sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Outrem e liberdade

A comunicação na ideia ou a ação coletiva são de uma ordem completamente diferente da "proximidade absoluta entre o meu 'mim mesmo' e o do outro, em que nenhuma substituição é mais possível" (p.308)."Não posso me tornar eu mesmo sem entrar em comunicação, e não posso entrar em comunicação sem ser solitário" (p.313-314). O Eu sem comunicação não seria mais que ESCOAMENTO FRÁGIL, DESLOCAMENTO CAÓTICO ou BLOQUEIO VAZIO e IMÓVEL. Solidão e união significam igualmente uma certa dureza do Si e uma distância sempre a desaparecer e a renascer. A comunicação só rompe a solidão ao possibilitar, precisamente a partir daí, uma nova e possivelmente mais original RELAÇÃO.
É no esforço que faz a existência para atingir a certeza de ser ela mesma que se introduz mais insidiosamente a possibilidade do desespero. Querer ser livre para si só é cair numa das duas formas de desespero analisadas por Kierkegaard: querer desesperadamente ser si-mesmo, ou querer desesperadamente não ser si-mesmo. Na ideia do combate como situação-limite, como Agon espiritual (p.446), aparece também o combate sem violência, "o combate pela existência do amor" (p.453), que é questionamento de si e do outro sobre o fundamento de uma solidariedade invisível sem a qual não há existência virtual alguma. Só a liberdade, fonte de todo esclarecimento da existência, engajada nesse combate que só se sustenta por ele mesmo, e que, sem fundamento nem justificação conceitual, ajuda a "superar o desespero das situações-limite"(p.480), a não se obstinar no fechamento e na angústia.


Do livro: EXISTENCIALISMO, de Jacques Colette

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