segunda-feira, 23 de abril de 2012

Depressão faz doentes enxergarem em tons de cinza

 

A tela 'The Old Guitarist', de Pablo Picasso, foi produzida em 1903 (Foto: Divulgação)
- Título oficial: Seeing Gray When Feeling Blue? Depression Can Be Measured in the Eye of the Diseased
- Publicação: Biological Psychiatry
- Quem fez: Pesquisador Dr. Ludger Tebartz van Elst
- Instituição: Universidade de Freiburg, na Alemanha
- Dados de amostragem: A análise alemã foi realizada com dois grupos de 20 pessoas. Do total dos voluntários, 50% era diagnosticado com depressão e os demais 50% não apresentava qualquer sintoma da doença.
- Resultado: O estudo mostrou que pessoas depressivas são realmente menos sensíveis aos contrastes de cor e enxergam em tons de cinza.
O mundo é literalmente cinza para as pessoas que sofrem de depressão. A descoberta, realizada por cientistas alemães, prova o que há séculos é manifestado na pintura, na literatura e em outras artes. Segundo um estudo da Universidade de Freiburg, na Alemanha, a doença causa uma alteração fisiológica nos olhos, cujo efeito é a perda de sensibilidade na visão.
Os pesquisadores realizaram testes na retina de pacientes voluntários e mostraram que o efeito é semelhante ao ato de diminuir o controle de contraste em uma TV. Para os especialistas, a conclusão da experiência foi tão clara que eles acreditam poder usar o teste de visão para medir níveis de depressão em pacientes que apresentem sintomas da doença.
Essa pode ser a razão pela qual, ao longo dos tempos, independentemente da cultura ou língua, os artistas retratam a depressão usando símbolos da escuridão e tons cinzentos.
- O que já se sabia sobre o assunto

Paulo Dalgalarrondo, psiquiatra
Pacientes diagnosticados com depressão relatam com frequência sintomas como a perda de sensibilidade (hipoestesia, no contexto médico) em seus sentidos sensoriais. Para Paulo Dalgalarrondo, psiquiatra do Departamento de Psicologia Médica e Psiquiatria da Faculdade de Ciência Médicas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), essa é uma reclamação constante de quem busca tratamento para a doença.
Dalgalarrondo explica que, quando diagnosticadas com depressão grave, as pessoas tendem a dizer que as cores já não têm a cor que tinham, que a música não soa como soava antes e que a sensação é realmente de que o mundo está mais apagado.
O médico ressalta, no entanto, que essas alterações na visão ao longo do período em que a pessoa está doente não são irreversíveis. À medida que o paciente cura a doença, sua retina volta ao normal e ele passa a enxergar como antes.
Segundo Dalgalarrondo, o assunto é popular entre os especialistas da área, no entanto ele afirma que a abordagem fisiológica, baseada no estudo na retina, é inédita e bastante interessante para a comunidade científica.
Especialista: Paulo Dalgalarrondo, psiquiatra do Departamento de Psicologia Médica e Psiquiatria da Faculdade de Ciência Médicas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp)
Envolvimento com assunto: Atende pacientes com depressão há mais de 20 anos.
- Conclusão
Mais uma vez os artistas foram pioneiros na identificação dos males que atormentam a sociedade. O estudo mostra que, séculos depois, os pesquisadores só estão comprovando cientificamente o que há anos já era retratado nas telas e na poesia.
(Por Renata Honorato)

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