sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Estudo com crianças de 8 a 9 anos de idade compara eficácia da memorização de texto

A leitura de textos em voz alta pela própria criança é a melhor modalidade lingüística para ajudar a memorização e, conseqüentemente, a aprendizagem no início da idade escolar.
É o que sugere um estudo que avaliou estilos de linguagem que facilitam a memorização em crianças, tese de doutorado que a fonoaudióloga Zilca Rossetto de Moraes defendeu no Departamento de Otorrinolaringologia e Distúrbios da Comunicação Humana da Unifesp. Esse é um dos primeiros trabalhos do país sobre a memorização pelo reconto de uma história a partir de diferentes estilos de linguagem.
Conscientizar os professores - Segundo a pesquisadora, o objetivo do estudo é divulgar aos professores o estilo mais eficiente para a memorização, principalmente para alunos das primeiras séries do ensino fundamental. "É importante conscientizar os professores de que, segundo a disciplina, deve ser usado um estilo de linguagem diferente", diz.
A pesquisa, realizada em duas etapas, avaliou alunos da terceira série do ensino fundamental de escolas públicas e privadas de Santa Maria (RS), com idades de 8 e 9 anos.
Fases da pesquisa - Numa primeira fase, 80 crianças participaram de um teste para selecionar uma entre quatro histórias que seria usada para o estudo. A história escolhida foi "O Urubu e as Pombas", que integra uma bateria de testes neuropsicológicos infantis. Na segunda parte, Zilca aplicou essa história a outras 80 crianças, divididas em quatro grupos de 20, usando em cada um deles um estilo diferente de linguagem.
No primeiro grupo, a história era lida em voz alta pela criança. No segundo, o aluno lia em silêncio. Em outro estilo, a pesquisadora lia a história para as crianças. E, no último, Zilca contava a história sem ler. Em todos os casos, as crianças tinham de recontar a história, para mostrar a capacidade de memorização.
Os resultados do estudo apontaram que os estilos mais eficientes foram a leitura em voz alta e a silenciosa, ambas feitas pela criança.
Na leitura em voz alta feita pela criança, os alunos lembravam em média 6,85 orações das 14 que compunham a história. Quando a criança lia em silêncio, ela era capaz de lembrar 6,03 orações.
Melhor desempenho - Segundo Zilca, que é professora do Departamento de Otorrinofonoaudiologia da Universidade Federal de Santa Maria (RS), o melhor desempenho no caso da leitura pelo próprio aluno em voz alta decorre do fato de, além de haver o estímulo visual, ocorrer a utilização do estímulo auditivo, que reforça os processos de integração e evocação do texto lido.
O pior desempenho ocorreu quando a pesquisadora lia a história para os alunos: as crianças recordavam apenas 3,61 orações. "Embora esse último não favoreça a memorização, ele é muito usado nas escolas", afirma Zilca.
Na opinião da fonoaudióloga, os resultados são importantes porque mostram que a adoção de determinado estilo de linguagem poderia ajudar a reduzir a dificuldade de aprendizado e a diminuir índices de reprovação e evasão escolar.

O Urubu e as Pombas

"Um urubu ouviu dizer que na casa das pombas havia muita comida. Ele se pintou de branco e voou até a casa das pombas. As pombas acharam que ele era uma delas e deixaram ele entrar, mas ele continuou a gritar como um urubu. As pombas descobriram que ele era um urubu e o expulsaram. Ele tentou se juntar novamente aos urubus, mas estes não o reconheceram e não o aceitaram."
(História retirada da bateria de testes neuropsicológicos de Luria Nebraska, adaptada e traduzida para o português)

"Era um urubu e daí ele entrou na casa. Ele era um urubu e daí expulsaram ele. Daí ele se juntou com os outros urubu e os outros urubu não reconheceram e não quiseram ficá com ele."
Versão de quem ouviu a leitura da história

"Tinha um urubu, ele foi lá, que tinha comida das pomba, ele foi lá. Aí as pomba pensaram que ele era uma pomba também e daí elas deixaram ele entrá. Aí depois, depois que elas descobriram e deram comida delas pra ele também. Depois que elas descobriram que ele era um urubu, daí elas não quiseram mais ele. Daí depois ele tentou entrá na casa dos urubu de novo e ninguém quis ele..."
Versão de quem fez leitura silenciosa
"O urubu, ele ouviu dizê que as pombas tinham muita comida na casa delas e daí ele se pintou de branco e voou prá lá. As pombas pensaram que ele era um urubu. Elas pensaram que era uma pomba e daí as pombas aceitaram. Daí ele continuou a gritar como um urubu, daí as pombas descobriram. Daí expulsaram e ele tentou voltar aos urubu e não reconheceram e não aceitaram."

História recontada por criança que leu texto em voz alta
Ricardo Zorzetto www.unifesp.br

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