quarta-feira, 30 de abril de 2008

APENAS CINCO SEGUNDOS


Cinco segundos. Talvez menos que isto. Foi o tempo que levei para viver uma experiência que, de tão negativa e desastrosa custou-me vários dias de reflexão e arrependimento. Dessas idiotices que fazemos por nos perceber mais espertos que a média, mais rápidos ou mais estrategistas que os tristemente definidos como medianos, outros, comuns.

Na realidade, seria apenas uma pequena manobra, em um trânsito fácil, lento, próximo ao de uma cidadela do interior. O carro dirigido por mim tinha força suficiente para executá-la a contento, antes mesmo de oferecer qualquer perigo. Foi o que pensei, ao consultar o espelho retrovisor, sem atentar para o veículo que já entrava atrás do meu, no sentido transversal.

Uma batida forte, rápida e, graças à Providência Divina, sem nenhum dano à integridade dos motoristas envolvidos. No outro carro, uma mulher aflita, atônita, desesperada por outros graves motivos, aos quais viria a agregar-se esse novo, por mim criado. Estava em diligência assustada, angustiada pelo filho que se achava atrás das grades. Com o marido trabalhando em outro Estado e a filha estudando naquele período da manhã, a jovem senhora encontrava-se sozinha para funcionar ao mesmo tempo como chefe de família, dona de casa, assistente de defesa, motorista e ainda fazer vezes de estagiária de advocacia.

- Moço, me ajude, por favor!- disse aterrorizada. - Não me abandone aqui! Não vá embora! Eu fiz tudo certinho. Esperei o senhor passar. Juro que não foi culpa minha! Lágrimas caudalosas jorravam de seus olhos, enquanto produzia frases entrecortadas pelas golfadas de ar que buscavam o seu peito.Pedi perdão, reconheci meu erro, assumi a responsabilidade pelo acidente. Queria, sabe Deus o quanto, nunca estar vivendo aquela situação, aquele momento estanque, aqueles lapsos aflitivos de um acidente causado por minha imprudência.

Tirei-a do carro, liguei para a polícia e solicitei entre os curiosos ao redor, alguém que providenciasse um pouco de água para a mulher agitada.Depois de tudo resolvido, já mais calma e confiante, ela me explicou um pouco de seu sofrimento e da impossibilidade de estar parada ali naquele momento, com tantas providências para tomar. Compreendeu com a minha explicação que nenhum de nós gostaria de viver aquilo, embora fosse uma contingência possível aos que dirigem, aos que vivem. Viver sem sobressaltos eventuais só é possível àqueles que não se movem, que mal respiram, que não saem nunca do mesmo lugar.

Há que se ter mais cuidado, mais prudência. Um segundo olhar mais atento pode prevenir uma tragédia. Uma segunda reflexão pode evitar uma precipitação apaixonada e infeliz. O outro lado da face agredida, ao ser oferecido pela vítima, conforme o ensino de Cristo nos dará tempo para pensar antes de agir, antes de gerar um desfecho pior que o agravo recebido.

Cinco segundos. Quiçá, menos que cinco. Mas, tempo suficiente para alterar todo aquele dia, toda aquela semana e, ainda hoje, vários dias depois, me fazer pensar que tudo poderia ser evitado, se tão somente eu o tivesse gasto no essencial: pensar antes de agir.

Um comentário:

Iara disse...

mto legal esse texto, e tbm mto verdadeiro.
o que é mais 1 minuto de atraso comparado com a vida de outra pessoa.
ja disse tudo no texto, pensar de novo, refletir.