segunda-feira, 31 de março de 2008

JÁ ESCOLHEMOS NOSSA REPRESENTANTE DE TURMA


Galera, já temos nossa representante! A querida Alessandra, que será muito bem vinda, e esperamos que seja uma boa mediadora da nossa turma!
PARABÉNS ALE!!!!

sábado, 29 de março de 2008

Livro responde dúvidas de profissionais Calligaris reflete sobre os dois lados do processo psicanalítico JURANDIR FREIRE COSTA ESPECIAL PARA A FOLHA

Cartas a um Jovem Terapeuta
CONTARDO CALLIGARIS


Certos livros portam o selo da maturidade de quem os escreveu. "Cartas a um Jovem Terapeuta", do colunista da Folha Contardo Calligaris, é um deles. O volume é composto por uma série de respostas a jovens profissionais que pediram a opinião de Calligaris sobre a prática psicoterápico-psicanalítica. O assunto, pode-se imaginar, é gigantesco. Estende-se dos problemas técnicos pontuais às mais espinhosas questões sobre teoria da subjetividade. Tópicos como duração e pagamento de sessões; primeiras entrevistas; valor do diagnóstico; requisitos universitários para o exercício da profissão; escolha de instituições de formação; convívio na comunidade de analistas; critérios de aceitação de clientes e avaliação do processo de cura; relação entre condicionamento cultural e condicionamento biográfico dos sofrimentos mentais etc. são abordados ao longo do texto com precisão e maestria, em uma prosa de bem com a vida, que mostra o espontâneo domínio do autor sobre o que fala. Calligaris, por formação intelectual e inteligência, poderia ter escrito um tratado indigesto sobre "prática analítica". Não lhe faltam destreza discursiva e erudição para usar e abusar de teoria do conhecimento, fenomenologia do corpo, lingüística, sociologia do individualismo, história das mentalidades, sem contar, é óbvio, a familiaridade que tem com os grandes clássicos da psicanálise. Nada disso prende sua atenção ao se dirigir aos jovens terapeutas. O estofo teórico, certamente, permite-lhe vasculhar o edifício psicanalítico com segurança. Sua preocupação, entretanto, é cavar até onde a pá entorta para chegar ao coração do sofrimento humano. Teorias, ele sugere, podem facilmente encantar, mas nunca acordar o terapeuta imerso em devaneios narcísicos. Temas como a "curvatura da pulsão" -dado como exemplo bem-humorado de um certo gosto por especiarias conceituais- podem ser amáveis quebra-cabeças para momentos de lazer. Para a prática psicoterápico-psicanalítica, no entanto, não são nem mais nem menos decisivos do que saber "quantos anjos -em pé ou deitados- cabem na cabeça de um alfinete"! Ir direto ao sofrimento humano, contudo, não é fazer o elogio do sentimentalismo; é pensar sobre o sentido da cura. Neste ponto, o som da maturidade faz-se ouvir. Calligaris centra a discussão em dois temas cruciais para a prática clínica, os atributos requeridos para quem quer ser analista e os atributos exigidos de quem quer se analisar. Nos dois casos, trata-se de refletir sobre as qualidades pessoais que habilitam ambos os atores ao exercício do processo analítico. Do lado do terapeuta-analista, o grande enigma é o da sensibilidade para com a variabilidade expressiva da vida humana; do lado do analisando, a disponibilidade para sentir-se implicado naquilo que pensa, deseja ou faz. Por trás da simplicidade da formulação, encontra-se o conflito entre o impulso para a liberdade e o conforto em pertencer a um corpo de valores e instituições, sem o qual o primeiro termo da equação perderia a razão de ser. Na prática, diz Calligaris, não há saída fácil para o dilema. Seja como for, o psicanalista deve evitar, tanto quanto possível, ser um moralista. Isto é, deve "considerar a variedade das vidas e das condutas com carinho e indulgência", em função de sua experiência de vida. Sem a consciência de que seus próprios desejos são singulares e, muitas vezes, contrários à herança moral recebida, ele corre o risco de julgar o outro sem considerar o que Freud, a duras penas, revelou: em algum lugar do passado, do presente ou do futuro, mostramos ou mostraremos que somos todos existências em aberto, na procura incessante de satisfação, que pode se realizar no melhor e no pior. Assim, o que torna o analista apto a escutar o sofrimento alheio não é a pretensão de ser um lírio no lodo, mas o esforço para não converter seu desejo em poder sobre o desejo do outro. A força da transferência não pode se tornar golpe de violência. De modo similar, o candidato à análise não pode fazer do sintoma álibi para a demissão de si. Desonerar-se de pensar sobre o que se faz, disse Hannah Arendt, é dar as costas à homologia consigo mesmo; desistir de ser sujeito, diz Calligaris, é imaginar que a homologia foi encontrada na submissão a ideais coletivos ou individuais de pureza moral, religiosa, política, econômica, étnica, racial, artística ou mesmo psicanalítica. Quem admite a dúvida sobre o que é pode ser ajudado a assumir a responsabilidade para com a incompletude; quem acha que já achou a verdade, dificilmente abandonará o gozo com a irresponsabilidade para consigo e com a crueldade para com os outros. Em resumo, "Cartas a um Jovem Terapeuta" é uma meditação psicanalítica simpaticamente oferecida a todos. Um texto denso sem prepotência e irônico sem ressentimentos. É bom encontrar alguém que faz, com mais perícia e talento, o que gostaríamos de ter feito. Ganhamos todos. O público interessado na questão, os especialistas, a literatura analítica brasileira e, em especial, os jovens terapeutas e os analisados em busca de uma psicanálise humanamente útil.