segunda-feira, 30 de junho de 2008

Tautologia
Saber não ocupa espaço, portanto, vale a pena ler.... Cultura ao alcance de todos. Vamos cuidar da nossa lingua portuguesa, com certeza.As armadilhas da língua. Você sabe o que é tautologia? É o termo usado para definir um dos vícios de linguagem. Consiste na repetição de uma idéia, de maneira viciada, com palavras diferentes, mas com o mesmo sentido. O exemplo clássico é o famoso subir para cima ou o descer para baixo. Mas há outros, como você pode ver na lista a seguir:
elo de ligação- acabamento final- certeza absoluta- quantia exata- nos dias 8, 9 e 10, inclusive- juntamente com- expressamente proibido- em duas metades iguais- sintomas indicativos- há anos atrás- vereador da cidade- outra alternativa- detalhes minuciosos- a razão é porque- anexo junto à carta- de sua livre escolha- superávit positivo- todos foram unânimes- conviver junto- fato real- encarar de frente- multidão de pessoas- amanhecer o dia- criação nova- retornar de novo- empréstimo temporário- surpresa inesperada- escolha opcional- planejar antecipadamente- abertura inaugural- continua a permanecer- a última versão definitiva- possivelmente poderá ocorrer- comparecer em pessoa- gritar bem alto- propriedade característica- demasiadamente excessivo- a seu critério pessoal- exceder em muito .Note que todas essas repetições são dispensáveis.Por exemplo, surpresa inesperada. Existe alguma surpresa esperada? É óbvio que não. Devemos evitar o uso das repetições desnecessárias. Fique atento às expressões que utiliza no seu dia-a-dia. Verifique se não está caindo nesta armadilha. Gostou ?

terça-feira, 24 de junho de 2008

Festa Junina





Só pra quem não foi ficar com água na boca!!! =)

