quinta-feira, 1 de maio de 2008

O TIRO QUE SAIU PELA CULATRA!

Dizem por aí que a curiosidade mata. Nem sempre. Mas pode assustar. E como! Foi no sábado de manhã, no centro da cidade, onde eu procurava um cartãozinho para a Jacqueline. Não queria deixar seu aniversário passar em branco.
Gosto da língua inglesa. Acho sonora, suave e gostosa de falar. Sendo assim, saio lendo tudo o que consigo em inglês e que se coloque em minha frente. Nomes de lojas, bandas de rock, cartazes de shows, camisetas. Tento decifrar expressões idiomáticas, que são super interessantes e por aí vai. Até em meu próprio nome dei um jeito de encontrar uma expressão idiomática inglesa: All is on (está tudo em cima, ou, está tudo bem comigo!).
Ele vinha em sentido contrário. Gordo, feio, com óculos de grau do tipo fundo de garrafa. No começo não notei sua aparência, por estar concentrado, num daqueles lapsos de pensamento, no que estava escrito em sua camiseta que parecia um outdoor em função daquele “corpitcho”: I’m waiting for a girl like you*.
Com o susto que levei, ergui rapidamente os olhos a tempo de observá-lo, com um sorriso sem graça, de alguém que fora pego fazendo alguma travessura. Não falei, mas pensei imediatamente: “Tô Fora!”. Foi tudo em fração de segundos. Explodimos numa gostosa gargalhada no meio da rua. Ainda avancei umas duas quadras, rindo muito daquela piada pronta.
Tenho certeza que o plano do bonitão, ao colocar aquela camiseta, nem passava perto de uma possibilidade desastrosa dessas; um negão que sabia ler em inglês! Assim, a maioria dos planos que fazemos não considera as variáveis absolutamente possíveis de alguma coisa não dar certo.
Famoso jogador de futebol, Mané Garrincha se notabilizou por uma pergunta simples, inocente e sem malícia que fez, antes de um dos jogos da seleção brasileira. Depois de seu técnico mostrar à equipe sua estratégia de jogo, ao notar todos os movimentos fantásticos que lhe foi exigido, Garrincha perguntou: “mas o senhor já combinou com os adversários?”. Para fazer tudo o que o técnico queria, o jogador percebeu ser possível apenas se o time adversário ficasse plantado em campo, sem esboçar qualquer reação de defesa.
Colocar-se na posição do outro é um dos melhores exercícios que poderíamos fazer para evitar maiores constrangimentos. As coisas não são lineares, previsíveis e tranqüilas o tempo todo. Até um elogio que se pretende pode virar uma agressão. Uma conversa banal e irrelevante pode terminar em discussão e uma saída rapidinha para comprar um pão pode terminar em um boletim de ocorrência de uma delegacia da cidade.
O bom da vida é justamente essa aleatoriedade, esse formidável e desconhecido minuto seguinte. Nunca sabemos o que vem pela frente e é justamente isto que faz o nosso dia a dia emocionante. E quanto ao rapaz da camiseta? Continua esperando...


*tradução: “Estou esperando por uma garota parecida com você”. É ruim, hein?

Nenhum comentário: