sexta-feira, 13 de junho de 2008

André Pitaluga, deixará saudades...

Nesta semana soubemos que nosso professor André Pitaluga nos deixará.
Quando contei a novidade em sala de aula, disse que tinha uma boa e uma má noticia. A boa era que um de nossos professores tinha conseguido algo que muito almejava: ingressar como pesquisador no reconhecido Instituto Fiocruz, no Rio de Janeiro. A má notícia era que, em função disso, estava nos deixando. De qualquer forma, ficamos muito contentes por ele.
Um grande abraço de todos nós! Desejamos-te todo o sucesso que mereces!

Não por acaso, me lembrei de um texto que escrevi sobre a amizade nas páginas do “Floripa Total”

Rafael Villari

No Divã...

“À Amizade”
Dr. Rafael Villari
Psicanalista

Em primeiro lugar, sem mais delongas, entendo a amizade como uma forma de amor específica que não se com-funde com o amor dos amantes. Talvez, iniciarmos um contraponto com este último possa nos orientar. Podemos pensar, de início, na distinção grega entre Eros e Philia. Embora depois de Freud saibamos que toda forma de Philia está sujeita a Eros.
Em relação ao amor dos amantes, Jacques Lacan, psicanalista francês e renovador da descoberta freudiana, dizia que “Amar, é dar aquilo que não se tem” para ainda acrescentar “a aquele que não é”. Por isso, entende-se que ser amado é esperar do outro, aquilo que não pode nos dar, embora o prometa. Quiçá, em outra ocasião e neste espaço, poderia progredir no comentário desta idéia; porém, neste momento, somente gostaria de destacar a dimensão de espera e de esperança que o amor dos amantes tem em seu fundamento, além do viés do engano. Podemos afirmar que ele nasce, se nutre e mantêm, no terreno da ilusão. Trata-se da promessa de uma felicidade futura. Daí que quando a ilusão não é alimentada ou se desfaz...
Neste sentido, o amor dos amigos é muito diferente. Ele não se nutre de espera, esperança e engano, mas, como diz Juan-David Nasio, de presença. Ele afirma ainda existirem três características fundamentais no amor dos amigos. A primeira é que o sexo não está presente, ao que acrescento, de forma direta e necessária. Embora a necessidade do prazer dos beijos e abraços enviados por telefone ou correspondência se torne real e sentida, quando a ocasião o permite, não há qualquer resquício de erotismo nisto. Outra questão fundamental é a reciprocidade: os amigos se amam mutuamente. Não existe amizade não correspondida. Sempre é mutua. A última diferença é que a amizade não é possessiva. Nossos amigos têm outros a quem amam da mesma forma que a nós, e isto não nos afeta; pode, inclusive, nos jubilar. A dimensão do ciúme não está presente e, mesmo que, dada alguma particularidade apareça por algum motivo, em nenhum caso afeta à amizade mesma.
Mas, quando escrevo estas linhas percebo que ao pensar no tema me remeto à particularidade de amizade entre homens e, ao mesmo tempo, noto a dificuldade em pensar a amizade entre mulheres ou entre homens e mulheres. Tema, talvez, para outro artigo mas que, em todo caso, coloca em xeque a generalidade das características do amor da amizade configurando, assim, todo um terreno a ser abordado. Desta forma, me pergunto: é possível a amizade entre mulheres? Se possível, é mais difícil ou complexo do que nos homens? Que lugar ocuparia o erotismo na amizade entre homens e mulheres, caso fosse possível? Como vemos, não faltam questões para outros momentos.
Posso arriscar de que a amizade entre os homens é mais simples na medida em que sabemos que a subjetividade masculina é muito menos complexa e enigmática do que a feminina. Enquanto os homens fazemos conjunto, frequentemente ouvimos dizer das mulheres, com um misto de desprezo e inveja: “no fundo, são todos iguais (os homens)”, a feminilidade é muito mais sofisticada, complexa e enigmática. Nenhum homem, com alguma sensibilidade, afirmaria que “as mulheres são todas iguais”; podem querer quase as mesmas coisas, como sentirem-se amadas, por exemplo, mas a singularidade é evidente.
Enquanto a masculinidade se configura de forma quase definitiva no fim da adolescência, a feminilidade evolui e se transforma ao longo de toda a vida de uma mulher produzindo especificidades subjetivas dificilmente encontradas no homem. Daí que para os homens seja muito mais fácil o reconhecimento mútuo ao tempo que, na mulher, dada sua infinita particularidade, encontre menos simetria no espelho da amizade.
É muito freqüente, por exemplo, quando de uma reunião de casais que, em pouco tempo, os homens, mesmo não se conhecendo, irem se distanciando de suas companheiras para conformar um grupo masculino. Quando a rivalidade entre eles não aparece, em instantes, percebe-se uma fraternidade jubilosa e quase infantil. Por outro lado, o grupo feminino que estabelece, no melhor dos casos, alguns laços aos pares e dificilmente em conjunto, em pouco tempo dirige seu olhar, muitas vezes reprovador, à grotesca turba masculina que parece, acreditem (!), ter esquecido delas. É preciso, então, da reprovação e/ou sedução para ‘recuperar’ os mal-educados companheiros. Isto, que quer ser uma simplista e bem-humorada imagem de parte de nosso cotidiano, retrata a facilidade masculina em encontrar no outro a imagem de si.
E esta, talvez, seja uma questão fundamental no vínculo amoroso da amizade; já que ela se desenvolve no campo da identificação. Isso que faz com que reconheçamos no outro aquilo que conhecemos porque é, também, nosso. Nesse sentido, a amizade nos permite ser nós mesmos, sem máscaras. Disso decorre o prazer de estar com os amigos. Esta questão parece ter uma grande importância, do mesmo modo que as férias, para a economia psíquica e seu equilíbrio. Pensemos que, de uma forma geral, nossa vida cotidiana se desdobra em diferentes papeis: somos pais, cônjuges, profissionais, vizinhos, cidadãos, etc. Isto nos obriga, de alguma forma, a nos desdobrar mudando de máscaras e papeis de forma constante. Com os amigos é diferente. Com eles não precisamos dessas máscaras e podemos sentir o grande prazer e descontração de ser o que somos sem nos preocupar, consciente ou inconscientemente, com nosso papel do momento. Disso decorre que esses instantes nos lancem numa despreocupação gozosa que em muito alivia o dia-a-dia.
Os laços da amizade se tecem com o tempo, embora o primeiro nó possa se atar num rompante inesperado do acaso; pode, inclusive, ser imperceptível. Ela se instala aos poucos, como pedindo licença em nossas vidas até que um dia nos damos conta que essa pessoa ocupa um lugar que antes não existia. Trata-se de um momento de júbilo em que percebemos que mais alguém passa a fazer parte de conjunto de seres queridos e importantes que nos rodeia. Assim, tornamo-nos arte-sãos do vínculo porque, como dizia, ele se faz de presença; o que não quer dizer que a lembrança constante dos amigos distantes não seja uma forma da estar juntos.
Finalizando, arrisco um breve elogio à amizade, ciente de declinar na pieguice. Porque a amizade é um dos sentimentos mais lindos e estimulantes da vida. Fonte de alegria, ela nos conforta. Trata-se da felicidade e do regozijo de saber que estamos acompanhados, em contato, sabendo que o outro espera de nós somente aquilo que somos. A amizade é, portanto, a intensidade da presença, simbolizando a disponibilidade do outro.