segunda-feira, 23 de junho de 2008

Opinião Acadêmica: BICHO DE SETE CABEÇAS

BICHO DE SETE CABEÇAS[1]
Sandra Beck da Silva Etges

"Que a tendência à morte seja vivida pelo homem como objeto de um apetite, esta é uma realidade que a análise faz aparecer em todos os níveis do psiquismo ...", (pois) ... "Essa tendência psíquica à morte, sob a forma original que lhe dá o desmame, revela-se em suicídios muito especiais que se caracterizam como "não-violentos', ao mesmo tempo que aí aparece a forma oral do complexo: ..., envenenamento lento de certos toxicomanias pela boca ... A análise desses casos mostra que, em seu abandono à morte, o sujeito procura reencontrar a imago (ancestral) da mãe".In ... LACAN, Jacques. Os Complexos Familiares, RJ, Jorge Zahar, pág. 28 e 29.
O filme "Bicho de Sete Cabeças" é baseado numa história verídica ocorrida nos anos 70, e apresenta mais uma abordagem anti-asilamento do que uma preocupação com a prevenção e o tratamento do uso das drogas.
Inicialmente, penso ser indispensável abordar com vocês algumas questões preliminares que colocam o tema deste filme para além da denúncia do horror da repressão psiquiátrica da época. Para tanto, vou tentar contextualizar essa questão do uso de drogas.
Nos anos 60, a droga era valorizada como "contestação política, sexo e Rock and Roll", e a paternidade que tentava censurar o seu uso era vista como "careta". Então, o que estava atrelado ao uso da droga era o caráter de contestação, fosse a contestação política à guerra do Vietnã, ou fosse "sexo, droga e/ou Rock and Roll". Segundo pesquisa universitária realizada no Rio de Janeiro (UERJ), os anos 60 foram anos difíceis, porque as pessoas, opondo-se ao patriarcado, caíam no extremo oposto: no culto ao Princípio do Prazer. Isto produzia um efeito de desagregação do Simbólico que as incapacitava a identificarem o seu Desejo nas coisas, porque esse Desejo a que estou me referindo é diferente de Princípio do Prazer. O Desejo comparece como falta, no limite da Lei do Pai, mas como esse pai imaginário era visto e tido como "severo", porque autoritário, não podia ser escutado. Isto gerou uma situação "doentia" que era o não acatamento da Lei e esta Lei é que possibilita se ter uma relação com a "falta a ser" que, por sua vez, é condição para se desejar (na vida). Então, não havendo Lei, não há Desejo e as pessoas recorriam, momentânea e repetidamente, ao uso das drogas e esse consumo era valorizado como "ser moderno", "ser porreta". A alta classe média comprava a droga e a consumia, e a drogadicção não tinha o nível de expansão econômica que tem hoje, nem havia sido incorporada pelo crime e pelo terror na proporção atual. Essas questões foram gradativamente incorporadas à drogadicção, quando o narcotráfico passou a ser, ilicitamente, o "meio de vida" das classes menos favorecidas, passando a ter o poder nas favelas e, também, a ter parcela do poder econômico na sociedade em geral.
Desta forma, quando a droga se associou ao crime e provocou desagregação social, as mesmas pessoas que "cheiravam" para se sentir(em) bem e ser(em) "contra o sistema", embora paradoxalmente fossem economicamente integrada(s) (aliás, na época a droga era usada mais por adultos do que por adolescentes), começaram a ficar ameaçada(s) pelos efeitos de assaltos, de seqüestros, conseqüências da drogadicção. A droga então, passou a ser não só algo prejudicial à saúde do usuário, algo que atendia ao gozo suicida do usuário, mas também passou a ter uma expansão ligada ao crime, o que passou a ameaçar a sociedade como um todo.
A droga, hoje, é, sem dúvida, um problema policial, um problema de corrupção, ligado à favelização e ao controle, pelo terror, das populações subalternas, aos sequestros relâmpagos, ao contrabando de armas e à prostituição. É, portanto, um elemento de desagregação que coloca em risco a vida de todo o mundo. Essa é a conotação que a mídia, a partir dos anos 80, dá para a droga e isso obriga as pessoas a conviverem com o risco da morte sem que essa seja uma opção delas. A revista Veja de 25 de julho de 2001 traz que, segundo dados da ONU, existem 180 milhões de drogados no mundo e que na Holanda, onde a maconha foi liberada há vinte anos, para maiores de 18 anos, ao contrário do que sempre se supôs e/ou alegou, aumentou consideravelmente a criminalidade, pois, metade dos crimes cometidos no país são ligados aos entorpecentes, e o número de presos triplicou nos últimos 10 anos.
O filme "Bicho de 7 cabeças" apresenta o usuário de drogas típico dos anos 60-70, onde o que estava implícito no uso das drogas era, ainda, o caráter de contestação à severidade paterna, trazendo a bandeira do anti-asilamento, mas não adotando a bandeira anti-drogas, e poderíamos dizer que o asilamento repressivo como mostra o filme, e a dependência às drogas, são igualmente nocivos.
