sexta-feira, 17 de abril de 2009

EFEITOS TERAPÊUTICOS RÁPIDOS

Italo D. Venturelli

INTRODUÇÃO

Realizar este trabalho foi para mim uma experiência onde da atuação de médico para a de analista, só foi sendo possível, com o desenrolar de minha analise pessoal. Somente após cerca de dois anos de analise Lacaniana parece que consegui começar a ouvir Mari.
Trabalhando como médico neurologista, não conseguia ter a chamada “escuta analítica” permanecendo engessado na analise médica do caso.
Não consegui me aperceber da possível transferência da paciente e nem relacionar seu caso como sendo de origem emocional desde há 14 anos atrás.
Tentei por varias vezes apenas medicações, e quando de seu retorno mediquei também com a esperança de me apoiar na solução do caso com o lançamento de medicações melhores, inclusive antipsicoticos.
A questão da escuta analitica da qual me refiro diz respeito ao percurso de minha própria analise, bem como do estudo sistematizado que venho fazendo no IPLA. “Só se reconhece o que já se conhece”
Da posição que sempre tive como médico a grande mudança que aprendo, é a de é não ir falando concomitantemente com o paciente durante a sessão. Nas “consultas” que fiz e faço, logo ao inicio, os diagnósticos são lembrados e vou “explicando” para o pacientes seus sintomas, causas e até a topologia das lesões. Realmente ouvir um paciente é algo completamente novo, e parece que o tempo dura mais que o próprio tempo. Quanto tempo são 20 ou 30 minutos!! Muitas vezes parece uma infinidade, outras um lampejo.
È preciso um treinamento; Um manejo; o decorrer da analise pessoal, para que de inicio se acostume a conseguir ficar a sós consigo mesmo, se é que isto é possível, pelo aspecto de sermos indivi-duais. Pacientes que falam baixo e gritam, outros que esbravejam e se escondem. Li Freud do inicio do século como sendo um médico em seu percurso para Analista.
Em Lacan, tentei ler o analista mas para mim, ainda esta muito além.
O tema que chama a atenção alem da escuta, é a questão do diagnostico; principalmente do diagnostico diferencial com a histeria.
Acostumado aos sinais médicos ditos gerais de muitas patologias, como por exemplo febre, cefaléia , tonturas, durante a escuta deste caso por varias vezes “escutei “ e me apercebi alem dos sintomas histéricos mais comuns , traços de fobia, obcessão, homossexualismo,perversões e até paranóicos.
Durante algumas sessões Mari aparentemente falava de suas fixações com o pai, de suas perversões para com a irmã. De sua imensa fobia em relação ao seu cunhado, chegando a lembrar formas paranóicas clássicas.
Apresentava um tremor que chegava a ser tão acentuado que o divã se movia do lugar. Às vezes levantava-se do divã e ficava andando pela sala.
Seus parentes muitas vezes a levavam a outros colegas que lhe prescreviam medicações, o que atrapalhava as sessões, pois Mari chegava literalmente dopada ao consultório.
Tive que interceder e marcar uma sessão que chamarei de didática. Marquei uma reunião com seus familiares em sua residência. Discorri sobre os perigos a que a paciente estava sendo exposta. Fiz também breve menção sobre a chamada analise quando feita por leigos, padres e outros afins; Afinal nos dias de hoje todos se intitulam analistas de alguma coisa, quer seja holístico, Junguiano, Tradicional, Cristão, e mais uma infinidade de florais de Bach, e ainda mais as receitas caseiras das respectivas vovozinhas. Só assim Mari pode comparecer ao consultório sem faltar às sessões, e sem estar dopada com as medicações. Apenas a dopagem através das palavras de seu ultimo namorado, que era um pastor.
Relatarei o caso clinico e em seguida uma discussão , procurando algumas referências e embasamento do caso em Freud e Lacan.