Grande abraço ao amigo André!



8 comentários:

Psicóloga Katia Mafra - CRP 12/12030 disse...

Realmente, nosso professor André,deixará saudades...
um professor humilde em tudo...
uma pessoa querida por todos...
e com uma competência admirável para ministrar suas aulas...
QUE TENHA SUCESSO NESTA NOVA ETAPA DE VIDA PROFISSIONAL!!!

KATIA MAFRA

Anônimo disse...

Verdade, faço das palavras da Katia as minhas...

Parabéns Prof.!!!!

=)

E que belo texto sobre a amizade, hein?! ...

Abraço,
Ana Carolina

Allison Ambrosio disse...

Tive pouca oportunidade de conviver com o André, já que entrei quase um mês depois de iniciadas as aulas e não pude fazer sua matéria logo no primeiro semestre. No entanto, pude perceber logo nos primeiros contatos a sua simpatia e o amor com que dava suas aulas, sentimento adequado a quem se propõe trabalhar onde finalmente está indo. Parabéns professor, por conseguir atingir a mais um alvo, dntre tantos que já estabeleceu em sua vida profissional. E ao Professor Rafael a minha gratidão, por um texto tão bonito e edificante sobre amizade que, em minha humilde opinião é a essência de todas as outras manifestações de afeto!

Allison.

Anni disse...

É professor André, agora não vai mais escutar minhas incessantes perguntas...hehe...
e vou ficar com saudades de suas analogias.. =)

Fico feliz em saber que alcançou um dos seus objetivos...
A biologia até tinha ficado interessante..(nunca foi o meu forte)... Por isso sinto muito em "perder" um professor de tal qualidade...

Sucesso..Abraço Anni

Sidney magno te amo Lidi disse...

Caro prof. desejo a vc toda a felicidade do mundo na sua nova empreitada e que DEUS vai esta sempre do seu lado mostrando todos os caminhos a ser seguidos por vc. um grande abaço do Paraense heheheh.
toda a felicidade do mundo!!!!

Sidney Barroso

Iara disse...

pois ehh...td mundo diz a msm coisa, mas num tem como dizer outra nehh

PARABENS fessor mto sucesso e felicidade na sua nova jornada
vc jah esta deixando saudades por aki, adoramos te conhecer e vc eh um excelente professor
cm diz a jerusa "qdo vc fla parece poesia" hehehehe

bjaum....boa sorte e td d bom!!!!

Valdete Coelho Sant´ana CRP 12/11881 disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Valdete Coelho Sant´ana CRP 12/11881 disse...

Parabéns Professor André, sentiremos sua falta com certeza, mas estamos felizes por você que conseguiu o que almejou e lutou.
Abraços