A drogadicção, atualmente, não é um capítulo apenas da psicanálise de consultório. Envolve esquemas financeiros, políticos, policiais ... enfim, envolve a corrupção, o que dificulta seu combate em todo o mundo. Assim, é necessário por em cena a perversidade e o perversismo que tornam a drogadicção uma realidade de consumo, bem como, as causas de seu consumo individual e a sua distinção em relação a outras manifestações psíquicas graves. E, ao se abolir o asilamento, há o risco de, principalmente nas populações de baixa renda, hoje mais afetas diretamente, por razões urbanas e geográficas, ao contato marginal com as drogas, não se ter como tratar os casos mais graves, tanto da drogadicção, quanto das psicoses e, assim, aumentarem as manifestações de violência no cotidiano.
Hoje, admite-se o asilamento só quando há risco de vida ou de desagregação social e/ou econômica do usuário de drogas ou das pessoas que com ele convivem; e ocorre, em sua maioria, para populações que não têm a assistência médica e psicanalítica necessárias e por um período temporário (breve), em geral, de um mês; portanto, em situação completamente diferente da mostrada no filme. Essa internação explicitada no filme, é lamentável e condenável. O filme induz à generalização de um modelo de internação já superado, como se ocorresse, em sua maioria, ainda hoje. Uma coisa é evitar-se o asilamento repressivo e desumano, porque desnecessário, porque torturante, repetindo equívocos da psiquiatria dos séc. XVIII e XIX; deve-se evitar o tratamento clinicamente incompetente do sucessor do "endemoniado" medieval. Outra, bem diferente, é abolir-se o asilamento em casos onde há o risco de vida (própria ou de outrem). Vamos usar um outro exemplo para ficar mais claro: o fato de alguns hospitais sabidamente cometerem uma série de imprudências com nasciturnos, não vai acarretar o também fato de que se passe a proibir a existência de maternidades. O raciocínio é idêntico. Para a proteção da vida tanto as maternidades como os hospitais psiquiátricos são igualmente necessários e indispensáveis e o filme trata essa questão como se, nos dias de hoje, não existissem asilamentos singulares competentes e com divisões específicas para cada estrutura psíquica. Aquele asilamento colocava no mesmo "saco" da "doença mental", paranóicos e dependentes de drogas, o que já foi exaustivamente denunciado na obra de Michael Foucault nos anos 60.
Parece-me que, diante do absurdo daquele asilamento, o filme pode promover uma identificação com a vítima e, assim, ele passa a ter um caráter tolerante para com a drogadicção, banalizando, dessa forma, o uso da droga. Uma pessoa que estava ao meu lado no cinema, ao final do filme falou: "fizeram um bicho de 7 cabeças com a maconha do menino, antes ele tivesse ficado com ela". Do ponto de vista lacaneano do "Kant com Sade", que é um texto de Lacan nos Escritos (1966), "a severidade repressiva gera a identificação à vítima e às suas razões", e o caráter de vitimação é o pior caminho para qualquer possibilidade de recuperação e/ou cura.
Então, o que quero salientar é que não dá para se falar em droga hoje, levando-se em conta apenas o seu caráter contestatório próprio dos anos 60 e 70. Isso é passado. Hoje, os atos recentes mostram que guerrilheiros, terroristas e traficantes têm-se misturado bastante, colocando em risco o mundo; vide, por exemplo, os Talibãs que viviam da venda de heroína. Então, não se pode ser complacente e tolerante para com a drogadicção e já existem maneiras diferentes da apresentada no filme para se tratar o dependente de drogas. Aliás, o foco do filme não foi o tratamento e sim o não tratamento, talvez sua "suposta não necessidade".
No entanto, por outro lado, o filme suscita o seguinte questionamento que todos deveriam fazer sobre o tratamento e prevenção do uso das drogas. O que fazer de fato? O que será que pede alguém que recorre às drogas? - Na sua busca desenfreada e gozoza de prazer na droga, que é a manifestação de seu gozo com a morte, ele "pede" que alguém o contenha, que alguém lhe dê um basta ou tente fazê-lo, porque ele não consegue conter-se sozinho, já que sofre e goza com isto. Ele quer encontrar, na fala de um outro, algum lugar que justifique a sua inclusão no mundo. Ele quer ser "falado" sem dó, compaixão ou culpa; ele quer ser reconhecido por algo que ele é ou que pode vir a ser. E tudo isso comparece numa parte belíssima do filme que é o encontro do "Neto"[2] com