemanha a germanidade. Mas, fora isso, eles, como espelho da Europa, importaram conhecimento. Ao importar, misturaram-no. E o ecletismo dos brasileiros - mais do que dos argentinos, que são menos ecléticos - se formou pegando um pouquinho de Freud, um pouquinho de Lacan e por aí foi. Isso funciona porque questiona o dogmatismo. Eles desconstruíram, para empregar a expressão de Derrida, o dogma europeu.

Voltemos a Freud. Ele não avançou em dois domínios: as crianças e os psicóticos. Por quê?
Sim, ele avançou sobre o tema da infância. Ele nos deu a base da análise da infância. O que se pode dizer é que sua corrente não triunfou no mundo psicanalítico quando se fala em infância, e sim a de Melanie Klein. Nisso, estou completamente de acordo com você. Foi ela quem fundou a psicanálise da infância. No entanto, tudo isso é psicanálise. Ela engloba todas as correntes. Sobre os psicóticos, você tem razão. Freud não acreditava que seria possível analisar os psicóticos. Muito cedo, quando ele compreendeu que essa era a "Terra Prometida" - bem antes da aparição dos medicamentos -, quando ele percebeu que quase todos os seus discípulos eram psiquiatras e trabalhavam com a psicose, ele se desinteressou, embora não tenha desestimulado ninguém. É verdade que é um domínio muito problemático. A análise se faz para os neuróticos. A "cura" analítica funciona muito para os neuróticos, porque, como eles não se curam, se acomodam. E, como transformamos a neurose de fracasso em neurose de sucesso, a cura funciona. A psicanálise torna mais inteligente, mais corajoso, mais apto na sociedade. A psicanálise funciona muito bem. Entretanto, é verdade que não curamos bem a psicose, embora tenhamos nos desenvolvido muito nesse tema também. Os loucos hoje buscam na psicanálise um complemento, já que os psiquiatras só querem saber de medicamentos. Se não há a psicanálise, o paciente vira um legume, um morto em vida.

No início, com Freud, a psicanálise era um processo breve, rápido. Hoje, é o contrário, estende-se por anos, décadas às vezes. O que mudou?
Era rápido porque Freud fazia seis sessões por semana de uma hora. Era intensivo. Há também o fato de que estendemos a análise para domínios não previstos de início, o que a tornou mais difícil. Mudou-se a modalidade da cura, também. Há pessoas que precisam falar sempre, ao longo de sua vida. Mas é verdade que Freud ficaria chocado hoje. Duas vezes por semana, durante 10 anos? Não! Para Freud, era de seis meses a um ano, todos os dias, por uma hora. Quando não era possível, como Marie Bonaparte, tudo bem. Ela ficou 14 anos em análise.

Freud esforçou-se muito para dar à psicanálise o status de ciência, mas ela sempre esteve na alça de mira de cientificistas ortodoxos. Como a psicanálise responde a essas críticas? E por que ela deve ser considerada uma ciência?
Freud oscilou, hesitou muito entre o status de ciência, no sentido de ciência dura - ele queria no fundo que a psicanálise fosse uma "neurologia da alma" - e um outro status, que ele não chamava filosofia, mas ainda assim estava do lado da especulação, da literatura e da filosofia. Ele renunciou completamente e muito cedo ao status de ciência dura, porque se deu conta de que não se tratava de uma ciência no sentido que se conhece. Logo, é preciso inscrever a psicanálise no registro das ciências humanas. É uma ciência, no sentido da racionalidade, mas não no mesmo sentido da biologia e da neurologia. Freud se dividia entre as duas concepções. Não estamos mais no tempo do darwinismo, e a biologia é reconhecida como uma ciência, uma ciência da natureza. A psicanálise não o é de modo algum. Não tem metodologia, resultados ou a positividade das ciências duras. É uma ciência mais próxima das Humanas, como a Antropologia, a Sociologia, a História. Mas mesmo essa concepção, a de parte das ciências humanas, já foi contestada.

O pensamento de Freud é íntegro e poderoso ainda hoje? Sua força criativa ainda é existe?
Sem dúvida. Creio que vamos assistir a um grande retorno a dois pensadores, inclusive: Marx e Freud. Não ao comunismo e à psicanálise, mas a Marx e Freud. Autores como Marx, Freud, Nietzsche e toda a filosofia da rebelião se tornaram malditos nos últimos 20, 30 anos, quando caímos em um estado de neoconservadorismo. A crise econômica, em especial como a que se passou nos Estados Unidos, vai desempenhar um papel considerável. Vamos voltar ao pensamento da rebelião.