CASO CLINICO
Efeitos terapêuticos rápidosMari “A tremedeira”

Mari vem ao meu consultório onde atendo como neurologista, no dia 15/08/1989, apresentando dores de cabeça e na face. Diagnosticado uma sinusite, bem como ansiedade e certa dificuldade para dormir.Veio acompanhada pela irmã mais nova e apesar do quadro médico ser de “apenas” uma sinusite, Mari chora.
É medicada com antibiótico , antiinflamatório, inalações e de um tranqüilizante. ( tranxilene 5 mg 2 x dia). È pedido um Rx de face.
Em 22/08/89 retorna trazendo o Rx com laudo de hipotranparencia confirmando a sua sinusite, sendo encaminhada para o tratamento com um otorrinolaringologista.Retorna 14 anos após a primeira consulta, em 29/12/2003 apresentando tremor generalizado, história de alucinações (que foram relatadas pela irmã), e alterações do pensamento. ( na data apenas especificado assim).
Trás uma história de ter sido atendida estes anos por dois colegas psiquiatras tendo utilizado vários tipos de medicamentos, tipo haldol, akineton, diazepan, fluoxetina, zyprexa etc. e estando na época em uso de Melleril e Rivotril 2mg/dia
Fazia uso de anticoncepcional ,para tratamento de alterações do ciclo menstrual e para aumentar o peso.(sic)
Clinicamente apresentava significativa redução do peso corporal ,pesando em torno de 45 kg, tendo 1.63 de altura; tontura freqüente estando em uso de stugeron 75mg 2x dia.
Durante este atendimento Mari chora muito, tem tremor em seu corpo todo, tem dificuldade até para falar, fala baixinho, e diz que apesar das medicações não consegue dormir e que teria piorado muito após a doença de seu pai que apresentou um Acidente vascular cerebral em 2002 passando a apresentar tremor e dificuldade para deambular.
Modifico suas medicações para Venfalaxina 75mg uma vez dia , e neste atendimento sugiro que apenas as medicações e algumas consultas médicas não seriam suficientes para a melhora dos seus sintomas . Inicio falando do tratamento psicanalítico, sendo aceito prontamente por ela. È marcado então sua uma primeira sessão analítica.
Mari é trazida ao consultório pelo irmão e sua esposa, os quais aguardam na ante-sala com aparente ansiedade, porem dando sinais de aprovação da escolha do médico.
Chega muito bem arrumada, com os cabelos molhados, baton, brincos, porem com tremores e falando extremamente baixo.
Certifica-se varias vezes que não existe pessoa alguma ouvindo “nossa conversa”.
Pergunto como esta passando com a medicação e faço um questionário sobre sua família e antecedentes.
Mari 34 anos é a filha do meio de uma família com cinco filhos, mora com os pais e um irmão. Os outros são casados e moram próximos .
Estudou até o segundo grau e fez curso para costureira.
Trabalhou por oito meses e saiu.
De inicio refere: Fiquei doente depois que meu pai ficou doente. Fui encaminhada novamente pela minha família para o psiquiatra mas preferi vir no senhor.Dizem que tenho depressão forte. Tenho medo de sair de casa ,fico a maior parte do tempo em meu quarto. Sou muito católica e rezo muito. Às vezes vou com minha mãe no supermercado,pois é lá em cima, mas na padaria não, porque é lá em baixo.
Não consigo ficar onde tem pessoas.
Pergunto o que mais lhe aflige atualmente.
Mari:Minha irmã mais velha vem toda segunda feira me ajudar em casa; ela é casada com José , e é dele que eu tenho mais medo ; não confio nele. Tenho medo dele falar que gosta de mim como cunhada, mas não ser verdade.
Tenho medo do filho deles que tem 15 anos. Medo que ele queira bater em mim. Sei lá o que eles se arrumam por lá.
Mariza muda o assunto e começa a falar do pai: Tenho medo que o pai de crise na rua. Ele teve avc e não pode sair sozinho senão ele cai.
Interrompo a secção. Nos vemos em 3 dias.
Mari diz: acho que falei demais e pergunta se juro que não vou contar nada a ninguém, principalmente para sua irmã.
Asseguro-lhe que não, referindo que o tratamento é apenas dela.
Retorna mais tensa, esfregando as mãos e refere :
Não sou mais a Mari de antigamente. Uma garota que saia de casa. Hoje tenho medo até do meu quarto. Tenho medo que os vizinhos achem ruim. Tem muito silencio na minha casa.
Tudo piorou com minha nossa mudança de casa. Quero me mudar. Esta foi a casa dos sonhos do meu pai . Ele saiu do aluguel. Mas aqui eles estão doentes.
Aqui tenho que combinar com minha irmã.
Ela diz que não posso ficar sem remédio de jeito nenhum.
Quando eu não tomo ela chora e também não dorme.
Quero ficar livre do akineton e do lexotan.
Interrompo a sessão
Ao inicio da outra sessão inicia falando de seus namorados, dizendo: Eles eram muito legais, mas não saiam do meu pé . Sofrem por minha causa, mas eu não quero que eles venham na minha casa. Fico com medo dele porque ele é muito exigente ,estranho, quer provocar, fica falando coisas. ( percebo que fala do cunhado). Fica muito angustiada ,chora, se levanta do divã e fica andando pela sala. Parece aterrorizada.
Passa a tremer com mais intensidade e a falar mais baixo.
Ele pede ajuda do meu irmão para os serviços, e se meu irmão não vai ele fica nervoso e rude. Sinto que ele não gosta da minha irmã. Ele perto dela não fica feliz.
Meu outro cunhado quer que eu me arrume, que saia bem vestida.
Pergunto sobre os namorados e possíveis relacionamentos sexuais
Mari se desconcerta e pergunta se precisa responder.
Digo para que ela fique a vontade e quando penso em fundamentar minha pergunta Mari dispara e fala:
Transei apenas uma vez, com um namorado que tive durante dois anos.
Foi ruim. Quase nem percebi direito. Me desiludi. Acho que era noivo em outro lugar. Ele foi embora pra casar.Tenho medo do meu pai saber e se desiludir também. Tudo isso deve ser bobeira minha. ( Sorriso da Monalisa)
Interrompo
Retorna e após os cumprimentos rapidamente se deita e diz:
Tenho medo de ser usada e jogada fora. Sinto falta de não ter tido um filho. Fico muito pensativa.Tenho medo de engravidar e ficar sozinha.
O pai disse que se eu engravidar tenho que sair de casa.
Todos os meus irmãos casaram com o primeiro namorado.
A mais velha namorou sete anos, a segunda também.
Interrompo
Mari retorna dizendo já na ante-sala que arrumou um namorado.
Ele é motorista comprou uma moto, falou que é só amizade, mas não é.
Ele é pastor de uma igreja evangélica e quer que eu mude de religião.
Me trouxe um monte de livros evangélicos , sabonetes e mel
(falou sem tremer). Começou a querer só beijar, mas tenho medo do que os vizinhos vão falar. Longa pausa. Quero fazer alguma coisa,pois ainda nunca fiz nada. Pausa. Morro de medo de cachorro.
Interrompo
Retorna somente após 15 dias, faltando em 2 sessões.
Já to dando coragem de sair de casa e tenho ido ao mercado lá em cima. Sou moça de igreja, mas quando vou lá tenho vontade de chorar, mas falo com o pastor. Ele vai lá em casa, mas eu soube que ele é casado e tudo mais.

Discussão
Incluo o caso em efeitos terapêuticos breves em relação aos tremores de Mari e de sua possibilidade em sair de casa.
Seu atendimento durou cerca de três meses e acredito que ela tenha se beneficiado ,pois não utiliza mais medicações, e aparenta estar menos angustiada. Consegue sair de casa e dirigir-se ao supermercado ( Que é lá em cima).

Aponto o caso Elisabeth do Dr Freud onde esta também é apaixonada pelo cunhado e cortejo algumas semelhanças com o caso de Mari

Caso Elisabeth
Natural da Hungria é atendida em 1892, onde não utilizando a hipnose Freud aperfeiçoou uma técnica de concentração e chamou o método de análise psíquica, o que o levou mais tarde a dizer que Elizabeth fora a primeira mulher a ser tratada e curada pela psicanálise.
Estudou a rebeldia para falar e o mecanismo de esquecimento voluntário.

(Resistência)
A dor e o gozo- grave doença e morte do pai- A belle indifference- Expressão facial não se ajusta ás dores- Aceitação imediata do método psicanalítico após algumas explicações- Parece que guardava um segredo- isolamento social- Queixa contra o cunhado- Um segundo cunhado educado- reclusão quase completa- A dor se esgota pela fala- Alguns encontros com namorados- Mecanismo de conversão com a finalidade de defesa- tremores participavam da conversa durante as sessões de analise ( durante a influência da lembrança)- utilização dos tremores como bússola para minha orientação.

No caso Mari os tremores se intensificavam de tal forma que era necessário o estimulo a novas lembranças para que um verdadeiro pânico não a acometesse. Eu percebia que os tremores voltavam lentamente e que sua voz ficava mais e mais baixa na medida em que nos aproximávamos de suas fantasias com o cunhado.
Parece incrível que Mari mesmo com seu bom nível cultural e intelectual não se apercebesse ou não conseguisse se aperceber do seu próprio discurso.Tive que resistir inúmeras vezes à tentação de decifrar-lhe rapidamente seu segredo, porem sabia que se o fizesse talvez jamais alguém conseguiria alcançar a verdadeira Mari dos tremores e temores.
No curso da analise oscilações de melhora espontânea. Encorajamento para que saísse de casa – ( no caso Mari para que fosse ao Supermercado)-
Desejo de ser feliz como a irmã.
Freud aqui refere uma paralisia baseada na simbolização ( resultado terapêutico baseado ainda em uma analise incompleta).
Sentia pelo cunhado uma “ternura” cuja aceitação na consciência depara com a resistência de todo o seu ser moral.- uma conversão bem sucedida- Representações relativas ao seu amor separados do seu conhecimento.
Freud conversa com a mãe da paciente.
Teoria conversiva da histérica: Recalque de uma idéia erótica fora da consciência e transformação da carga de seu afeto em sensações físicas.
Evidencia a necessidade do amor de um homem.
Sobre a Resistência e a transferência Freud refere: “Acabei encontrando uma saída para todas essas duvidas através do plano de tratar todas as outras neuroses em questão da mesma forma que a histeria. A etiologia das neuroses deve ser buscada em fatores sexuais”.
Quanto ao exposto do aparente não saber Freud cita: “O não saber” do paciente histérico seria, de fato um “ não querer saber”- um não querer que poderia, em maior ou menor medida, “ser consciente”.
“A tarefa do terapeuta esta em superar através do seu trabalho psíquico esta resistência à associação”.
“Ao que parece é por meio do recalcamento que a idéia se transforma na causa dos sintomas mordidos, torna-se patogênica.

No caso Mari
Qual é o sintoma = Intenso tremor. Fobia socialQue tipo de sintoma = InibiçãoQual o sintoma analítico= Medo do que os outros irão falar dela.Amor pelo cunhado. História familiar. RelatadaQual a queixa: Não consigo parar de tremer (sic)Qual a fixação (onde fixou): Patologia do PaiQual a fantasia: Transar com o cunhadoGanho secundário: Gozo perverso em sua relação com a irmã.Qual a estrutura: HistéricaTraços:Fóbicos e perversos
Qual é o caso do caso clinico: Paciente com estrutura histérica apresentando traços de fobia e perversos. Histérica na busca de um Mestre.

Algumas citações em Lacan sobre a histeria.
Em Lacan cito o Seminário 17 O avesso da psicanálise onde desde a produção dos quatro discursos ilustra o discurso da histérica como no Capitulo II em O Mestre e a Histérica.
“Um saber que não se sabe .A histerização do discurso. O saber e a verdade. O semi-dizer. Enigma, citação e interpretação. Aqui enuncia com matemas os quatro discursos. Cito o Capitulo III, sobre o Gozo, onde Lacan insiste : A linguagem é a condição do Ics; seguimos para a pág 40, em A posição do analista que é feita substancialmente do objeto a. Pág 41 – No nível do discurso da histérica essa Dominante aparece sob a forma do sintoma. È em torno do sintoma que se situa e se ordena o discurso da histérica. O Analista tem que representar aqui de algum modo, o efeito de rechaço do discurso, ou seja, o objeto a. Pág 43 vem referir-se ao Gozo, articulando com a repetição. Pág 44 cita o Principio do Prazer. Repetição como retorno ao Gozo. O analista parte de uma virada, que é onde o saber se depura, de tudo o que pode criar ambigüidade com um saber natural. Não há certamente nada de parecido. Pág 66 “ O saber é coisa que se diz, que é dita. O saber fala por conta própria- eis o Inconsciente. Pág 69 “Fazer a histérica simbolizar a insatisfação primaria. Pág 82, onde cita o termo Pai 87 com outros matemas sobre a histérica. Pág 111. “A histérica quer um Mestre”.
Segundo Lacan, quando alguém nasce, busca entender o que ele é, e acaba por se espelhar nos outros o estágio do espelho), e essa é uma imagem falsa, pois ele só vê uma cópia dos outros, e não o "eu". Então o indivíduo acaba por perder esse "eu", que é inato e não socialmente constituído.As falas do indivíduo exprimem vários significantes, mas estes acabam por não atingir nenhum significado, na medida em que a estrutura (o eu) é inatingível. Logo, sua individualidade é determinada por uma forma vazia e, para Lacan, impossível de se conhecer. Logo o significante remete a outros significantes.O signo é arbitrário, o conceito não é criado a partir da coisa, mas sim determina o que é a coisa, logo, nada é explicável empiricamente.Vivemos no plano da fala, aonde o conteúdo é inatingível (plano do simbólico), as imagens (falsas) que temos sobre nós e os outros são o plano do imaginário, e o Plano do Real é inatingível (estrutura).Mesmo se chegássemos ao conhecimento de uma dada estrutura, só conheceríamos a forma dessa, e nunca o conteúdo.
Lacan introduziu a questão do desejo que tinha sido escamoteada por Freud como figura clínica principal. O desejo como preenchimento de um vazio estrutural. Portanto a estrutura não é inatingível mas incontornável. O vazio esse sim é passível de sucessivos e intermináveis preenchimentos, sendo esta a questão fulcral da permanente crise do ser humano.A psicanálise lacaniana visa à auto-experienciação pela vivência da travessia, no processo de análise, dos fantasmas que estruturam as existências individuais. Lacan introduziu a heterogeneidade no processo analítico contra uma uniformidade e pseudo-previsibilidade a que os post-freudianos conduziram a clínica psicanalítica.
Lacan foi o grande pensador da psicanálise francesa do século XX. A partir de alguns novos instrumentos dos pensares contemporâneos (Antropologia, Lingüística, Topologia e, indiscutivelmente, as filosofias de Hegel, Kojève e Heidegger), ele elaborou uma série de densas questões para a psicanálise, com o mote "retorno a Freud". Para Lacan, o psiquismo inconsciente se estrutura como linguagem. A Linguagem se estabelece à moda de Saussure, ou seja, como conjunto de significantes e significados, de modo uno e indivisível, pois determinados em união (reunião diria Heidegger, Versammlung). Os significantes são letras indivisíveis e suas diferenças se marcam por sua inscrição numa cadeia unitária (de significantes), único lugar no qual se distinguem. Assim sendo, é preciso que o significante (pois se trata de UM) se destitua de suas características sensíveis, pois ele só existe a partir do Outro da linguagem e só se relaciona com outros significantes.
O que organiza tal Outro é um centro, que contém ou deveria conter sua Verdade Única. Lacan postula que tal centro é A Falta e que os indivíduos só se constituem como sujeitos a partir de sua determinação. Ou seja, o sujeito está remetido ao centro mas ele não o tem; os sujeitos são devedores permanentes da Falta (a ela assujeitados) que os constitui.
Quanto às representações e idéias, as que não se reconhecem em tal centramento simbólico constituído pela Falta, são imaginárias. Ser simbolicamente é saber (e por aí temos grave questão: como seria tal saber inconsciente?) de sua constituição ec-cêntrica, pois a cadeia dos significantes insiste sobre sua própria organização. Ao mesmo tempo, sendo a Linguagem e sendo por ela pensado, o Simbólico reconhece a Falta que constitui as subjetividades, mas que lhes é exterior: tal seria a Lei de O Desejo.
Portanto, a letra só pode ter caráter unitário, e sua Lei ordenadora é o retorno à cadeia dos significantes, único lugar no qual ela faz sentido. O sujeito depende da letra, que é seu "elementar". Para Lacan, a letra sempre chega à sua destinação, porque os significantes têm uma Lei única (e, consequentemente, uma única memória, a posteriori, nachträglich) de sua constituição. Na obra lacaniana, a letra retorna sempre e tem um único destino, determinado pela cadeia significante.
É claro que um criador como Lacan não é dogmático. Ao longo de seu pensar vamos aprendendo acontecimentos desejantes que não se determinam unicamente pelo significante. Num exemplo importante, a noção de gozo, que diz respeito à Unheimlichkeit, ao não-familiar/familiar, doméstico/indomesticado, aí onde o sujeito não mais se remete ao Outro que o constitui desejantemente, mas imediatamente à coisa faltante (das Ding). Nesta extimidade (Lacan) se reúnem o mais estranho e ao mesmo tempo o mais íntimo; onde a cadeia significante não dá mais conta da subjetividade e vigora o mais elevado gozo. No gozo, há uma insistência de recusa do Nome do Pai, que é o que articula a cadeia significante e O Desejo.
Percorro no texto de Freud frases e trechos, onde evidencia-se as dificuldades para se descrever os sintomas da histeria, bem como onde existe mais de um diagnostico.
Procuro sintomas parecidos com os tremores e suas discussões.
Marco frases para discussão.
Textos de Freud
Por ‘transferência‘ quer-se dizer uma peculiaridade marcante dos neuróticos. Eles desenvolvem para com seu médico, relações emocionais, tanto de caráter afetuoso como hostil, que não se baseiam na situação real, mas que derivam de suas relações com os pais (o complexo de Édipo). A transferência é uma prova do fato de que os adultos não superaram sua antiga dependência infantil; ela coincide com a força que foi designada como ‘sugestão’; e é somente aprendendo a fazer uso dela que o médico fica capacitado a induzir o paciente a superar suas resistências internas e a eliminar suas repressões. Dessa forma, o tratamento analítico atua como uma segunda educação do adulto, como um corretivo da sua educação enquanto criança.
Dentro desse estreito âmbito foi impossível mencionar muitos assuntos do maior interesse,tais como a ‘sublimação‘ dos instintos, o papel desempenhado pelo simbolismo, o problema da ‘ambivalência‘ etc. Nem houve espaço para aludir às aplicações da psicanálise - originadas, como vimos, na esfera da medicina - a outros setores do conhecimento (como a antropologia social, o estudo da religião, a história literária e a educação), onde sua influência vem constantemente aumentando. Basta dizer que a psicanálise, em seu caráter da psicologia dos atos mentais inconscientes mais profundos, promete tornar-se o elo entre a psiquiatria e todos aqueles outros ramos da ciência mental.
Descrição dos sintomas pelo Dr Freud
As contraturas musculares são muito freqüentes.As característica das contraturas é de serem exageradas- uma contratura histérica causa a maior retração de que um músculo é capaz.
Uma outra característica muito importante dos distúrbios histéricos é que estes de modo algum representam uma cópia das condições anatômicas do sistema nervoso. Pode-se dizer que a histeria é tão ignorante da ciência da estrutura do sistema nervoso como nós o somos antes de tê-la aprendido. Os sintomas de afecções orgânicas, como se sabe, refletem a anatomia do órgão central e são as fontes mais fidedignas de nosso conhecimento a respeito dele.Por essa razão, temos de descartar a idéia de que na origem da histeria esteja situada alguma possível doença orgânica.
Uma psicose, no sentido psiquiátrico do termo, não faz parte da histeria, ainda que possa desenvolver-se sobre a base do estado histérico, nesse caso devendo ser considerada uma complicação.

SINOPSES DOS ESCRITOS CIENTÍFICOS DO Dr. SIGM. FREUD 1877-XXIV
“Sobre o mecanismo psíquico dos fenômenos histéricos.”(Comunicação preliminar em colaboração com o Dr. J. Breuer.) 1893a.. As lembranças reveladas como “patogênicas”,como as raízes dos sintomas histéricos, são sistematicamente “inconscientes” para o paciente. Parece que, por permanecerem inconscientes, elas escapam ao processo de desgaste a que o material psíquico é normalmente submetido. Esse tipo de desgaste é promovido pelo método da “ab-reação”. As lembranças patogênicas evitam ser tratadas pela ab-reação, seja porque as experiências correlatas ocorreram em estados psíquicos especiais a que as pessoas histéricas são intrinsecamente propensas, seja porque tais experiências foram acompanhadas por um afeto que acarreta um estado psíquico especial nas pessoas histéricas. Conseqüentemente, uma tendência à “divisão (splitting) da consciência” é o fenômeno psíquico básico nos casos de histeria.

Citamos :Da Palavra ao gesto do Analista Dr Jorge Forbes refere, segundo Lacan, a respeito da vacilação calculada da neutralidade.
È necessário que o analista suporte este saber fazer.Publicar é preciso
Termino com a frase provocativa: O que Mari quer de mim ?

Referencias bibliográficas
Obras do Dr Freud sobre a HisteriaSeminário 17 J. LacanDa Palavra ao gesto do analista
Dr Jorge. Forbes

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