a garota. A meu ver, o melhor momento do filme porque, ali, é tirado de cena o caráter de vitimação do menino incompreendido pela família. Naquele momento, após se decepcionar com os amigos, um dos amigos tenta seduzí-lo sexualmente, ele sai desesperadamente à procura de alguém que possa lhe dar um dinheiro para voltar para casa, e ao encontrar essa garota, ela lhe oferece um suco e diz a ele que emprestaria o dinheiro com a condição de ele lhe devolver pelo correio. Essa atitude foi extremamente desejante, porque pôs um limite ao lugar vitimado que "Neto" ocupava para os outros e o reconhece como um homem (homem que não "Neto") capaz de pagar por suas coisas, acreditando na sua capacidade de conviver com o mundo.
Essa garota o leva para sua casa onde prepara um jantar para seus amigos e, com muito empenho e carinho, o inclui no preparo dos pratos, o ensina a cortar o gengibre, numa atitude até então desconhecida por "Neto". É neste clima, com uma sonografia e colorido muito bonitos, que ele teve (no filme) a sua primeira e parece que última relação amorosa. Talvez sua primeira possibilidade de encontro com sua questão desejante, de subjetivar um lugar que lhe fosse próprio. Ele passa, a partir de então, a ter algo para sonhar e não para esquecer. Ele passa a ter uma possibilidade para construir uma expectativa de que a vida possa valer à pena.
O filme então, nesta parte, apresenta uma saída para a drogadicção que não pela via da severidade repressiva ou pelo álibi da vitimação, e, sim, por uma via desejante, que não quer dizer a da compaixão, que não quer dizer o atender a tudo que o outro pedir. O dependente de drogas precisa querer se dar conta do gozo para com a morte que desenvolveu, deste gozo irrefreável em se ver em situações para ele degradantes, como a que ocorre na cena da praia com os amigos, para querer sair dessa. Mas, ele só poderá reconhecer-se se tiver a oportunidade de se contrapor a esse gozo com a morte. É lamentável que essa expectativa positiva frente a vida fosse precocemente abortada pela atitude severa e absurda daquela internação, mas apenas denunciar a repressão jamais teve o "dom" de suprimir o efeito maníaco degradante desse "apetite" (da morte) pelas drogas.
Assim sendo, tratar o usuário de drogas, hoje em dia, requer enlaces sociais com a droga como "sintoma" de degradação e, no nível singular de consultório, é preciso se dar conta de sua auto-exclusão familiar e social, conseqüências desse gozo com situações que conduzam à morte e não à vida. É desse gozo que ele precisa abrir mão, senão ele não usaria drogas. A abordagem psicanalítica privilegia a escuta, o ato que põe limite ao Princípio do Prazer, que não é a severidade nem a repressão, e sim fazer com que, dentro do possível, o dependente de drogas se inclua ali onde ele se excluiu, na família, na escola, na sociedade, para que ele possa simbolizar esse gozo com a morte encontrando um outro significado para sua vida que não a morte, ou seja, deve fazer com que, ainda que artificialmente, algo sintomatize a exclusão que advém deste Real; esta é a função do Desejo do Psicanalista ou o sintoma não é "a manifestação do Real no nível dos seres vivos"?
A nível extensivo, para além do consultório, uma excelente tese de mestrado em Psicologia Social da UERJ demonstrou que as campanhas educativas de combate a AIDS e drogas tem a eficácia restrita porque não se trata só de uma questão de conscientização. Elas não levam em conta esse gozo para com a morte que muitos aidéticos e dependentes de drogas procuram, principalmente pela via das drogas injetáveis. Daí a dificuldade da prevenção e erradicação da doença, principalmente nas "classes ditas intelectualmente favorecidas". Então, também a nível comunitário, mais do que simplesmente combater a adesão às drogas, o que deveria acontecer são projetos de inclusão dos adolescentes, como: ensino profissionalizante, atividades desportivas e culturais tais como dança, teatro, música entre outras, que apresentem uma desejante possibilidade de valorização pessoal, inclusão social e de integração à vida, uma valorização narcísica constante, senão para por um fim, pelo menos isso possa ter a força de evitar a adesão às drogas e de minorar o acesso à criminalidade. Quem se gosta não usa drogas, e, utilizando o raciocínio de Lacan que diz: o psicótico "ama o delírio como a si mesmo", poderíamos dizer que o dependente de drogas "ama o gozo com a morte como a si mesmo", quando todo o dependente deveria poder "amar um sintoma como a si mesmo".
Desta forma, para concluir, cito o Ziraldo em cartazes ("outdoors") no Rio de Janeiro: "A Droga é uma merda!"

