quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

FIM DE ANO: palavras para refletir...

por Débora Laks*

Dezembro marca o encerramento do ano e o planejamento do que está por vir. Tempo de expectativas e decepções; intenso movimento e alguns intervalos para reflexão. O fato é que o fim de ano significa término e começo; etapas estas enfrentadas com dificuldade, visto que afloram emoções ambíguas.O final conduz a um balanço interno no qual, geralmente, respeitando as singularidades, verifica-se um saldo positivo, de satisfação; mas também um resultado negativo, que impõe a difícil tarefa de suportar as frustrações. Já o começo funda esperanças e novas metas. Resta, então, a incerteza: seremos capazes, neste novo ano, de alcançar nossos desejos?O imaginário popular retrata esta época de tantos sentimentos através de letras de música. Sublime criatividade coletiva que abrange em versos e melodias aquilo que está implícito na vivência. É hábito para muitos se despedirem do ano que termina com a música Fim de Ano, de autoria de Francisco Alves e David Nasser: "Adeus ano velho, feliz Ano-Novo, que tudo se realize no ano que vai nascer...". Também cabe lembrar os ditados populares, perpetuados através dos tempos e sempre atuais: "Quem canta seus males espanta".Percebe-se que este período inspira ditados populares, letras de músicas e, enfim, palavras! O que seria dos relacionamentos sem elas?Freud, o "pai" da psicanálise, em sua obra Conferências Introdutórias sobre Psicanálise, escrita por volta de 1915, faz referência às palavras para defender o método de tratamento que propôs. Argumenta: "Por meio de palavras uma pessoa pode tornar outra jubilosamente feliz ou levá-la ao desespero... Palavras suscitam afetos e são, de modo geral, o meio de mútua influência entre os homens".Diariamente comprovo como psicoterapeuta o fascínio que as expressões causam. No consultório, os estados psicológicos dos pacientes são revelados pelas palavras, e advém delas a possibilidade de intercâmbio nas relações, sejam elas cotidianas ou de terapeuta-paciente. Ao perceber que alguém está tentando compreendê-lo, o indivíduo tem, na maioria das vezes, sua aflição amenizada. O ser humano tende a progredir se relacionando, pois assim articula o que se passa em seu interior.Nesse contexto, a relação mãe-bebê é lembrada como simbolismo do começo da vida. É através dela que se desenvolve o ser humano e o seu potencial para futuras relações, sinalizando o futuro da humanidade.Ora, se as palavras são tão valiosas, talvez possam fazer parte de algumas das transformações tão sonhadas para o novo ano. Que, ao serem pronunciadas, elas transpareçam o mais profundo de cada pessoa! Se as conversas forem imbuídas de sinceridade e consciência, justamente será introduzido no "mundo" do outro o que era só "meu". Recorrendo outra vez às composições, cito Raul Seixas, com o arranjo Prelúdio: "Sonho que se sonha só, é só um sonho que se sonha só, mas sonho que se sonha junto é realidade".




*Psicóloga

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