Como as ideias de Freud retornarão? Com que aplicação?
Retornarão com as de Marx. Mas não sei como serão aplicadas. O que está voltando com muita força é a ideia de que temos um inconsciente, de que o desejo é capital. A psicanálise, bem pensada, permite compreender a moeurs, o inconsciente, o desejo e a sexualidade de uma forma inteligente. É uma teoria do desejo, afinal.

A senhora vê conceitos de Freud confirmados pelos progressos da ciência ou por novas tecnologias?
Não. Os progressos da ciência são os progressos da ciência. Nenhum dos conceitos de Freud é confirmado pela biologia. São dois domínios diferentes. A psicanálise é a medicina da alma. É especial.

Assim como a psiquiatria, em sua origem?
Hoje não há mais psiquiatria. E, logo, nos damos conta de que existem cada vez mais loucos. Porque são usados apenas medicamentos, ela não funciona mais. É útil, mas não resolve. É muito interessante o que se passou na psiquiatria. Biologizaram-na. Até então, era um equivalente da psicanálise. Era uma medicina da alma. Mas a deslocaram para a biologia. Curamos a loucura? Não. Acalmamos os loucos? Sim. Vivemos um recuo de 50 anos com a psiquiatria "biologizada".

A obra de Freud é marcada por sua didática, sua clareza. E esse não me parece ser o caso dos pensadores da psicanálise contemporânea. De onde vem esse problema de comunicação?
Esse problema é enorme. Os psicanalistas escrevem em clichês. Mesmo que Lacan seja um autor difícil de ler, não se trata de um clichê. Além disso, mesmo que os seguidores de Lacan escrevam em secto, os freudianos também o fazem. Freud era um autor claro, o que influenciou todo o movimento psicanalítico. Hoje, quando leio psicanalistas freudianos norte-americanos ou ingleses fico impressionada com os clichês que estão presentes. É um símbolo muito grave de encerramento sectário. Quando os intelectuais se fecham em torno de si mesmos, eles falam a linguagem de uma tribo. No interior, a tribo se compreende. Eu sempre compreendi a tribo, mas não posso escrever como ela. Não sei fazer. Sou muito clara. Às vezes os antropólogos e sociólogos que queriam se divertir me perguntavam se eu, como psicanalista, não me sentia como o antropólogo que chega à Melanésia e que deve decifrar a linguagem da tribo. É uma alegoria exata. Eu decifro facilmente essa linguagem. Mas para você, que a lê, não deve ser fácil. A psicanálise é mais afetada pelos clichês que a filosofia, por exemplo.

O meu ponto é: se o problema da clareza da comunicação existe, o que torna a psicanálise tão popular em todo o mundo?
Ela é popular em todo o mundo, mas o é de uma forma inconveniente. Por exemplo, ela é popular em muitos países, infelizmente, pela forma da psicologia interpretativa dos chefes de Estado. Eu recuso todos os pedidos de entrevista sobre as fantasias dos chefes de Estado. Mas isso a TV adora, sob a forma da psicologia. Todos os antifreudianos, todos os que não gostam da psicanálise, dirão que ela está em todo lugar. Sim, os psicanalistas estão em todo lugar, mas sob que formas! É ridículo!

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Princípios técnicos e éticos na atuação no psicólogo


Essa é uma síntese, feita por mim, das principais orientações do código de ética do psicólogo e das sugestões propostas pela Associação Portuguesa de Psicoterapia Centrada na Pessoa e de Counselling.

Não se trata de um documento oficial, mas resolvi colocar nesse espaço por representarem, para mim, mais que uma lista de princípios. São antes os valores que eu assumo e me proponho a praticar em minha atuação como psicóloga.