SANDRA BECK DA SILVA ETGES, é membro analista do Centro de Estudos Lacaneanos -CEL-RS, Instituição Psicanalítica do Rio Grande do Sul.
Notas:
1 - Esse texto foi produzido a partir de um convite da Associação dos Amigos do Cinema de Santa Cruz do Sul - RS, para participar de um debate sobre este filme que fora exibido na cidade simultaneamente à campanha de combate às drogas, "100% Vida", promovida pelas Associações de Pais e Mestres das escolas locais, em novembro de 2001.
2- O nome "Neto" é como o personagem é chamado. Ora, "Neto" não é nome próprio, designa a ancestralidade do avô. É, como tal, um significante secundário que deveria ser acrescentado ao nome próprio que, ali, é omitido. Logo, esta não-nomeação designa o personagem. Não seria grave se ali não estivessem evidentes os traços foraclusivos provenientes da severidade paterna que é, aliás, denunciada como repressiva no próprio filme, fazendo do personagem um "Neto" sem avô. Em suma, ali se fez uma metáfora da foraclusão até na maneira de designar o personagem.

sexta-feira, 13 de junho de 2008

André Pitaluga, deixará saudades...

Nesta semana soubemos que nosso professor André Pitaluga nos deixará.
Quando contei a novidade em sala de aula, disse que tinha uma boa e uma má noticia. A boa era que um de nossos professores tinha conseguido algo que muito almejava: ingressar como pesquisador no reconhecido Instituto Fiocruz, no Rio de Janeiro. A má notícia era que, em função disso, estava nos deixando. De qualquer forma, ficamos muito contentes por ele.
Um grande abraço de todos nós! Desejamos-te todo o sucesso que mereces!

Não por acaso, me lembrei de um texto que escrevi sobre a amizade nas páginas do “Floripa Total”

Rafael Villari

No Divã...

“À Amizade”
Dr. Rafael Villari
Psicanalista

Em primeiro lugar, sem mais delongas, entendo a amizade como uma forma de amor específica que não se com-funde com o amor dos amantes. Talvez, iniciarmos um contraponto com este último possa nos orientar. Podemos pensar, de início, na distinção grega entre Eros e Philia. Embora depois de Freud saibamos que toda forma de Philia está sujeita a Eros.
Em relação ao amor dos amantes, Jacques Lacan, psicanalista francês e renovador da descoberta freudiana, dizia que “Amar, é dar aquilo que não se tem” para ainda acrescentar “a aquele que não é”. Por isso, entende-se que ser amado é esperar do outro, aquilo que não pode nos dar, embora o prometa. Quiçá, em outra ocasião e neste espaço, poderia progredir no comentário desta idéia; porém, neste momento, somente gostaria de destacar a dimensão de espera e de esperança que o amor dos amantes tem em seu fundamento, além do viés do engano. Podemos afirmar que ele nasce, se nutre e mantêm, no terreno da ilusão. Trata-se da promessa de uma felicidade futura. Daí que quando a ilusão não é alimentada ou se desfaz...
Neste sentido, o amor dos amigos é muito diferente. Ele não se nutre de espera, esperança e engano, mas, como diz Juan-David Nasio, de presença. Ele afirma ainda existirem três características fundamentais no amor dos amigos. A primeira é que o sexo não está presente, ao que acrescento, de forma direta e necessária. Embora a necessidade do prazer dos beijos e abraços enviados por telefone ou correspondência se torne real e sentida, quando a ocasião o permite, não há qualquer resquício de erotismo nisto. Outra questão fundamental é a reciprocidade: os amigos se amam mutuamente. Não existe amizade não correspondida. Sempre é mutua. A última diferença é que a amizade não é possessiva. Nossos amigos têm outros a quem amam da mesma forma que a nós, e isto não nos afeta; pode, inclusive, nos jubilar. A dimensão do ciúme não está presente e, mesmo que, dada alguma particularidade apareça por algum motivo, em nenhum caso afeta à amizade mesma.
Mas, quando escrevo estas linhas percebo que ao pensar no tema me remeto à particularidade de amizade entre homens e, ao mesmo tempo, noto a dificuldade em pensar a amizade entre mulheres ou entre homens e mulheres. Tema, talvez, para outro artigo mas que, em todo caso, coloca em xeque a generalidade das características do amor da amizade configurando, assim, todo um terreno a ser abordado. Desta forma, me pergunto: é possível a amizade entre mulheres? Se possível, é mais difícil ou complexo do que nos homens? Que lugar ocuparia o erotismo na amizade entre homens e mulheres, caso fosse possível? Como vemos, não faltam questões para outros momentos.
Posso arriscar de que a amizade entre os homens é mais simples na medida em que sabemos que a subjetividade masculina é muito menos complexa e enigmática do que a feminina. Enquanto os homens fazemos conjunto, frequentemente ouvimos dizer das mulheres, com um misto de desprezo e inveja: “no fundo, são todos iguais (os homens)”, a feminilidade é muito mais sofisticada, complexa e enigmática. Nenhum homem, com alguma sensibilidade, afirmaria que “as mulheres são todas iguais”; podem querer quase as mesmas coisas, como sentirem-se amadas, por exemplo, mas a singularidade é evidente.
Enquanto a masculinidade se configura de forma quase definitiva no fim da adolescência, a feminilidade evolui e se transforma ao longo de toda a vida de uma mulher produzindo especificidades subjetivas dificilmente encontradas no homem. Daí que para os homens seja muito mais fácil o reconhecimento mútuo ao tempo que, na mulher, dada sua infinita particularidade, encontre menos simetria no espelho da amizade.
É muito freqüente, por exemplo, quando de uma reunião de casais que, em pouco tempo, os homens, mesmo não se conhecendo, irem se distanciando de suas companheiras para conformar um grupo masculino. Quando a rivalidade entre eles não aparece, em instantes, percebe-se uma fraternidade jubilosa e quase infantil. Por outro lado, o grupo feminino que estabelece, no melhor dos casos, alguns laços aos pares e dificilmente em conjunto, em pouco tempo dirige seu olhar, muitas vezes reprovador, à grotesca turba masculina que parece, acreditem (!), ter esquecido delas. É preciso, então, da reprovação e/ou sedução para ‘recuperar’ os mal-educados companheiros. Isto, que quer ser uma simplista e bem-humorada imagem de parte de nosso cotidiano, retrata a facilidade masculina em encontrar no outro a imagem de si.
E esta, talvez, seja uma questão fundamental no vínculo amoroso da amizade; já que ela se desenvolve no campo da identificação. Isso que faz com que reconheçamos no outro aquilo que conhecemos porque é, também, nosso. Nesse sentido, a amizade nos permite ser nós mesmos, sem máscaras. Disso decorre o prazer de estar com os amigos. Esta questão parece ter uma grande importância, do mesmo modo que as férias, para a economia psíquica e seu equilíbrio. Pensemos que, de uma forma geral, nossa vida cotidiana se desdobra em diferentes papeis: somos pais, cônjuges, profissionais, vizinhos, cidadãos, etc. Isto nos obriga, de alguma forma, a nos desdobrar mudando de máscaras e papeis de forma constante. Com os amigos é diferente. Com eles não precisamos dessas máscaras e podemos sentir o grande prazer e descontração de ser o que somos sem nos preocupar, consciente ou inconscientemente, com nosso papel do momento. Disso decorre que esses instantes nos lancem numa despreocupação gozosa que em muito alivia o dia-a-dia.
Os laços da amizade se tecem com o tempo, embora o primeiro nó possa se atar num rompante inesperado do acaso; pode, inclusive, ser imperceptível. Ela se instala aos poucos, como pedindo licença em nossas vidas até que um dia nos damos conta que essa pessoa ocupa um lugar que antes não existia. Trata-se de um momento de júbilo em que percebemos que mais alguém passa a fazer parte de conjunto de seres queridos e importantes que nos rodeia. Assim, tornamo-nos arte-sãos do vínculo porque, como dizia, ele se faz de presença; o que não quer dizer que a lembrança constante dos amigos distantes não seja uma forma da estar juntos.
Finalizando, arrisco um breve elogio à amizade, ciente de declinar na pieguice. Porque a amizade é um dos sentimentos mais lindos e estimulantes da vida. Fonte de alegria, ela nos conforta. Trata-se da felicidade e do regozijo de saber que estamos acompanhados, em contato, sabendo que o outro espera de nós somente aquilo que somos. A amizade é, portanto, a intensidade da presença, simbolizando a disponibilidade do outro.