O psicólogo alicerça as suas atividades profissionais no respeito absoluto pela dignidade e pelos direitos da pessoa humana.
O psicólogo reconhece e aceita as diferenças entre pessoas sem qualquer discriminação baseada no sexo, idade, nacionalidade, raça e etnia, situação sócio-econômica, educação, condição de saúde, credo, opções políticas ou morais, estado civil ou orientação sexual.
Com o seu trabalho, o psicólogo busca criar condições para o desenvolvimento do potencial humano existente em cada pessoa, em direção a uma crescente autonomia e a modos de vida mais satisfatórios e realizadores.
O psicólogo sabe que a relação terapêutica é, pela sua própria natureza, confidencial. A obrigação de guardar segredo recai sobre toda a informação pessoal acerca de um paciente e das suas circunstâncias de vida.
O psicólogo, quando utiliza dados confidenciais em publicações, intervenções públicas, investigação ou situações de ensino-aprendizagem, mantêm o anonimato dos seus pacientes, camuflando as informações pessoais.
O psicólogo garante, pelos meios ao seu alcance, a reserva dos registros e arquivos com informações confidenciais sobre os seus pacientes.
No trabalho com grupos ou famílias, o psicólogo apresenta o sigilo como responsabilidade de todos os participantes. O psicólogo mantém confidencial a informação que possuir particularmente sobre os membros desses grupos.
O psicólogo, ao realizar provas ou testes de avaliação, respeita o direito de informação do paciente, explicando-lhe detalhadamente os objetivos e os resultados, interpretações, conclusões e respectivas fundamentações. Em toda a informação transmitida ao paciente, o psicólogo utiliza uma linguagem que este possa compreender e disponibiliza-se para prestar todos os esclarecimentos que o paciente julgar necessários.
Quando os testes são efetuados a pedido de terceiros, o psicólogo informa o sujeito da avaliação, das conclusões e dos conteúdos do seu relatório. No relatório são incluídas apenas informações pertinentes aos objetivos que conduziram à realização dos testes.
O psicólogo, ao iniciar o relacionamento profissional com um paciente, informa-o das suas qualificações e métodos de trabalho, dos honorários e formas de pagamento. Utilizando uma linguagem clara, confirma que o paciente compreendeu integralmente as informações, de modo a que possa exercer o seu direito de consentimento informado.
Trabalhando com pessoas incapazes de dar um consentimento informado ou com menores, o psicólogo obtém o consentimento do representante legal desses pacientes e atua sempre no sentido de salvaguardar o melhor interesse destes.
Tendo conhecimento de que o paciente ou o potencial paciente já tem um outro acompanhamento profissional semelhante, o psicólogo clarifica cuidadosamente a situação, minimizando o risco de conflito e confusão. Sem perder de vista o bem estar do paciente, pode, ainda, pedir-lhe autorização para falar com o outro profissional.
Em caso algum, o psicólogo alicia para os seus serviços alguém que já seja paciente de um outro profissional.
O psicólogo termina uma relação profissional quando o paciente já não está claramente a se beneficiar dela.
Se o psicólogo não possuir as condições pessoais ou contextuais para iniciar ou continuar a manter uma relação profissional com um paciente, assegura o seu acompanhamento por um colega, salvaguardando o direito de assistência do paciente.
O psicólogo mantém com os seus pacientes um relacionamento estritamente profissional. Consciente do grande poder de influência que a sua profissão proporciona, não explora nem alimenta a dependência dos seus pacientes e evita as relações que possam prejudicar o seu discernimento e intervenção profissional. Em particular, recusa qualquer forma de intimidade sexual com os seus pacientes ou atitudes que influenciem os valores pessoais destes.
O psicólogo só presta serviços para os quais tenha recebido formação adequada.
Sendo da sua singular responsabilidade a manutenção dos mais altos padrões de competência e desempenho profissional, o psicólogo mantém atualizados os seus conhecimentos científicos e técnicos relacionados com os serviços que disponibiliza. Quando as circunstâncias profissionais o exigem, o psicólogo procura conhecimentos, conselho e treino com pessoas ou grupos específicos.
O psicólogo não esquece que, para manter o mais alto nível de desempenho profissional, precisa investir de forma contínua no seu desenvolvimento, como pessoa e profissional.
Sensível aos valores da comunidade em que está inserido, o psicólogo conduz o seu comportamento pessoal com grande prudência para que não tenha consequências negativas no desempenho profissional e na credibilidade dos colegas e da sua profissão.
O psicólogo deve procurar manter com os seus colegas e demais profissionais relações caracterizadas pelo respeito, confiança, lealdade e colaboração. A solidariedade profissional, compromisso essencial de todo psicólogo, é dedicada à promoção dos melhores interesses dos pacientes.
Em quaisquer relações com outros profissionais, o psicólogo trabalha exclusivamente na esfera da sua competência, reconhecendo as áreas específicas e independentes das outras profissões.
Mesmo quando não existem relações formais com profissionais de outras áreas, o psicólogo, quando necessário, tudo faz para que sejam assegurados outros serviços profissionais de que os seus pacientes necessitam.
O psicólogo tem em grande apreço o apoio e incentivo aos colegas mais novos e com menos experiência, aceitando facilitar a sua inserção e desenvolvimento profissional.
No exercício da sua profissão, o psicólogo é totalmente responsável pelos seus atos e trabalha sem qualquer subordinação técnica à profissionais de outras áreas.
O Psicólogo, ao anunciar publicamente os seus serviços, utiliza linguagem descritiva, rigorosa e objetiva, e nunca valorativa, mesmo que seja necessário utilizar termos correntes, de modo que os potenciais pacientes possam optar com liberdade, lucidez e responsabilidade.
O psicólogo procura evitar que terceiros, de forma direta ou indireta, promovam publicidade em seu favor que atente contra a dignidade da sua profissão ou infrinja as normas de seu código de ética.