Grande abraço ao amigo André!



quarta-feira, 11 de junho de 2008

A volta da filosofia

12/06/2008

A coluna de hoje será agitada. Começo traindo a classe. Embora eu tenha formação acadêmica na área de filosofia, vejo com desconfiança a recém-sancionada lei que torna obrigatório o ensino desta matéria e da sociologia nas três séries do ciclo médio em todo o país. A mudança, que não chega a ser uma revolução, pois as duas disciplinas já vinham sendo paulatinamente reincorporadas à rede, parece-me servir mais aos interesses de sindicatos e a um certo populismo educacional do que à causa do ensino propriamente dita.
Antes de prosseguir eu gostaria de desfazer alguns enganos comuns. Não, a filosofia não "ensina a pensar" nem a "ser ético". Trata-se de uma disciplina como outra qualquer. O aluno é apresentado a um universo conceitual específico e, depois, nas provas e trabalhos, instado a mostrar como lida com as novas "ferramentas". Não há mágica nenhuma. Não é porque o estudante vai ler textos que refletem sobre a aquisição do conhecimento, por exemplo, que se tornará mais apto a conhecer. De modo análogo, estudar como determinados autores pensaram a moral e a ética não é em absoluto garantia de que o aluno se tornará um ser mais moral e mais ético.
Concordo que, pelo menos no ciclo médio, é preciso alargar os horizontes do aluno. Não dá para ficar só ensinando português e matemática e as matérias "clássicas" como física, biologia, história. É preciso passar também algumas referências relevantes da cultura e da ciência ocidentais. A filosofia é uma boa candidata, mas está longe de ser a única. Por que não história da arte, direito, estatística, psicologia, medicina? O melhor, creio, seria deixar para cada escola definir o que convém mais a seu público. É esse espírito anarco-autonomista, que constava da redação original da Lei de Diretrizes e Bases da Educação, a popular LDB, que vem sendo revertido nos últimos anos.
Em termos práticos, a nova lei não muda muita coisa. Desde 2006 uma resolução do Conselho Nacional de Educação já obriga as escolas de ensino médio a ministrar as duas matérias. É claro que uma lei é mais forte do que uma resolução, e isso poderá levar os conselhos estaduais que vinham enrolando na implantação da norma a andar mais depressa. A principal alteração está na especificação de que as disciplinas devem ser oferecidas nas três séries do ensino médio. Pela resolução bastava uma. É aí que reside a esperteza dos sindicatos de sociólogos, que viram sua reserva de mercado multiplicar por três. Eu não saberia explicar por que os filósofos, que são provavelmente a única categoria sem representação sindical, também entraram na festa. Imagino que isso se deva ao fato de a disciplina, por razões que a própria razão desconhece, ainda gozar de um prestígio quase reverencial.
A turma da direita já saiu gritando que o novo diploma vai institucionalizar a doutrinação esquerdista. É um risco, admito. Mas há também um outro que eles não apontam: como as faculdades de filosofia dificilmente serão capazes de fornecer a legião de professores necessária para suprir a demanda, as escolas tenderão a recrutar seus docentes pela habilitação mais próxima da filosofia, que é a teologia. E se há algo tão ruim quanto um exército de marxistas vulgares armados de discursos antiimperialistas é uma hoste de padres brandindo catecismos. Pior mesmo só se forem clérigos disparando teologia da libertação, que junta as mais capengas categorias do marxismo ao mais caricatural reacionarismo católico, mas deixemos esse cenário apocalíptico de lado.
Meu propósito central nesta coluna é mostrar que a volta da filosofia e da sociologia ao ciclo básico não passa nem perto de ser uma solução para a grave crise que a educação enfrenta hoje.
O regime militar foi criticado, com razão, por ter eliminado, em 1971, as duas disciplinas do então colegial. Fê-lo por razões muito mais pragmáticas do que teóricas: essas matérias agregavam um número desproporcionalmente grande de professores com idéias de esquerda. É um erro, entretanto, considerar, como alguns ainda o fazem, que a extinção da filosofia e da sociologia foi a responsável pelo ocaso do ensino público que se percebe desde então. Um candidato muito mais verossímil é a massificação da escola. Entre os anos 30 --a era dourada do ensino público-- e os 90, o número de alunos da rede oficial aumentou nada menos do que 20 vezes. Os recursos aplicados cresceram num proporção bem menor.
O resultado foi duplamente perverso. De um lado, a incorporação de grandes contingentes de alunos do estrato social mais baixo significou uma queda na qualidade. Esse, entretanto, era um efeito esperado e que deveria ser transitório. De outro, a rápida ampliação da rede sem um aumento correspondente dos recursos investidos levou a uma espécie de proletarização do professorado. Esse fato, tomado por si só, tampouco precisaria ser um grande problema. A correlação entre salário dos mestres e desempenho dos discípulos é menos cristalina do que supõem os sindicatos.
Ocorre que essas ocorrências não se deram de forma isolada. Esses dois movimentos se reforçaram e, somados a outros que não cabe aqui mencionar, acabaram por provocar uma notável corrosão do prestígio do magistério. Até algumas décadas atrás, o professor, ao lado do padre e do juiz, compunha o rol das "autoridades" de uma cidade do interior. Hoje, os mestres são muitas vezes vistos como o "tipo ideal" do funcionário público indolente, mais preocupado em arrancar pequenas vantagens do Estado do que em cumprir sua obrigação de educar alunos.
É uma generalização e, como toda generalização, essencialmente injusta, mas não inteiramente desprovida de base empírica. Como a categoria de professores de escolas públicas amargou décadas sem obter aumentos salariais significativos, foi se contentando com pequenas concessões que lhe eram lançadas como migalhas pelos governantes. Foi assim que se acumularam, por exemplo, 19 dispositivos legais que permitem ao mestre faltar sem sofrer redução salarial. No Estado de São Paulo, professores têm abonadas até 32 ausências por ano (um mês extra de férias!, diriam alguns). O reflexo dessa política na rede oficial se mede numa taxa de absenteísmo de 12,8%, contra menos de 1% em escolas privadas. Se isso não contribui para a fama de vagabundo, é difícil imaginar o que possa fazê-lo.
É claro que não sou tradicionalista a ponto de chorar o prestígio perdido apenas pelo prestígio. A minha hipótese é que a desvalorização social do magistério é uma das principais causas do desastre educacional brasileiro. Não se trata de mero achismo. Como mostrou reportagem da Folha (íntegra disponível para assinantes do UOL e do jornal) desta segunda-feira, estudo encomendado pela Fundação Lemann e pelo Instituto Futuro Brasil mostra que apenas 5% dos melhores alunos que se formam no ensino médio desejam trabalhar como docentes da educação básica. Dos que ficaram entre os 20% mais bem colocados no Enem 2005 (Exame Nacional do Ensino Médio), 31% querem trabalhar na área da saúde e 18% se inclinam para a engenharia.
Isso significa que estamos recrutando nosso professorado entre os piores alunos, o que, acreditem, faz a diferença. Exaustivo trabalho da consultoria McKinsey (íntegra disponível para assinantes do UOL e do jornal) de comparação de vários sistemas de educação do mundo, publicado no ano passado, revela que a primeira das três variáveis que mais se destacam nas redes de ponta é "escolher as melhores pessoas para se tornarem professores".
Na Coréia do Sul, por exemplo, a primeira colocada no ranking de leitura no Pisa 2006 (exame internacional), os futuros professores são obrigatoriamente escolhidos entre os 5% que se saem melhor na prova nacional para ingresso no ensino superior --o "vestibular" deles. Na Finlândia, segunda no mesmo ranking, os professores são selecionados entre os "top ten".
Trocando em miúdos, o "segredo" do ensino de qualidade é a soma de um truísmo (bons professores formam bons alunos) com uma obviedade (para recrutar os melhores profissionais, é preciso oferecer uma carreira atrativa, senão financeiramente, ao menos em termos de valorização social). É exatamente o que não estamos fazendo.
E não me parece que a introdução da filosofia e da sociologia em regime obrigatório e intensivo contribuam para reverter nossa penúria pedagógica. Essa é antes uma manobra diversionista, mais uma compensação a sindicatos que ficaram por algum tempo de fora do butim. Uma mudança de verdade implicaria redefinir quais são as carreiras com e sem prestígio no país. E isso envolveria redesenhar os feudos já estabelecidos pela república das corporações em que o Brasil tristemente se converteu.

Hélio Schwartsman, 42, é editorialista da Folha. Bacharel em filosofia, publicou "Aquilae Titicans - O Segredo de Avicena - Uma Aventura no Afeganistão" em 2001. Escreve para a Folha Online às quintas.

domingo, 8 de junho de 2008

sexta-feira, 6 de junho de 2008

terça-feira, 3 de junho de 2008

Cartas a um Jovem Terapeuta (DEIXE SEU TRECHO PREFERIDO)

“Resumindo, meu jovem amigo que pensa em ser terapeuta, se você sofre, se seus desejos são um pouco (ou mesmo muito) estranhos, se (graças a sua estranheza) você contempla com carinho e sem julgar (ou quase) a variedade das condutas humanas, se gosta da palavra e se não é animado pelo projeto de se tornar um notável de sua comunidade, amado e respeitado pela vida afora, então, bem-vindo ao clube: talvez a psicoterapia seja uma profissão para você”.
(CALLIGARIS, p.18)

segunda-feira, 2 de junho de 2008

Strip-Tease

Martha Medeiros

Strip-Tease

Chegou no apartamento dele por volta das seis da tarde e sentia um nervosismo fora do comum. Antes de entrar, pensou mais uma vez no que estava por fazer. Seria sua primeira vez. Já havia roído as unhas de ambas as mãos. Não podia mais voltar atrás. Tocou a campainha e ele, ansioso do outro lado da porta, não levou mais do que dois segundos para atender.

Ele perguntou se ela queria beber alguma coisa, ela não quis. Ele perguntou se ela queria sentar, ela recusou. Ele perguntou o que poderia fazer por ela. A resposta: sem preliminares. Quero que você me escute, simplesmente.Então ela começou a se despir como nunca havia feito antes.

Primeiro tirou a máscara: "Eu tenho feito de conta que você não me interessa muito, mas não é verdade. Você é a pessoa mais especial que já conheci. Não por ser bonito ou por pensar como eu sobre tantas coisas, mas por algo maior e mais profundo do que aparência e afinidade. Ser correspondida é o que menos me importa no momento: preciso dizer o que sinto".

Então ela desfez-se da arrogância: "Nem sei com que pernas cheguei até sua casa, achei que não teria coragem. Mas agora que estou aqui, preciso que você saiba que cada música que toca é com você que ouço, cada palavra que leio é com você que reparto, cada deslumbramento que tenho é com você que sinto. Você está entranhado no que sou, virou parte da minha história."

Era o pudor sendo desabotoado: "Eu beijo espelhos, abraço almofadas, faço carinho em mim mesma tendo você no pensamento, e mesmo quando as coisas que faço são menos importantes, como ler uma revista ou lavar uma meia, é em sua companhia que estou".

Retirava o medo: "Eu não sou melhor ou pior do que ninguém, sou apenas alguém que está aprendendo a lidar com o amor, sinto que ele existe, sinto que é forte e sinto que é aquilo que todos procuram. Encontrei".

Por fim, a última peça caía, deixando-a nua"Eu gostaria de viver com você, mas não foi por isso que vim. A intenção é unicamente deixá-lo saber que é amado e deixá-lo pensar a respeito, que amor não é coisa que se retribua de imediato, apenas para ser gentil. Se um dia eu for amada do mesmo modo por você, me avise que eu volto, e a gente recomeça de onde parou, paramos aqui".

E saiu do apartamento sentindo-se mais mulher do que nunca.

Mec amplia opções de financiamento para cursos superiores

Mec amplia opções de financiamento para cursos superiores

Meta é oferecer 120 mil novas bolsas de estudos.
O Ministério da Educação anunciou que irá oferecer este ano 47 mil bolsas integrais, com financiamento de 100% do valor dos cursos e outras 73 mil bolsas parciais, com financiamentos de 25 e 50%. A ampliação das bolsas será possível devido a uma junção do Programa de Financiamento Estudantil (Fies) com o Programa Universidade para Todos (Prouni).De acordo com Ministério, todos os estudantes que se habilitarem para as bolsas parciais do Prouni, poderão financiar a outra parcela integralmente com recursos do Fies. Alunos que obtiverem uma bolsa do Prouni de 50%, por exemplo, poderão financiar os outros 50% pelo Fies.

Confira reportagem completa acessando http://portal.mec.gov.br/