Psicóloga
Ana Lúcia Pereira
CRP: 06/62140

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Estudo com crianças de 8 a 9 anos de idade compara eficácia da memorização de texto

A leitura de textos em voz alta pela própria criança é a melhor modalidade lingüística para ajudar a memorização e, conseqüentemente, a aprendizagem no início da idade escolar.
É o que sugere um estudo que avaliou estilos de linguagem que facilitam a memorização em crianças, tese de doutorado que a fonoaudióloga Zilca Rossetto de Moraes defendeu no Departamento de Otorrinolaringologia e Distúrbios da Comunicação Humana da Unifesp. Esse é um dos primeiros trabalhos do país sobre a memorização pelo reconto de uma história a partir de diferentes estilos de linguagem.
Conscientizar os professores - Segundo a pesquisadora, o objetivo do estudo é divulgar aos professores o estilo mais eficiente para a memorização, principalmente para alunos das primeiras séries do ensino fundamental. "É importante conscientizar os professores de que, segundo a disciplina, deve ser usado um estilo de linguagem diferente", diz.
A pesquisa, realizada em duas etapas, avaliou alunos da terceira série do ensino fundamental de escolas públicas e privadas de Santa Maria (RS), com idades de 8 e 9 anos.
Fases da pesquisa - Numa primeira fase, 80 crianças participaram de um teste para selecionar uma entre quatro histórias que seria usada para o estudo. A história escolhida foi "O Urubu e as Pombas", que integra uma bateria de testes neuropsicológicos infantis. Na segunda parte, Zilca aplicou essa história a outras 80 crianças, divididas em quatro grupos de 20, usando em cada um deles um estilo diferente de linguagem.
No primeiro grupo, a história era lida em voz alta pela criança. No segundo, o aluno lia em silêncio. Em outro estilo, a pesquisadora lia a história para as crianças. E, no último, Zilca contava a história sem ler. Em todos os casos, as crianças tinham de recontar a história, para mostrar a capacidade de memorização.
Os resultados do estudo apontaram que os estilos mais eficientes foram a leitura em voz alta e a silenciosa, ambas feitas pela criança.
Na leitura em voz alta feita pela criança, os alunos lembravam em média 6,85 orações das 14 que compunham a história. Quando a criança lia em silêncio, ela era capaz de lembrar 6,03 orações.
Melhor desempenho - Segundo Zilca, que é professora do Departamento de Otorrinofonoaudiologia da Universidade Federal de Santa Maria (RS), o melhor desempenho no caso da leitura pelo próprio aluno em voz alta decorre do fato de, além de haver o estímulo visual, ocorrer a utilização do estímulo auditivo, que reforça os processos de integração e evocação do texto lido.
O pior desempenho ocorreu quando a pesquisadora lia a história para os alunos: as crianças recordavam apenas 3,61 orações. "Embora esse último não favoreça a memorização, ele é muito usado nas escolas", afirma Zilca.
Na opinião da fonoaudióloga, os resultados são importantes porque mostram que a adoção de determinado estilo de linguagem poderia ajudar a reduzir a dificuldade de aprendizado e a diminuir índices de reprovação e evasão escolar.

O Urubu e as Pombas

"Um urubu ouviu dizer que na casa das pombas havia muita comida. Ele se pintou de branco e voou até a casa das pombas. As pombas acharam que ele era uma delas e deixaram ele entrar, mas ele continuou a gritar como um urubu. As pombas descobriram que ele era um urubu e o expulsaram. Ele tentou se juntar novamente aos urubus, mas estes não o reconheceram e não o aceitaram."
(História retirada da bateria de testes neuropsicológicos de Luria Nebraska, adaptada e traduzida para o português)

"Era um urubu e daí ele entrou na casa. Ele era um urubu e daí expulsaram ele. Daí ele se juntou com os outros urubu e os outros urubu não reconheceram e não quiseram ficá com ele."
Versão de quem ouviu a leitura da história

"Tinha um urubu, ele foi lá, que tinha comida das pomba, ele foi lá. Aí as pomba pensaram que ele era uma pomba também e daí elas deixaram ele entrá. Aí depois, depois que elas descobriram e deram comida delas pra ele também. Depois que elas descobriram que ele era um urubu, daí elas não quiseram mais ele. Daí depois ele tentou entrá na casa dos urubu de novo e ninguém quis ele..."
Versão de quem fez leitura silenciosa
"O urubu, ele ouviu dizê que as pombas tinham muita comida na casa delas e daí ele se pintou de branco e voou prá lá. As pombas pensaram que ele era um urubu. Elas pensaram que era uma pomba e daí as pombas aceitaram. Daí ele continuou a gritar como um urubu, daí as pombas descobriram. Daí expulsaram e ele tentou voltar aos urubu e não reconheceram e não aceitaram."

História recontada por criança que leu texto em voz alta
Ricardo Zorzetto www.unifesp.br